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sexta-feira, abril 19, 2024

Além do caso Moïse, imigrantes também pedem justiça para venezuelano morto na Grande SP

Assassinato de Marcelo Antonio Larez Gonzáles,por uma dívida de aluguel de R$ 100 em Mauá pode também virar assunto na Assembleia Legislativa paulista

Atualizado às 17h57 de 10.fev.2022

A questão do racismo e da xenofobia contra imigrantes no Brasil ganhou projeção nos últimos dias em razão do assassinato do refugiado congolês Moïse Kabagambe, no Rio de Janeiro, no mês passado. Mas além dele, um outro caso, envolvendo a morte do venezuelano Marcelo Antonio Larez Gonzáles, também tem gerado mobilização por parte da comunidade migrante.

O nome do jovem de 21 anos foi divulgado inicialmente como Marcelo Caraballo, mas a informação foi corrigida pela Embaixada da Venezuela, que manifestou pesar de repúdio pelo crime.

Segundo o portal G1, a partir de informações do boletim de ocorrência, o venezuelano foi morto na última quinta-feira (3) após uma briga pordívida de R$ 100 de aluguel com o locatário do imóvel onde vivia no Jardim Oratório, em Mauá, na Grande São Paulo. O jovem tinha quatro filhos, morava com a esposa, a mãe e um irmão.

O autor do crime, Alberto Pimentel Oliveira, de 41 anos, foi detido na última terça-feira (8) e cumpre prisão temporária, que pode ser convertida em preventiva a partir das conclusões das investigações.

Apoio à família e basta à xenofobia

A morte de Marcelo é um novo episódio de violência contra pessoas migrantes no Brasil, que teve o refugiado congolês no Rio como outra vítima recente. A ele se somam outras tantas, conforme o protesto em justiça por Moïse na capital paulista recordou.

Essa mesma lembrança é reforçada por um grupo de coletivos que começou a acompanhar a família do jovem venezuelano.

“Recentemente, o caso do Moïse mobilizou a sociedade civil, mas infelizmente, esses casos não são isolados. O racismo e a xenofobia já ceifaram as vidas de muitos migrantes e refugiados que escolhem o Brasil para viver”, escreveram os coletivos Equipe de Base Warmis – Convergência das Culturas, Fronteiras Cruzadas e Dandara ABC, que divulgaram comunicado conjunto nesta quinta-feira (10).

Segundo as três organizações, após o crime, a família se mudou para uma casa no mesmo bairro, com o apoio da vizinhança, em um local que ainda estava em construção e cedido por um vizinho. Os parentes de Marcelo conseguiram algumas doações emergenciais de móveis e alimentos.

“Agora, o que mais precisam é um carrinho de bebê, um guarda roupa, máquina de lavar e fraldas”, divulgaram os coletivos. UM PIX deve ser divulgado em breve para quem tiver interesse em fazer doações em dinheiro à família.

“Exigimos justiça por Moïse, por Marcelo, por João Manuel e por todas as pessoas vítimas
do racismo e da xenofobia no Brasil! Exigimos também condições dignas de vida, trabalho, moradia, saúde das populações migrantes e refugiadas assim como a RegularizaçãoJá para que a documentação não seja mais um motivo de vulnerabilidade destas populações”, finalizam os coletivos.

O apelo contra a xenofobia foi reforçado pela ONG Pelo Direito de Migrar (PDMIG), fundada e dirigida por imigrantes e refugiados.

“Exigimos justiça por Moïse, por Marcelo, por João Manuel e por todas as pessoas vítimas do racismo e da xenofobia no Brasil!”, afirmou a instituição, por meio de nota nas redes sociais.

A Cátedra Sérgio Vieira de Mello da Unicamp também manifestou pesar pelo asssassinato do venezuelano. “A morte de Marcelo Caraballo, assim como o recente assassinato do congolês Moise Kabamgabe, são inaceitáveis”.

Caso na Alesp

O Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesp, o deputado estadual Emidio de Souza (PT), enviou ofício à Polícia Civil cobrando investigação do assassinato do jovem venezuelano e punição dos culpados. Por meio das redes sociais, o parlamentar também fez uma ponte entre as mortes de Marcelo e de Moïse.

“Dias após o brutal assassinato do refugiado congolês Moïse Kabagambe, no Rio, outro jovem negro e imigrante foi morto por motivo fútil. Mais um triste episódio que evidencia a chaga da violência do nosso país contra jovens negros e migrantes empobrecidos. Esse é um Brasil do qual temos vergonha”

Emídio de Souza anunciou ainda que vai convidar a família de Marcelo para prestar depoimento na Comissão de Direito Humanos da Alesp. “Assim teremos mais elementos na busca por justiça”, explicou.

Venezuelanos no Brasil

Segundo dados da Plataforma de Coordenação Interagencial para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V) existem mais de cinco milhões de imigrantes e refugiados venezuelanos espalhados pelo mundo, sendo a maior parte deles em países da América Latina e Caribe. 

No Brasil, estão 305 mil venezuelanos, o que coloca o país como o quinto maior destino dessa população em migração — atrás de Colômbia, Peru, Equador e Chile. Cerca de 50 mil vivem como refugiados e mais de 85 mil aguardam parecer sobre o pedido de refúgio, de acordo com a plataforma.

A presença venezuelana no Brasil embasou ações como a Operação Acolhida, em vigor desde abril de 2018, e o reconhecimento do país em 2019 como local de grave e generalizada violação de direitos humanos. Essa condição, ao menos em tese, confere um trâmite mais rápido às solicitações de refúgio de venezuelanos no Brasil. Por outro lado, os nacionais do país vizinho foram alvo das maiores restrições para ingresso no território brasileiro durante a fase aguda da pandemia de Covid-19.


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