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domingo, dezembro 22, 2024

“Badante” rima com migrante

Por Pe. Alfredo J. Gonçalves
Em Roma (Itália)

“Badante” é uma palavra italiana que, em português, pode ser traduzida como cuidador ou cuidadora. Alguém cuja tarefa é cuidar de outra pessoa com dificuldades especiais. Trata-se de um serviço privado de assistência familiar, voltado especialmente para o cuidado de idosos, doentes e às vezes crianças (para não falar dos cães). Na maioria dos casos, o serviço é prestado por mulheres, algumas enfermeiras profissionais, outras sem qualquer qualificação.

Na Itália, o número de “badanti” (plural) é estimado em 900 mil, ou cerca de um milhão, sendo que o percentual de 90% são estrangeiras. Grande parte vem do Leste da Europa, com destaque para Ucrânia Romênia e Moldávia. Outras são originárias da América Latina, particularmente do Peru e Equador. Não faltam também as asiáticas, de modo especial as filipinas. Convém lembrar que hoje a península italiana conta com aproximadamente 13,3 milhões de anciãos. Além disso, aqueles com mais de 65 anos aumentam ao ritmo de 260 mil por ano. Isso significa que em 2050 os anciãos alcançarão quase a cifra de um quarto de toda população. Os doentes de Alzheimer, para citar apenas um exemplo, ultrapassam a casa dos 600 mil, o que representa nada menos que 4% da faixa populacional superior aos 65 anos.

Disso resulta que o serviço de assistência familiar ou privada, de modo particular sanitária e social, continua em crescimento progressivo, não somente na Itália, mas também em outros países europeus. Quem presta assistência domiciliar a essas populações que se encontram em fase de rápido envelhecimento, aproximando-se do outono? Aqui faz sentido o título deste comentário: “badante” rima com migrante! Ainda na Itália, até 2030 prevê-se uma demanda de “badanti” da ordem de 500 mil, 25% a mais em proporção com o momento atual (Cfr. Istituto Nazionele di Statistica – Istat).

Na Itália, 90% dos “badanti” (cuidadores) são imigrantes. E a demanda tende a aumentar.
Crédito: Reprodução/Migranti Torino

Desnecessário acrescentar que os números e percentuais assinalados acima são todos aproximativos. O motivo é simples e duplo: os institutos de pesquisa não podem fornecem dados mais precisos e específicos sobre a assistência social e sanitária utilizada pelas famílias; e não os podem fornecer porque boa parte dessas trabalhadoras são assumidas de forma informal, sem um contrato de trabalho regulamentado por lei. O que é certo é que a Itália e demais nações da Europa tornam-se dia-a-dia países com tendência a um serviço em aumento de cuidado assistencial a domicílio. Vale dizer, países de imigração crescente.

Notoriamente, como bem sabemos, os migrantes nos países de destino entram no mercado de trabalho pela porta dos fundos: serviço domiciliar e serviços em geral, construção civil, limpeza, colheitas agrícolas temporárias… Numa palavra, trabalho braçal. Excetuando, claro, os técnicos, diretores e consultores de grandes conglomerados transnacionais. Ao contrário do que pensa e diz o senso comum (e muitas vezes a grande mídia), os estrangeiros não costumam roubar o emprego dos trabalhadores locais. Submetem-se, em lugar disso, aos serviços mais pesados e perigosos, mais sujos e mal remunerados. No caso da assistência familiar a que nos estamos referindo, a um serviço delicado e que exige boa dose de paciência e dedicação.

Cabem duas palavras de conclusão. Nos países do velho continente europeu, o cuidado com as pessoas mais frágeis, debilitadas e necessitadas da população, via de regra, está nas mãos dos migrantes, em particular das mulheres. Não será ocioso perguntar que significará isso em termos de preservação da saúde e da memória, de intercâmbio cultural e de uma convivência pacífica que a todos só pode enriquecer!

Roma, 1º de março de 2018

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