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sexta-feira, abril 26, 2024

A língua portuguesa para brasileirinhos no exterior: uma aventura tupiniquim

O português como língua de herança (POLH) surge como força da cultura brasileira no exterior

Por Manuela Marques Tchoe
Em Munique (Alemanha)

Morar no exterior pode nos levar para muito longe de nossos costumes e cultura, além de criar novos hábitos e formas de ver o mundo. Mas para a maioria dos brasileiros vivendo fora do Brasil, é de extrema importância manter contato com nossa cultura e dividi-la com nossos filhos. Em lugares onde uma comunidade brasileira existe, não faltam comemorações carnavalescas e juninas, comidas típicas, feijoadas e forrobodós. Como consequência, imigrantes tentam que seus filhos crescendo fora do Brasil se sintam brasileiros como nós, mal sabendo que eles carregarão sua dupla identidade para sempre no peito.

Transmitir brasilidade, a cultura de onde viemos, pode se tornar concreta com o aprendizado do português. Apesar de ser mais fácil aprender uma língua na tenra idade, nem todas as crianças têm o estímulo para se comunicar numa segunda língua. Muitas vezes não existe apoio de profissionais de saúde e de educação para que famílias eduquem seus filhos de forma bilíngue. Nesse âmbito, cresce o fenômeno do português como língua de herança (abreviado como POLH), um novo campo de ensino do nosso idioma para crianças multiculturais para ajudar famílias nesse processo.

Capa do material didático “Português Como Língua de Herança”, utilizado no Centro Cultural Brasil-Itália, em Roma.
Crédito: Divulgação

O POLH tem como objetivo usar o desenvolvimento do idioma como chave para explorar a cultura brasileira. Como consequência, é o acesso a quem nós somos, os valores com os quais crescemos, a afinidade e afeição com familiares, amigos, comidas, paisagens, e tudo o mais que engloba o nosso Brasil. É o idioma como meio, e não como fim.

Mas nem sempre será fácil. Às vezes não será suficiente falar com os filhos em português e esperar que eles automaticamente respondam sem erros ou fortes sotaques. Dividir e ensinar o idioma é um trabalho que cabe aos pais e não aos educadores, posto que a língua é aprendida sem a estrutura de sala de aula ou dever de casa. Existe a pressão familiar para a criança aprender a língua, mas pode existir também uma resistência natural da criança em falar, já que falar em duas línguas é obviamente mais complicado que falar uma. Transmitir a língua de forma “limpa”, ou seja, sem misturar a língua nativa e a adquirida, requer disciplina. Evitar de falar com a criança na língua do país que nos acolhe nem sempre é possível.

As recompensas são inigualáveis, todavia.

Primeiramente, porque uma criança com culturas diferentes, aprendendo dois – ou mais – idiomas, terá para sempre a dualidade de culturas no coração. Entender o idioma de onde o pai e/ou a mãe faz com que a criança se sinta parte da cultura brasileira, dando uma noção de raízes e pertencimento. Afinal, identidade não é só um documento, mas uma forma de entender e sentir, e o idioma é a chave para cultivar esse sentimento. Além disso, é claro, de dar a possibilidade da criança de relacionar-se com a família que, na grande maioria das vezes, não fala o idioma estrangeiro com o qual a criança se acostumou.

Hoje muito se fala em termos de bilinguismo e de suas consequências positivas. De fato, aprender um idioma quando criança é uma bênção. Entretanto, cabeças mais conservadoras sustentam o argumento que aprender uma segunda língua apenas causa confusão. Pode até ser que a criança demore mais para avançar no quesito da linguagem, mas no longo prazo os benefícios são óbvios. E não falo apenas de colocar uma língua a mais no currículo, mas de criar os laços com a nossa cultura, com a família, com o Brasil. E nesse aspecto, o POLH dá as ferramentas para que crianças de diferentes culturas se sintam bem consigo mesmas, que a dualidade de identidades não se torne um conflito que exploda na vida adulta, mas uma convergência de culturas que molda cidadãos do mundo com um relacionamento multicultural mais saudável e pacífico.

Para entender mais sobre o POLH, visite:

ELO Europeu: mais dedicado para profissionais da área, mas a organização está colocando uma lista de iniciativas no site.

BRmais: iniciativa privada de divulgação do POLH e cultura brasileira.

Brasileirinhos pelo Mundo: BPM Kids é uma plataforma colaborativa escrita por  brasileiras pelo mundo, mães e profissionais da área de Educação, Pedagogia e Psicologia com especialização em ensinar Português como Língua de Herança.

Mala de Herança: iniciativa voluntária que começou em Munique e se espalhou para diversos cantos da Europa, a Mala de Herança foca na contação de histórias e leituras, canções e teatro, para dividir o português e a cultura brasileira com crianças.

Manuela Marques Tchoe é uma escritora baiana que atualmente reside em Munique, Alemanha. Seu primeiro livro, Ventos Nômades, é uma coleção de contos que cruzam continentes e exploram o desejo de viajar e do exótico, os desafios e maravilhas de relacionamentos multi culturais e imigração. Manuela também escreve para o seu blog pessoal Baiana da Baviera e está presente no FacebookInstagram e Twitter com reflexões sobre a vida de imigrante, viagens e literatura.     

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