Gustavo Masías, do Peru, tem ateliê no Rio de Janeiro onde dá aulas de desenho, mas também se dedica a trabalhos autorais. Ele também fala sobre a experiência de ser migrante
Por Glória Branco
Do Rio de Janeiro (RJ)
Aos 16 anos, um jovem peruano chega ao Rio de Janeiro para encontrar o tio artista plástico. Em busca de uma nova vida longe do fujimorismo*, trabalhou com o tio em um estúdio no centro carioca – onde, além de criarem, davam aulas de desenho. Aos finais de semana expunham as obras em feiras de artes e assim ganhavam a vida como migrantes do Peru. Os anos se passaram e ele aprendeu tudo que pode sobre arte e hoje pode dizer que é um privilegiado artista, especialista em retratos a lápis, que transmitem encanto e emoção, trabalhando em seu ateliê montado em sua casa na capital fluminense.
Gustavo Masías, hoje com 38 anos e pai de dois filhos, encontrou no Brasil uma familiaridade que o fez se adaptar mais facilmente ao país. Foi aqui que conheceu sua esposa, uma pernambucana que o ajuda na administração de sua carreira artística e no contato com os clientes. Foi por ela que entre 2005 e 2007, Gustavo morou em Recife e lá também pode aprender mais sobre desenho e arte. Quando retornou ao Rio de Janeiro tinha convicção que queria passar mais tempo com os filhos, por isso decidiu trabalhar de casa. Assim Gustavo também ajuda na educação das crianças e na rotina doméstica, e afirma valorizar muito mais o dia a dia das mulheres.
Gustavo relata que sua experiência como migrante o ajuda a valorizar ainda mais seu país e também a entender melhor seus problemas. Foi na base de conversas e reflexões com outros migrantes peruanos no Brasil e em outras partes do mundo que surgiu a ideia de criar um podcast de nome provisório “Fora de Casa”. O programa, que ainda está em fase de ajustes, se propõe a debater temas pertinentes aos peruanos fora de seu país e a repensar questões políticas e sociais de um país que recentemente passou por um desastre natural de grandes proporções.
Mas não é só o Peru que passa pela avaliação de Gustavo. Com seu olhar migrante, o artista também enxerga com olhar critico o Brasil e sua atual crise econômica e política, e reconhece que os migrantes e refugiados podem muito ajudar o país na busca por novas soluções. Mas atesta pelo tempo que está no Brasil que ainda há uma resistência ao estrangeiro e em seu campo de atuação identifica que os brasileiros valorizam mais a figura do artista do que sua obra, numa “adoração” à pessoa em detrimento de seu trabalho de criação.
Por isso, Gustavo encontrou a oportunidade de desenvolver uma carreia mais comercial e nas redes sociais focou seu campo de contato artístico e divulgação. Gustavo também oferece aulas de desenho e nas horas vagas se dedica a criação mais abstrata e autoral. Ele se diz privilegiado por ser um artista em terras brasileiras e garante que é feliz e apaixonado pelo que faz.
Atualmente, sua mãe também mora no Rio de Janeiro assim como sua irmã, professora de espanhol. A família faz questão de ensinar as crianças, um menino de 12 anos e uma garota de 9 anos, a valorizar, amar e respeitar suas raízes peruanas, assim como a admirar e estimar a cultura e as tradições brasileiras. “A alegria e a simpatia do povo brasileiro são um forte atrativo do país e deve ser sempre enaltecido”.
*Fujimorismo é um movimento político peruano baseado na figura de Alberto Fujimori, que governou o Peru de 1990 a 2000.
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Glória Branco é jornalista com especializações em marketing e Relações Internacionais. É diretora da La Gringa Comunicação e, além do MigraMundo, atua como voluntária no Coletivo Maria (que defende causas feministas).