Atualizada às 17h25 de 17.abr.2025
A próxima edição da Marcha dos Imigrantes, em São Paulo, não terá o Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (CAMI) como entidade principal a organizar o ato. E para que de fato ocorra, outras organizações terão de tomar a dianteira nesse processo.
O anúncio foi feito durante reunião on-line convocada pelo próprio CAMI na tarde desta quarta-feira (16). Desde que a Marcha dos Imigrantes começou a ser organizada oficialmente, em 2007, será a primeira vez sem a instituição como agente organizador principal.
“O CAMI não tem mais pernas para organizar a Marcha. É hora de outros abraçarem esta causa”, resumiu Roque Patussi, coordenador da entidade, durante a reunião.
Em posicionamento publicado nas redes sociais já nesta quinta-feira (17), o CAMI reforça que está apenas deixando de coordenar a manifestação. “O CAMI enfatiza que a Marcha dos Imigrantes não está sendo abandonada, mas sim aberta para novas instituições e coletivos que desejam continuar com esse espaço de discussão e reflexão”.
Promovida anualmente no final de novembro ou começo de dezembro, a Marcha dos Imigrantes começa a ser montada cerca de seis meses antes. Além da convocação em si, o ato demanda uma série de atividades que vão do diálogo e articulação com diferentes instituições, tanto públicas quanto privadas, a questões logísticas e de estrutura para a manifestação, como cartazes, caixa de som e garrafas de água para hidratação.
Ao contrário do que ocorreu nas edições anteriores, a Marcha dos Imigrantes de 2024 terminou sem o tradicional anúncio do dia do ato no ano seguinte. O fato, conforme apuração do MigraMundo, já era uma antecipação do que de fato se tornou oficial na última quarta-feira.
Além de ser uma referência na prevenção e combate ao tráfico de pessoas e trabalho análogo à escravidão junto à comunidade migrante (sobretudo de países latino-americanos), o CAMI ainda promove cursos de português e de capacitação profissional e atualmente é também responsável por um abrigo aberto para acolhida de migrantes afegãos. Tudo isso diante de um cenário no qual recursos financeiros diminuíram e o quadro de funcionários precisou ser enxugado.
O futuro da Marcha dos Imigrantes voltará a ser discutido em uma próxima reunião, também em formato on-line, já marcada para 28 de maio, às 17h15.
Breve histórico da Marcha dos Imigrantes
A Marcha dos Imigrantes é promovida por um conjunto de entidades ligadas à sociedade civil e imigrantes – seja independentes, seja ligados a algum coletivo – tendo o CAMI como entidade coordenadora. O ato já ocorreu na região da Praça Kantuta, em ruas da região central de São Paulo, e desde 2016 tem como palco a avenida Paulista, que aos domingos fica fechada para veículos durante grande parte do dia. O objetivo é justamente aproveitar o público já presente nas inúmeras atividades que ocorrem simultaneamente na via para tentar promover diálogo e conscientização sobre a temática migratória.
Para cada edição é escolhido por consenso entre os organizadores um tema para servir de guarda-chuva para a Marcha dos Imigrantes, que reflete um anseio da comunidade migrante naquele momento. Alguns dos assuntos pautados pela manifestação se tornaram conquistas de fato em anos seguintes, como anistia migratória e uma nova lei de migração. Outras reivindicações seguem pendentes, como a implementação de políticas públicas efetivas em âmbito nacional e o direito ao voto.
Em 2024, o lema o lema escolhido foi “Não ao retrocesso: Migrar Não é Crime, é um Direito Humano. Igualdade nas Políticas Públicas Já!”, que faz uma alusão à ausência de uma diretriz nacional para o tema, embora esteja prevista na Lei de Migração e tenha sido alvo de diferentes protestos recentes por parte da sociedade civil. A mensagem também traz consigo uma cobrança em relação à Comigrar (Conferência Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia), que ocorreu em novembro passado em Brasília e teve como objetivo – ao menos na teoria – contribuir justamente com a elaboração dessa política nacional migratória.
Veja abaixo os lemas das edições anteriores da Marcha dos Imigrantes. O MigraMundo acompanha a manifestação in loco desde 2014.
2007 – “Integração, cidadania universal e direitos humanos”
2008 – “Nossas vozes, nossos direitos por um mundo sem muros, @s imigrantes pedem: ANISTIA JÁ”
2009 – “Por acesso a todos os direitos”
2010 – “Por um MERCOSUL livre de xenofobia, racismo e toda forma de discriminação”
2011 – “Trabalho decente e Cidadania Universal”
2012 – “Nenhum direito a menos para @s imigrantes”
2013 – “Nova lei de imigração justa e humana para o fim da discriminação”
2014 – “Basta de violência contra @s imigrantes”
2015 – “Fronteiras livres, não a discriminação”
2016 – “Dignidade para os imigrantes no mundo: nenhum direito a menos”
2017 – “Pelo fim da invisibilidade dos imigrantes”
2018 – “Por direitos iguais: Não me julgue antes de me conhecer”
2019 – “Para igualdade e dignidade não existem fronteiras: Livres com direitos em qualquer lugar do mundo”
2023 – “Sem direito ao voto e trabalho decente, não há cidadania plena”
2024 – “Não ao retrocesso: Migrar Não é Crime, é um Direito Humano. Igualdade nas Políticas Públicas Já!”
Em 2020, 2021 e 2022, a Marcha dos Imigrantes não foi realizada em razão da pandemia de Covid-19 e seus desdobramentos. A primeira edição pós-pandemia (2023) foi considerada, por si só, uma vitória pelo simples fato de retomada do ato.
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