Em meio às recorrentes denúncias de trabalho escravo que envolvem o setor têxtil, como o consumidor poderia fazer sua parte e dar sua resposta contra essa situação? Como ainda saber que marcas e empresas tiveram algum tipo de envolvimento com trabalho escravo nos últimos anos antes de fazer uma compra?
Ajudar a responder essas perguntas e dar ferramentas para desenvolver responsabilidade social e um consumo consciente são o principal objetivo do aplicativo Moda Livre, lançado às vésperas do Natal passado e disponível para smartphones com sistemas Android (a partir da versão 4) e iOS (a partir da versão 5). A aplicação foi elaborada pela ONG Repórter Brasil, fundada em 2001 e que desde então acumula um longo histórico de lutas e resultados contra o trabalho escravo.
“Alguns temas são hipercodificados para o consumidor comum, que nem sempre tem tempo de entrar na internet e fazer uma busca de informações sobre se esta ou aquela marca tem ligação com trabalho escravo. Ao mesmo tempo, há um processo de responsabilização desse consumidor, mostrando que seu consumo ajuda a financiar esse tipo de prática, mas é preciso fornecer informação de qualidade para que ela possa tomar sua decisão. O Moda Livre surge nesse processo”, explica Leonardo Sakamoto, coordenador da Repórter Brasil.
Sakamoto ressalta que o aplicativo não é um instrumento de boicote comercial a esta ou aquela marca, mas sim dar informações ao consumidor sobre um produto que ele cogita consumir. “É importante ressaltar que o Moda Livre não recomenda que o consumidor compre ou deixe de comprar roupas de determinada marca. Apenas fornece informações para que faça a escolha de forma consciente”.
Elaboração e questionário
Entre a ideia e o aplicativo ir ao ar foi cerca de um ano, sendo seis meses de investigações junto ao Poder Judiciário, do histórico das marcas e empresas incluídas nesta primeira versão do app e de diálogo com esse setor empresarial. Nessa primeira versão estão marcas dos maiores grupos varejistas do mercado, além de empresas envolvidas em casos de trabalho escravo flagrados por fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego até junho passado, totalizando 22 marcas. A previsão é que o app seja atualizado a cada seis meses.
Todas as companhias listadas no Moda Livre foram convidadas a responder um amplo questionário baseado em quatro indicadores:
1. Políticas: compromissos assumidos pelas empresas para combater o trabalho escravo em sua cadeia de fornecimento.
2. Monitoramento: medidas adotadas pelas empresas para fiscalizar seus fornecedores de roupa.
3. Transparência: ações tomadas pelas empresas para comunicar a seus clientes o que vêm fazendo para monitorar fornecedores e combater o trabalho escravo.
4. Histórico: resumo do envolvimento das empresas em casos de trabalho escravo, segundo o governo.
Com base nas respostas, as empresas receberam uma pontuação que as classifica em três categorias de cores (verde, amarelo e vermelho), de acordo com as medidas que tomam para combater o trabalho escravo. Aquelas que não responderam ao questionário, apesar dos insistentes convites, foram automaticamente incluídas na categoria vermelha.
“Essas informações são matéria-prima de transformação, seja ela no setor público, empresarial ou na sociedade civil”, explica Sakamoto.
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