Discriminados por tantos, vistos com desconfiança por outros, mas lutando pela vida como todos, os bolivianos mais uma vez foram destaque no noticiário por conta das condições precárias em que geralmente vivem em São Paulo e outras regiões do Brasil. Mas desta vez, apesar do fato trágico, pode-se notar algo diferente no ar.
A causa da vez foi o assassinato do menino Brayan Yanarico Capcha, 5, durante assalto à oficina onde a família dele vivia e trabalhava em São Mateus, zona leste de São Paulo, no último dia 28 de junho. A situação na qual se encontravam, infelizmente, é bem comum entre os bolivianos: trabalho em regime análogo à escravidão.
A morte brutal de Brayan, no entanto, serviu como gota d’água para que a comunidade – em geral acuada pelos preconceitos e condições sociais em que vivem – sair às ruas e protestar, talvez até inspirada pela onda recente de manifestações ao redor do país. No último dia 1°, cerca de 3.000 pessoas foram à avenida Paulista depois que um pedido de audiência com os representantes diplomáticos da Bolívia em São Paulo foi recusado. “Sofremos muito problema de assalto, maus-tratos na escola e nos hospitais”, contou a costureira Morena Suazo em entrevista publicada no blog O Estrangeiro. “Estava mais do que na hora de isso acontecer. Queremos que o cônsul renuncie porque ele não faz nada por nós.”
Enquanto nada muda na representação diplomática boliviana, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, convocou na última terça-feira (2) uma reunião extraordinária para discutir medidas de proteção aos estrangeiros que vivem no Brasil. “Queremos dar aos estrangeiros que buscam mais oportunidades no Brasil a possibilidade de ir e vir, assim como de uma vida melhor com proteção máxima, inclusive direitos trabalhistas e cidadania plena”, ressaltou a ministra, em entrevista à Agência Brasil.
Apesar das dificuldades, a comunidade boliviana segue crescendo no Brasil – especialmente em São Paulo, onde ultrapassaram italianos e japoneses e já compõem a segunda maior colônia de estrangeiros, atrás apenas da portuguesa. As cifras oficiais do Censo 2010 apontam cerca de 17 mil pessoas, mas o consulado boliviano estima em ao menos 100 mil na capital paulista– sem contar aqueles em situação ilegal no Brasil.
Brayan e sua família eram parte dessa grande comunidade, mas a morte brutal do menino abreviou a história deles no Brasil. Os pais voltaram à Bolívia, mas os milhares que aqui permanecem – por vontade própria ou mesmo devido a dívidas com aliciadores – precisam lutar por melhores condições de vida. O protesto na avenida Paulista mostra que a colônia boliviana, unida, pode se organizar e tanto elaborar novos meios de ação e colaboração como lutar por melhores condições de vida – e continuar lutando é uma bela forma de homenagear Brayan e outros tantos que acabaram vítimas das mazelas que rondam tantas comunidades estrangeiras.
É a hora e a vez dos bolivianos – e também de outros imigrantes – mostrarem sua cara e sua importância para São Paulo e o restante do país.
Com informações da Agência Brasil, Serviço Pastoral dos Migrantes, CDHIC e O Estrangeiro
[…] de certas colônias estrangeiras no Brasil. No último dia 28 de junho, o menino boliviano Brayan Capcha, 5, foi morto nos braços da mãe durante um assalto à oficina de costura na qual trabalhavam – […]
[…] Fatos trágicos podem virar agentes que precipitam mudanças e mobilizações. Um exemplo claro disso foi a morte do menino Brayan, após assalto à família do menino em junho passado em São Paulo. O choque e a indignação que se seguiram levaram a comunidade boliviana pela primeira vez a ir às ruas pedir justiça e melhores condições de vida. […]