Por Rocio Paik
A Armênia recebeu pelo menos 100 mil refugiados vindos da região de Nagorno-Karabakh, alvo de disputa entre o país e o vizinho Azerbaijão, após os bombardeios que romperam o cessar-fogo e deixaram, em um primeiro momento, pelo menos 25 mortos, em 19 de setembro.
A operação militar do Azerbaijão justificou o ataque como uma medida “antiterrorista”, resultando em um êxodo de habitantes em direção à Armênia. Uma semana depois, outra explosão, de causa desconhecida, em um depósito de combustíveis, deixou mais 170 mortos.
O governo da Armênia classificou a situação como uma “limpeza étnica” por parte de Azerbaijão, que, por sua vez, negou e se compromete a garantir os direitos da população afetada.
Com os habitantes em situação de fuga, uma equipe da ONU entrou na região de Karabakh pela primeira vez em quase 30 anos para avaliar o cenário e identificar necessidades humanitárias. Território este que, de um total de 120 mil habitantes, restou apenas 16%. A Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) alertou para que a população toda deixasse a região.
O presidente da autoproclamada República Armênia de Nagorno-Karabakh, Samvel Shahramanyan, chamada pelos armênios de Artsakh, anunciou a dissolução do governo autônomo a partir do início de 2024 após grande parte dos moradores fugir. A região é reconhecida como parte de Azerbaijão, mas os habitantes se identificam etnicamente como armênios.
Emergências humanitárias
O World Food Programme (WFP), Programa Alimentar Mundial, providenciou 4 mil pacotes de alimentos para auxiliar cerca de 16 mil vítimas deslocadas através do corredor de Lachin e, também, distribuiu 21 mil refeições quentes aos centros de registro e triagem do governo de Armênia.
A coordenadora da WFP na Armênia, Nanna Skau, reforça a necessidade de um apoio humanitário contínuo: “Estamos profundamente preocupados com o impacto nas vidas e nos meios de subsistência dos civis.”
Já a World Health Organization (WHO), Organização Mundial de Saúde, segue auxiliando o Ministério da Saúde da Armênia. O enviado especial da organização, Robb Butler, visitou um centro de tratamento de queimaduras na capital armênia e classificou a situação como “dolorosa”.
“Dos 80 leitos existentes neste hospital, todos estão sendo ocupados por um sobrevivente da explosão em Karabakh. Os profissionais de saúde aqui estão trabalhando arduamente para tratar os feridos. Este é um país pequeno, com capacidade limitada, mas as necessidades são imensas.”
Desafios de integração
Com a chegada de 100 mil pessoas ao seu território, a Armênia agora tem o desafio de promover a integração dos refugiados de Nagorno-Karabakh. Eles agora constituem 3,3% de toda a população armênia (no total, de 3 milhões). Ou seja, 1 a cada 30 pessoas no país é refugiada que acabou de chegar.
O diretor regional da OIM, Manfred Profazi, afirma que eles vão precisar de casas, escolas, hospitais e empregos. A agência da ONU abriu clínicas de saúde móveis pelo país para ajudar nesse esforço.
Outra agência das Nações Unidas, o ACNUR (Alto Coomissariado da ONU para Refugiados), fez um apelo à comunidade internacional de doadores para que seja solidária a fim de permitir que a Armênia responda a essa emergência humanitária.
“Embora o governo esteja fazendo esforços consistentes e louváveis com o apoio da comunidade internacional para atender às necessidades que crescem rapidamente, é necessário apoio financeiro adicional”, disse a agência, em comunicado.