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quinta-feira, abril 18, 2024

Congoleses reforçam Black Lives Matter com ato em SP e chamam atenção contra genocídio no país natal

Ato reuniu dezenas de congoleses, que enfrentaram o sol forte para denunciar a realidade vivida pelo país de origem com performances artísticas e manifesto

Por Alex André Vargem*
Leia também em francês

“Precisamos mostrar ao mundo e aos brasileiros o que acontece na República Democrática do Congo. Já são mais de 6 milhões de mortes em 20 anos. Chega de genocídio! A Paz é fundamental!”, frisa o ativista congolês Prosper Dinganga, do coletivo A Voz do Congo. Ele foi o organizador de um ato que lembrou essa realidade ainda pouco conhecida e que ocorreu no último domingo (6) no Largo da Batata, em São Paulo.

Mesmo com forte sol ao longo da tarde, um grupo de mais de 80 congoleses residentes na cidade de São Paulo participou do ato de solidariedade em relação a situação política e social no país de origem. Alguns brasileiros e nacionais de outros países também deram seu apoio – como Angola, Bolívia, Senegal, Nigéria e Peru.

O evento foi realizado no Largo da Batata, zona oeste da cidade, tradicional espaço no qual movimentos sociais realizam suas atividades. Por conta da pandemia da Covid-19, medidas de segurança foram tomadas pelos organizadores – máscaras de proteção e álcool gel eram ofertados aos participantes com a constante recomendação de distanciamento.  Todos estavam com camisetas pretas em sinal de luto, com dizeres sobre a situação do país.

As grandes representações congolesas que moram em São Paulo marcaram presença. Pitchou Luambo, Prudence Kalambay, Sylvie Mutiene, Hortense Mbuyi e Claudine Shindany.
(Foto: Alex Vargem)

“O Custo do Silêncio”

O ato, denominado “O custo do silêncio”, denunciou em português, francês e Lingala (uma das línguas faladas na República Democrática do Congo) as frequentes violações que ocorrem há décadas no país.

“Nós, congoleses residentes no Brasil, estamos aqui hoje para relembrar e homenagear as mais de 6 milhões de pessoas que foram mortas e milhões de congoleses tornaram-se vítimas de violação sistemática, mutilação e outras formas de violência que lhes foram infligidas. Embora a guerra tenha oficialmente terminado em 2003, os congoleses continuam a ser mortos, raptados e violados por milícias no Leste do Congo. Estamos aqui para dar visibilidade ao que acontece em nosso país”, diz um trecho do manifesto lido durante o evento.

Prosper Dinganga, do coletivo A Voz do Congo, em sua fala de agradecimento a presença dos ativistas no ato. (Foto: Alex Vargem)

Um dos pontos tocantes da manifestação foi a performance do artista congolês Shambuyi Wetu, retratando o sangue derramado, a violência e a exploração de minérios, entre os quais, o Coltan e Cobalto, utilizado para a fabricação de celulares e aparelhos eletrônicos, que estavam expostos tanto no asfalto como no corpo do artista em meio ao sangue.

O artista Shambuyi Wetu. (Foto: Alex Vargem)

Outro artista retratava as injustiças com as mortes. Ele estava com uma bandeira da República Democrática do Congo que cobria o seu rosto, vestido com uma beca de advogado, e segurava o Mapping Rapport. O relatório, elaborado pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU e lançado em 2010 (acesse aqui), evidencia as mortes e os mais de 600 focos de conflitos entre 1993 e 2003.

Artista congolês faz performance com uma bandeira no rosto, beca de advogado e relatório da ONU sobre violações e conflitos na República Democrática do Congo.
(Foto: Alex Vargem)

Participação feminina

Um dos destaques foi a denúncia em relação aos estupros sistemáticos utilizados como arma de guerra, “Não podemos nos calar diante desta guerra, estão matando e estuprando na parte leste do meu país, há muitas crianças órfãs, isso é inaceitável”, aponta a modelo e ativista de direitos humanos Prudence Kalambay.

“O mundo deve saber o que se passa lá, a justiça internacional, as organizações supranacionais e o Brasil tem que ter uma posição. Muitos morrem nesta guerra, inclusive mulheres. São perdas de milhões de vidas. Há um genocídio em minha terra”, acrescentou a advogada Hortense Mbuyi.

A jornalista Claudine Shindany denunciou as violações contra as mulheres e também fez uma interpretação de como a violência propagada em algumas regiões do país produz danos as famílias.

Pitchou Luambo, Hortense Mbuyi e Prudence Kalambay, fizeram falas importantes no ato. (Foto: Alex Vargem)

Referência a Black Lives Matter

“Todos os dias acontece alguma coisa no meu país que está em guerra. Quem é o culpado de tudo isso? Fazemos o ato aqui para trazer a informação para todo o mundo”, indaga o advogado e chefe de cozinha, Pitchou Luambo.

Congoleses cantam o hino nacional e pedem justiça e o fim do genocídio. Claudine Shindany inicia o canto de justiça, entoado por todas e todos os presentes. (Foto: Alex Vargem)

Já o médico congolês Junior Kakiesa, leu um documento com pontos importantes sobre as consequências da colonização europeia no continente, o histórico do conflito e o deslocamento forçado que resulta em fluxo massivo de refugiados congoleses pelo mundo.

Ao final, os ativistas fizeram reverências ao movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), todos ajoelhados e com punhos levantados, fizeram 1 minuto de silêncio em homenagem às milhões de vítimas do conflito em seu país de origem. Todos cantaram em francês o hino nacional e entoaram sucessivos cantos pedindo justiça.

Black Lives Matter: Congoleses e a homenagem aos milhões de mortos na República Democrática do Congo. (Foto: Alex Vargem)

* Alex Vargem é doutorando em Ciências Sociais pela Unicamp, membro da Cátedra Sérgio Vieira de Mello – Unicamp, com mais de 18 anos de trabalho social junto a diversos grupos africanos no Brasil.


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