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quarta-feira, novembro 6, 2024

Além de Kamala e Trump, o que pensam outros candidatos a presidente dos EUA sobre migração

Partido Democrata e Republicano não estão sozinhos na disputa presidencial nos EUA. E os chamados candidatos independentes também abordam a imigração em seus planos de governo

Por Bianca Medeiros

Período eleitoral é sempre um momento que aflora muitas emoções e reflexões a respeito de ideias, ideais, perspectivas e, muita paciência. Em momento de fake news, internet, campanhas e mídias sociais, cadeiradas e afins, uma das maiores discussões eleitorais dos últimos anos é, sem dúvidas, a eleições norte americanas e o impacto dela no mundo. 

Embora absolutamente polarizada, a eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos conta com mais de dois candidatos e, está atraindo uma atenção global significativa, em grande parte por causa das profundas implicações que a escolha do próximo líder americano em temas centrais como a imigração.

Cada um dos principais candidatos – Kamala Harris, do Partido Democrata, Donald Trump, do Partido Republicano, Cornel West, que concorre de forma independente, Jill Stein, do Partido Verde, Chase Oliver, do Partido Libertário, e Claudia de La Cruz, do Partido pelo Socialismo e Libertação – oferece propostas distintas sobre imigração, refletindo visões contrastantes sobre o papel dos Estados Unidos no cenário global e o futuro da política migratória.

Kamala e Trump

Kamala Harris, candidata pelo Partido Democrata, defende uma reforma abrangente do sistema de imigração, buscando proteger os imigrantes indocumentados que vivem nos Estados Unidos, criar um caminho para a cidadania para milhões de pessoas e expandir o programa DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals), que protege jovens imigrantes conhecidos como “Dreamers”. Por outro lado, também se posicionou favorável a maiores restrições ao ingresso de pessoas pela fronteira sul, a exemplo do que tem feito Joe Biden, de quem é vice-presidente.

Ela também apoia a ampliação dos programas de acolhimento de refugiados e asilo, argumentando que os Estados Unidos têm a responsabilidade moral de acolher aqueles que fogem de perseguições e condições insustentáveis em seus países de origem. 

Donald Trump, que novamente concorre pelo Partido Republicano, adota uma postura muito mais rígida em relação à imigração do que em campanhas anteriores. Durante seu primeiro mandato (2017-2021), Trump implementou políticas de endurecimento, como a construção de um muro na fronteira com o México e a prática de “tolerância zero”, que resultou na separação de famílias de imigrantes. 

Para 2024, Trump mantém essa linha, prometendo retomar e expandir as políticas de segurança fronteiriça, aumentar as deportações de imigrantes indocumentados e revisar o sistema de concessão de vistos, priorizando aqueles que, segundo ele, poderiam contribuir economicamente para os Estados Unidos. 

Ele também critica os democratas por serem “fracos” em relação à imigração e culpa a imigração ilegal pelos problemas econômicos e de segurança interna. Sua retórica ressoa com uma perspectiva realista e desumanizada das relações internacionais, que enxerga a imigração como uma potencial ameaça à segurança e à soberania nacional.

Os demais candidatos

Cornel West, que também concorre como candidato independente em 2024, tem uma abordagem radicalmente diferente sobre imigração. Conhecido por seu ativismo em prol dos direitos civis e pela crítica às desigualdades sistêmicas, West defende uma política de imigração que promova a justiça social e a equidade. 

Ele propõe desmantelar o complexo industrial prisional associado à detenção de imigrantes, regularizar imigrantes indocumentados e tratar a questão da imigração como uma questão humanitária, e não como uma questão de segurança. 

Para West, os Estados Unidos devem reconhecer suas responsabilidades globais, especialmente em relação aos países latino-americanos e africanos, cujos fluxos migratórios são muitas vezes resultado de políticas intervencionistas americanas ou das condições econômicas globais nas quais os EUA têm papel central.

Jill Stein, do Partido Verde, também apresenta uma um viés humanitário sobre imigração, que se alinha com os princípios do partido de justiça ambiental e social. Stein argumenta que as causas da imigração forçada, como mudanças climáticas, guerras e a exploração econômica, devem ser enfrentadas diretamente. 

Ela propõe uma reforma migratória que não apenas proteja os imigrantes nos Estados Unidos, mas que também crie políticas internacionais de cooperação para combater as raízes dos deslocamentos forçados. 

A visão de Stein sobre imigração está conectada à sua preocupação com o impacto ambiental e as mudanças climáticas, temas centrais de sua campanha, que ela vê como impulsionadores das crises migratórias.

Chase Oliver, candidato do Partido Libertário, apresenta uma visão de imigração baseada em princípios de liberdade individual e mercado aberto. Ele defende a simplificação e flexibilização do sistema de imigração, argumentando que as barreiras legais à entrada de imigrantes são contraproducentes e prejudiciais à economia dos EUA. 

Para Oliver, o Estado deve reduzir sua intervenção no processo de imigração, permitindo que os mercados determinem a demanda por trabalhadores estrangeiros. Ele também critica tanto republicanos quanto democratas por usarem a imigração como um “bode expiatório” político, defendendo uma política migratória que permita maior liberdade de movimento e menos regulamentação estatal.

Claudia de La Cruz, candidata do Partido pelo Socialismo e Libertação, adota uma abordagem revolucionária em relação à imigração, fundamentada em uma crítica marxista ao capitalismo global. Ela defende o fim imediato das deportações e a plena legalização de todos os imigrantes indocumentados nos Estados Unidos. Para de La Cruz, a imigração forçada é um sintoma da exploração imperialista e capitalista dos países em desenvolvimento, especialmente na América Latina e no Caribe. 

Ela acredita que os EUA têm uma dívida histórica com esses países e que as fronteiras devem ser abertas para os trabalhadores explorados. Sua campanha enfatiza que a luta pela imigração justa é inseparável da luta mais ampla contra o capitalismo global e o imperialismo americano.

Migração, questão central

Diante dessa pluralidade, é importante reconhecer o impacto profundo no cenário global, especialmente em relação à imigração, porque os Estados Unidos desempenham um papel central no sistema internacional. As políticas migratórias adotadas pelo governo americano afetam diretamente não apenas os imigrantes que tentam entrar no país, mas também as relações dos EUA com seus vizinhos da América Latina e com outros países ao redor do mundo. 

Além disso, a política de imigração dos EUA tem implicações econômicas globais, a medida que os fluxos de trabalhadores migrantes afetam cadeias produtivas e setores-chave da economia, tanto dentro quanto fora do país. 

As decisões que os Estados Unidos tomam em relação à imigração influenciam políticas em outros países, seja como exemplo a ser seguido ou como uma advertência sobre os riscos de políticas mais rígidas e excludentes.

O impacto global das eleições nos Estados Unidos também pode ser entendido a partir de teorias das Relações Internacionais, como o conceito de hegemonia global. Os Estados Unidos, sendo uma superpotência econômica, militar e cultural, têm uma capacidade desproporcional de moldar normas internacionais, especialmente em áreas como direitos humanos, migração e segurança. 

No entanto, o que une todos esses candidatos é o reconhecimento de que a imigração é uma questão central não apenas para os Estados Unidos, mas para o mundo como um todo. As políticas adotadas pelo próximo presidente americano terão impactos profundos no cenário global, moldando o futuro da imigração e as relações internacionais nas próximas décadas.

Sobre a autora

Bianca da Silva Medeiros é Doutoranda em Direito na Universidade Nova de Lisboa – UNL, mestre em Ciências da Sociedade com ênfase em direitos humanos, sociedade e cidadania ambiental pela Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Oeste do Pará – Ufopa. Especialista em Direito Constitucional Aplicado e Relações Internacionais com ênfase em Direito Internacional Público. Pesquisadora, Consultora Jurídica e Gestora de Projetos no Terceiro Setor. Amazônida, latina, filha da educação pública e defensora dos direitos humanos. 

Referências Bibliográficas

Chemerinsky, E. (2017). Constitutional Law: Principles and Policies. Wolters Kluwer.

West, C. (1999). The Cornel West Reader. Basic Civitas Books.

Stein, J. (2016). Green New Deal for America. Green Party Platform.

Oliver, C. (2023). The Case for Libertarian Immigration Policies.


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