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quinta-feira, março 28, 2024

Os descendentes de migrantes e seus desafios na integração

Xenofobia, discriminação e questões de pertencimento são algumas das barreiras enfrentadas pelos filhos de migrantes mundo afora

Por Debora Draghi
De Curitiba (PR)
Atualizado em 15/09/18, às 18h20

Embora, no geral, a concepção seja de que aqueles que migram por primeiro sempre passam por maiores dificuldades, há de ser levado em conta que seus descendentes, quando nascidos no país de destino escolhido por seus genitores, também tem problemas relacionados à migração. Seus descendentes diretos também são alvo de xenofobia e discriminação, e passam por situações diferentes de seus pais, como o sentimento de pertencimento, por exemplo, que está diretamente relacionado à integração.

Na Academia, um termo bastante usado para descrever esse grupo é o de “segunda geração de imigrantes”. No entanto, é necessária uma importante ressalva: o termo em si carrega uma conotação negativa e traz uma série de problemas, já que os descendentes de pais emigrados não são migrantes – mas sim, nacionais do país onde nasceram.

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Deve-se considerar que também há diferenças “intra grupo”, como a educação dos pais e o motivo que os levou a migrar e o background sócio-econômico. Usualmente os descendentes de migrantes passam por uma “assimilação seletiva”, assimilando apenas certos elementos e mantendo ao mesmo tempo uma forte orientação para a comunidade co-étnica, que protege contra a discriminação e dispõe de recursos. Quem tem pais que nasceram em outro país também passa por uma interação entre estrutura e cultura, como por exemplo, uma pressão para se adequar aos valores da família ou comunidade.

Migrante aluno do projeto Trilhas da Cidadania, que existiu entre 2012 e 2015 e ensinava português para refugiados.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo – out.2014No entanto, os níveis de tolerância e condições estruturais mudaram desde a década de 80 em países considerados receptores. Assim, a segunda geração de hoje enfrenta desafios diferentes daqueles de décadas atrás. A educação geralmente aumenta de uma geração para outra, mas varia de acordo com grupos étnicos. Dentre os fatores que explicam isso, pode-se apontar:

– Exclusão social e econômica, como origens da classe trabalhadora, frequentando escolas com um elevado número de crianças;
– Discriminação na educação – seja para habilidades de linguagem ou características étnicas / raciais;
– Coesão e valores étnicos – o respeito pelas aspirações e expectativas dos pais pode encorajar ou desencorajar a educação e,
– O papel de apoio dos membros da família – ter irmãos mais velhos que podem ajudar na educação, mesmo se os pais tiverem baixos níveis de escolaridade.

No caso da Europa, por exemplo, é comum ver que, apesar dos descendentes de migrantes terem acesso à educação de qualidade, nem sempre consegue ter o mesmo sucesso no mercado de trabalho. Quando conseguem um trabalho, é menos provável que assegurem empregos proporcionais ao nível educacional. As tendências não são muito positivas quando se olha para os níveis de desemprego, salários e diferenças entre qualificações e status de trabalho. Evidências empíricas mostram que os descendentes alcançam melhores níveis socioeconômicos do que seus pais e novos imigrantes, mas pior do que colegas que possuem genitores do país receptor. Desse modo, tais herdeiros, muitas vezes, acabam ficando para trás.

Alguns dos fatores que contribuem para isso são oportunidades e expectativas econômicas, já que os descendentes não tem o mesmo conhecimento e know how que seus pais ou não estão dispostos a fazer trabalhos que seus pais fizeram. Um outro motivo seria a coesão étnica, visto que o capital social em comunidades étnicas pode não se traduzir em apoio em contextos mais individualistas. E por fim, pode-se mencionar a discriminação no local de trabalho – racial, étnica, religiosa e sexual, que impede uma integração laboral maior. Ainda assim, o tamanho da comunidade migrante afeta positivamente a incorporação no trabalho, ocorrendo então um efeito positivo do apoio étnico.

Desse modo, com a exclusão, é muito comum ver migrantes empreendedores, que devido à discriminação no mercado de trabalho, decidem trabalhar por conta própria. Esses trabalhadores autônomos comumente empregam membros da família ou da mesma etnia como forma de baixar o custo de trabalho.

Há expectativas na comunidade receptora de que a primeira geração levaria à assimilação de seus descendentes na sociedade e na economia. No entanto, mudanças econômicas mudaram o mercado de trabalho, reduzindo oportunidades para os filhos dos que migraram e havendo uma necessidade maior de níveis de educação superior. Assim sendo, há uma variação na integração na sociedade e no mercado de trabalho de acordo com as condições do país de destino, da sociedade de acolhimento e nas características dos migrantes.

Nota: este texto foi originalmente publicado como “A segunda geração de migrantes e seus desafios na integração” e, a exemplo de outros textos do MigraMundo, tem como intenção elucidar sobre o tema, que ainda não tinha sido abordado diretamente pelo portal.

No entanto, apesar do tema ser amplamente utilizado na Academia para fins esclarecedores (principalmente no que diz respeito à integração), o termo “segunda geração de imigrantes foi descartado – a partir de críticas construtivas de leitores e debate interno – por ter uma conotação preconceituosa e excludente. Por isso, o texto foi atualizado à luz dessas ponderações.

O MigraMundo agradece o feedback de seu público, permitindo um aprendizado mútuo e que visa colaborar para novos olhares sobre as migrações, sempre partindo do ponto de vista da migração como um fenômeno humano.

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