Por André Gabay Piai
Diversos veículos de comunicação da França, tais quais os tradicionais Le Parisien e Le Point, ambos posicionados à direita do espectro político, trazem pesquisas segundo as quais Marine Le Pen, conhecida personagem da extrema direita francesa e candidata à presidência pelo partido Rassemblement National [Reunião Nacional, em tradução livre], teria, na percepção dos franceses, adotado tons mais amenos em seus outrora inflamados discursos sobre imigração ou uso do véu islâmico em espaços públicos.
Diante das colocações nada moderadas de Éric Zemmour, talvez esta percepção esteja ligada aos novos contornos que vem ganhando a extrema direita francesa no contexto das próximas eleições presidenciais. Tendo sido o principal e exclusivo representante expressivo da extrema direita no país, o partido liderado por Marine Le Pen passa a dividir essa posição com novas figuras representantes deste lado do espectro político, sendo Éric Zemmour uma das mais ativas e expressivas da atualidade.
Com o pleito previsto para o próximo mês de abril, a França vive, com efeito, uma nova etapa em sua vida política. Certamente, a tradicional família Le Pen, mais conhecida representante da extrema direita no país, começa a perder espaço – ou, pelo menos, começa a disputá-lo – com novas personagens até então estranhas ao cenário político francês. Uma das novas personagens que mais chama a atenção da mídia é o jornalista (e polemista, de acordo com a imprensa francesa) Éric Zemmour, funcionário e colaborador do tradicional e conservador jornal francês Le Figaro durante vários anos.
O atual presidente Emmanuel Macron é apontado como favorito a um novo mandato, mas Zemmour aparece na briga por uma vaga em um possível segundo turno com pelo menos outros três candidatos – ao todo, serão 12 nomes na disputa.
O período eleitoral terá início em 28 de março. A votação será realizada em 10 de abril. Se nenhum dos candidatos receber a maioria absoluta dos votos, haverá 2ª turno no dia 24 do mesmo mês.
‘Bolsonaro francês’
Traçar um perfil de Éric Zemmour, figura tão sintomática dos tempos em que vivemos e candidato de primeira viagem às eleições presidenciais na França, pode ser interessante para acompanharmos a evolução do que se entende por extrema direita em um país que exerce, ainda nos dias de hoje, considerável influência na geopolítica global – a França é parte de diversas organizações internacionais, como a OCDE, e exerce, juntamente à Alemanha, papel central na União Europeia, além de ser membro permanente do conselho de segurança da ONU.
O então notório jornalista e agora mais novo integrante da cena política francesa se reivindica como um candidato outsider e anti-establishment, isto é, aquele que nunca desempenhou papel algum dentro da política nacional e que julga não se adequar ao sistema vigente. De certa forma, tal discurso já é um velho conhecido dos brasileiros e soa familiar: esta retórica auxiliou Jair Bolsonaro a se desfazer, frente a seu eleitorado, da imagem de parlamentar inexpressivo, sem projetos de relevância aprovados e a alçá-lo à presidência da república.
Com efeito, é possível arriscar dizer que Éric Zemmour tem muito mais pontos de afinidade com Jair Bolsonaro do que com sua principal rival, Marine Le Pen, que teme ter sua imagem associada à nova personagem da política francesa. Inclusive, Zemmour foi comparado ao presidente brasileiro sendo apelidado de “Bolsonaro francês” em um artigo publicado recentemente pelo Le Monde Diplomatique. Assim como o dirigente brasileiro, Zemmour não pesa suas palavras e parte para o ataque, ao contrário de Le Pen, que busca, segundo o historiador Makchwell Coimbra Narcizo, tornar suas propostas extremistas aceitáveis aos olhos da população.
Além disso, o candidato à presidência da França pelo partido Reconquête [reconquista, em português] compartilha com Bolsonaro – e não com sua principal rival, Marine Le Pen – de uma visão um tanto quanto paranóica da realidade. Para Zemmour, adepto da denominada teoria da “grande substituição”, haveria uma conspiração segundo a qual o povo francês estaria sendo substituído por populações não europeias e imigrantes.
Sob o slogan de campanha “Impossible n’est pas français” [impossível não é francês, em tradução livre], Éric Zemmour, ele mesmo descendente de judeus argelinos, busca captar eleitores e seguidores a partir da abordagem da temática das migrações, seu assunto de predileção, em comícios pela França e nas principais redes sociais, nas quais é bastante ativo.
‘Imigração zero’
Para sustentar suas ideias, a perseguição sistemática à população imigrante e muçulmana constitui a base de sua retórica, bem como a distorção de dados estatísticos e a manipulação sistemática de acontecimentos históricos. Assim como seu equivalente brasileiro, Zemmour não demonstra compromisso algum com os fatos. Porém, um certo verniz intelectual os separa: o francês lê e cita autores como Chateaubriand e Péguy, ainda que de forma distorcida e a serviço de suas ideologias.
Caso eleito, o candidato prevê uma política de “imigração zero”. Seu programa de governo não só defende o fim da imigração irregular, como também o fim da imigração regular. Isto é, sob seu governo, seria decretado o fim do reagrupamento familiar e as candidaturas de estrangeiros a vagas no ensino superior francês estariam reservadas a um seleto grupo de estudantes. Além disso, ele preconiza a construção de um muro às portas da União Europeia e a retirada da nacionalidade francesa de binacionais que tenham cometido delitos.
Em um de seus discursos verborrágicos, Zemmour chegou a afirmar que “colocar um fim à imigração na França, trará tranquilidade ao país”, dado que, para ele, há uma clara associação entre delinquência e imigração. Para sustentar sua teoria, ele apela constantemente à informação de que a população carcerária francesa é constituída de um quarto de estrangeiros.
Não percamos de vista que o próprio candidato é descendente de imigrantes, como colocado anteriormente. Ainda assim, antigas obsessões próprias à extrema direita como as pautas identitárias e a guerra cultural declarada a certos setores da sociedade encabeçam a agenda política do presidenciável.
Enquanto guardião de uma França tradicionalista e saudosista de supostos tempos gloriosos do país, Zemmour diz que será o presidente dos muçulmanos que estiverem dispostos a renunciar ao islamismo. De acordo com o candidato, condenado duas vezes por injúria racial e discriminação religiosa, os valores desta religião são incompatíveis com os valores que prega a República Francesa.
Segundo ele, para ser francês, é preciso estar totalmente integrado à sociedade, adotando seus hábitos mais tradicionais. Para isso, ele sugere, por exemplo, que os recém-nascidos devam ser registrados apenas com nomes franceses. O nome Mohamed, comum entre os muçulmanos, os principais alvos desta medida, estaria, então, excluído das possibilidades.
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Puxa vida até que em fim um cidadão para salva a França! Um estrangeiro (Algeriano) a favor do povo francês. É mole.
Bem melhor que ce “con” de Macron, que sobe somente trabalhar para os (muitos) ricos, palavras do ex Presidente Hollande e que tavá certo. Um traidor em pêle de cordeiro.
Espero que os Francês, residentes deste país enxerguem a verdadeira “Reconquète” desta França (hoje) sem sal…
Vive la France, Vive Eric Zemmour!
Att.