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terça-feira, abril 23, 2024

#VidasPretasTambémImportam, mulheres e crianças se destacam na 11ª Marcha dos Imigrantes

Presença desses públicos é mais um indicativo da diversidade do ato deste ano, que levou milhares de imigrantes e brasileiros à mais famosa avenida de São Paulo

Por Amanda Rossa
Em São Paulo (SP)

A 11ª Marcha dos Imigrantes levou cerca de 4.000 pessoas à avenida Paulista, em São Paulo, na tarde do último domingo (03). E a presença em grande número de mulheres, crianças e da comunidade migrante negra pode ser considerado um dos destaques dessa edição.

Frente de Mulheres Imigrantes e Refugiadas marcou presença na Marcha pela quarta vez.
Crédito: Amanda Rossa/MigraMundo

Pela quarta vez na marcha, a Frente de Mulheres Imigrantes e Refugiadas participou novamente nesse ano trazendo a luta pelos direitos das mulheres para o debate sobre migrações. A colombiana Lida Tascon, membro da Equipe de Base Warmis – Convergência das Culturas (um dos coletivos que compõem a Frente), contou ao MigraMundo sobre a importância da participação das mulheres na marcha.

“A Marcha é uma forma das mulheres conseguirem visibilidade nos espaços públicos, onde estão outras pessoas que não são migrantes, como os brasileiros. Para algumas mulheres, é a única forma de visibilidade, de mostrar que existem no Brasil e que tem os mesmos direitos que os nativos.”

A Frente esteve nesse ano acompanhada também do grupo Lakitas Sinchi Warmis, forma de resgate cultural da cultura andina e latino-americana através da música, do qual participam migrantes e também seus descendentes.

A questão das gerações teve destaque nesta edição da marcha, o que se expressou pelo grande número de crianças de diversas nacionalidades. Segundo a edição mais recente (2016) do relatório Global Trends, do ACNUR, as crianças são um terço da população mundial, mas representam 51% das pessoas refugiadas ou deslocadas no mundo. Essa situação encontra reflexos também entre os migrantes, com um grande número de pessoas migrando ainda na infância acompanhando seus pais.

É o caso de Julieta Sirpa, boliviana residente há 2 anos no Brasil, que participou da marcha pela primeira vez e trouxe sua filha de quatro anos para acompanhá-la (o relato, excepcionalmente, foi mantido em espanhol).

Julieta e a filha, que participaram da 11ª Marcha dos Imigrantes.
Crédito: Amanda Rossa/MigraMundo

“La gente viene porque necessita trabajar y conseguir algo mejor, y já que después de alcanzar el proposito que tiene, piensan em voltar…Son muchos beneficios que uno gana sendo inmigrante pero hay también cosas que uno no consigue… La Marcha en primera me parece muy bonita, interessante, es impressionante la cantidad de personas migrantes que hay no solo de Bolivia, pero también de otros paises, Chile y Argentina. Vin con uno proyecto que se llama “Tejendo Suenos” (Tecendo Sonhos) de mujeres empreendedoras e nos han invitado las mismas moças que dan esses cursos, esses talleres. Tengo una hija, tiene 4 anos y ella es boliviana, ha venido acá com dos anos. Parece algo hermoso que ella venga representar, diciendo de que pais es e de onde ha venido.” Mãe e filha, as duas marcharam juntas lutando por mais direitos.

O pequeno Benjamin, de 8 anos, é brasileiro e também acompanhou sua mãe, a peruana Nataly Puente, na Marcha. “O dia de hoje é importante pela Marcha dos Imigrantes. Eu desejo que os imigrantes tenham direitos…” Benjamin falou em nome das crianças na Marcha, e passou a sua mensagem: “Os migrantes passam por trabalho escravo, e tem que esperar muitas horas no hospital, mas principalmente quando chegam e ainda não sabem a língua, muitos se aproveitam..e muitas pessoas são invisíveis para as autoridades”.

“Vidas pretas também importam”

Invisibilidade era o tema da marcha desse ano, que contou com uma série de protestos contra a escravização de migrantes africanos na Líbia. Com cartazes contendo a frase “Vidas pretas também importam”, os migrantes africanos no Brasil fizeram suas reivindicações por uma série de direitos, como documentação, revalidação de diplomas, acesso ao emprego justo e combate ao racismo e xenofobia.

#VidasPretasTambémImportam foi uma das reivindicações da Marcha dos Imigrantes.
Crédito: Amanda Rossa/MigraMundo

Boubou é da Mauritânia e está no Brasil há 10 meses. Foi sua primeira vez, e foi convidado por amigos congoleses. “A gente precisa de documentos, e que o Brasil reconheça nosso pedido de refúgio. Sem o RNE (Registro Nacional de Estrangeiro, o “RG do imigrante” no Brasil) é difícil achar emprego”, contou o jovem de 22 anos que está desempregado e faz cursos de português enquanto aguarda uma oportunidade.

A dificuldade de acesso à documentação foi lembrada também por Hamedou, migrante do Mali que vive no Brasil há 4 anos e participou da marcha pela segunda vez. As violações de direitos sofridas despertaram a necessidade de se mobilizar e criar uma associação.

“A gente tem muito problema aqui, e temos sofrido muito e por isso viemos na Marcha. As vezes se quer  fazer um trabalho, mas exigem documento permanente, porque dizem que o documento de refugiado não vale.  Tem pessoas que não tem documento, tem pessoas que não tem lugar para dormir, e por isso precisamos fazer essa manifestação, para que as autoridades nos vejam e possamos tentar viver bem”, finaliza.

Imigrantes da Mauritânia se somam à Marcha dos Imigrantes.
Crédito: Amanda Rossa/MigraMundo

 

 

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