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quinta-feira, abril 18, 2024

Maior campo de refugiados do mundo, Daddab vive sob ameaça de fechamento

“Um campo, meio milhão de refugiados, incontáveis histórias”. Essa mensagem, em inglês, é a primeira coisa que se lê ao acessar o site Daddab Stories, sobre aquele que é o maior campo de refugiados em operação no mundo atualmente.

Estimativas de agências humanitárias oficiais estimam um número menor, entre 350 mil e 400 mil o total de habitantes em Daddab, localizado no leste do Quênia e próximo à fronteira com a Somália – originalmente ele foi projetado para 90 mil. Mas independente dos números, eles continuam impressionantes e alarmantes ao mesmo tempo.

Daddab é, na verdade, um complexo formado por cinco campos de refugiados, formado pelos somalis que fugiram da Somália em 1991, com a ascensão ao poder do grupo extremista Al Shabaab. A instabilidade no país vizinho, que dura até hoje, é o principal motivo para Daddab continuar existindo e recebendo novos refugiados – cerca de 300 mil dos habitantes do campo são somalis.

Campos de refugiados são, em teoria, assentamentos provisórios e temporários, que seriam desmontados com o final dos conflitos que levaram sua abertura e o retorno de seus ocupantes aos locais de origem. Na prática, os campos são verdadeiras cidades que desenvolvem pequenas economias locais e “se viram” na base do improviso – mesmo com a atuação de organizações humanitárias – e vivem problemas típicos de grandes metrópoles que carecem de planejamento, de superlotação a problemas de abastecimento e infraestrutura.

No portal Daddab Stories é possível conhecer um pouco melhor, por meio dos vídeos e relatos disponíveis, essa contradição entre a “teoria provisória” e “prática permanente” que vive o campo e seus centenas de milhares de habitantes.

Centro de distribuição de alimentos em Ifo, um dos campos do complexo de Daddab. Crédito: Anna Mayumi/Daddab Stories
Centro de distribuição de alimentos em Ifo, um dos campos do complexo de Daddab. Crédito: Anna Mayumi/Daddab Stories

Apenas para efeito de comparação, o Brasil conta atualmente com cerca de 7.000 refugiados vivendo em seu território, segundo dados recentes do Comitê Nacional para Refugiados (Conare). Contrapor essas diferentes realidades é importante para evitar e combater equívocos em geral relacionados à recepção de refugiados pelo país – por exemplo, a objeção vazia de que “o Brasil recebe refugiados demais”.

Ameaças de fechamento

E além das dificuldades vividas por outros campos de refugiados no mundo, Daddab tem ainda uma preocupação adicional: o risco de ser fechado em curto prazo pelo governo do Quênia.

A ameaça mais recente aconteceu em 11 de abril passado, quando o vice-presidente queniano, William Ruto, disse que fecharia o campo de refugiados dentro de três meses. “Nós pedimos ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) para realocar os refugiados em três meses ou nós iremos realocá-los”, afirmou o vice-presidente do Quênia na ocasião.

Era uma reação de Nairóbi aos ataques terroristas do Al Shabbab que poucos dias antes tinham vitimado cerca de 150 universitários na cidade de Garissa. Segundo o governo queniano, Daddab seria um terreno fértil para o grupo obter novos integrantes – embora a maioria dos abrigados no campo sejam justamente pessoas em fuga do Al Shabbab.

O Acnur afirmou que os abrigados em Daddab não podem ser forçados à repatriação e, além disso, que o Quênia tem a obrigação internacional de protegê-los. Já a organização internacional de direitos humanos Human Rights Watch classificou como ilegal o envio de refugiados de volta aos seus países de origem.

Depois das declarações iniciais, no entanto, as autoridades quenianas parecem hoje menos propensas a fecharem o campo. “Enquanto estivermos comprometidos com o retorno dos refugiados, você não vai ver-nos segurando-os pela cabeça e cauda e jogá-los através da fronteira”, disse Ali Bunow Korane, que preside Comissão de Assuntos de Refugiados do Quênia, na última quarta-feira (29), durante fórum com representantes da ONU, da sociedade civil e de agências humanitárias que discutiam as implicações de um possível fechamento das instalações de Daddab.

O recuo, no entanto, ainda está longe de ser motivo para celebrações, porque não é a primeira vez que o Quênia manifesta desejo em fechar o campo. A primeira foi em novembro de 2013, depois que um outro ataque do Al Shabbab matou cerca de 400 pessoas em um shopping de Nairóbi.

Links de interesse:

Daddab Stories – http://www.dadaabstories.org/

Com informações de IRI, Deutsche Welle e Daddab Stories

 

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