“Para o migrante, a pátria é terra que lhe dá o pão”. O autor dessa famosa frase do campo das migrações é o bispo italiano João Batista Scalabrini (1839-1905), considerado Pai e Apóstolo dos Migrantes. E que será um dos próximos a ser considerado santo pela Igreja Católica.
O anúncio foi feito pelo Papa Francisco durante audiência concedida no último sábado (21) ao Cardeal Semeraro, Prefeito das Causas dos Santos. O encontro foi aprovado pelos votos favoráveis da sessão ordinária dos cardeais e bispos membros do Dicastério (como são conhecidos os departamentos do governo da Igreja Católica). O ato será formalizado durante uma reunião de cardeais, chamada consistório, convocada pelo Pontífice, em data ainda a ser definida.
Esse passo adiante na canonização ocorre justamente em meio às celebrações pelos 25 anos da beatificação de Scalabrini, ocorrida em 9 de novembro de 1997. Por ocasião da data, em 7 de novembro de 2021 foi lançado o “Ano Scalabriniano”.
A proclamação de Scalabrini também vai ao encontro da postura que o Vaticano, na figura do Papa Francisco, vem assumindo em defesa dos migrantes, especialmente no continente europeu. Entre as ações já realizadas pelo Pontífice estão visitas à ilha italiana de Lampedusa, tradicional ponto de chegada de migrantes que chegam à Europa a partir das travessias pelo mar Mediterrâneo; visitas a campos de refugiados na Grécia; e a inclusão destes em cerimônias da Semana Santa, como na celebração do Lavapés.
“Ao proclamar santo João Batista Scalabrini, o Papa Francisco quer indicar à Igreja o modelo de um bispo que não só se entregou completamente ao bem de seu povo, mas também estendeu seu coração às irmãs e irmãos que a vida os separou e os tem levado para longe de casa”, afirmou a comunidade scalabriniana no Brasil, em comunicado conjunto.
“Este anúncio fortalece o apelo do Papa Francisco a acolher migrantes e refugiados, garantir-lhes condições legais de proteção, desenvolver ações que os promovam para sua subsistência e autonomia e integrá-los valorizando seu aporte cultural e a riqueza e talentos de que são portadores. Que assim possamos agir, seguindo o exemplo e ensinamentos deixados por João Batista Scalabrini”, complementa a Irmã Rosita Milesi, fundadora e diretora do IMDH (Instituto Migrações e Direitos Humanos), uma das entidades de inspiração scalabriniana que atuam em favor dos migrantes no Brasil.
Quem foi Scalabrini
João Batista Scalabrini nasceu em nasceu em Fino Mornasco, na Província de Como (Itália), no dia 8 de Julho de 1839. Foi ordenado sacerdote em maio de 1863 e aos 36 anos assumiu o cargo de bispo de Piacenza, que exerceu até sua morte, em 1º de junho de 1905.
Entre outras atividades paroquiais e diocesanas, acompanhou de perto e com preocupação a situação dos italianos que deixavam a zona rural em direção às grandes cidades e a outros países longe da Europa, em meio ao avanço e transformações que a Revolução Industrial gerava no continente europeu. Com a aprovação de Leão XIII, no dia 28 de Novembro de 1887 fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos), para a assistência religiosa, moral, social e legal dos italiano emigrados. Com a mesma finalidade, também fundou, em 1895 fundou, a Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos, e abriu o campo da emigração também para as Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração.
Em 1904, o bispo de Piacenza esteve no Brasil, em visita às instituições scalabrinianas de apoio aos italianos emigrados, em São Paulo, Rio e Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. Até hoje as entidades criadas e conduzidas sob a inspiração de Scalabrini figuram entre as referências na acolhida e atendimento a imigrantes mundo afora, incluindo o Brasil.
“Devido ao seu amor para com os pobres, e em particular para com os emigrantes, fezse apóstolo dos numerosos concidadãos obrigados a emigrar, com frequência em condições difíceis e com o perigo concreto de perder a fé: foi para eles pai e guia seguro”, afirmou o Papa João Paulo 2º na cerimônia em que Scalabrini foi declarado beato, em 9 de novembro de 1997.
Em artigo divulgado no último dia 16 de maio sobre o legado de Scalabrini, o colunista do MigraMundo e vice-presidente do SPM (Serviço Pastoral dos Migrantes), o padre e missionário scalabriniano Alfredo J. Gonçalves apontou o bispo italiano como um grande profeta e protagonista do seu tempo.
“Enquanto profeta, denunciou com veemência os maus agentes da migração como “comerciantes de carne humana”. Ao mesmo tempo, porém, foi capaz de entrever nos fenômenos migratórios um sinal dos tempos, verdadeiro anúncio da Boa Nova do Evangelho, na exata medida em que podem contribuir pra o encontro, o diálogo, o enriquecimento de distintos povos e culturas”.
Com informações do portal Vatican News