As festas de fim de ano tiveram um ingrediente a mais para 39 refugiados que vivem no Brasil. Eles tiveram a oportunidade de passar o Natal e/ou o Réveillon com famílias que aderiram a uma campanha promovida pelo Instituto Adus, que atua junto a refugiados em São Paulo e procura ajudar na integração destes à sociedade.
Segundo dados da instituição, os 39 refugiados foram acolhidos por 12 famílias diferentes durante as festas do final de 2014. Eventuais inseguranças e receios nos contatos iniciais deram lugar à interação entre diferentes culturas, novas amizades e o amadurecimento do respeito ao outro.
Um deles foi o engenheiro civil sírio Talal Al-tinawi, 43, que passou as festas junto com a mulher e os filhos junto com a família do estudante de administração Rodrigo Guillermo García, 28. “A festa foi muito legal. A família dele respeitou minha religião, não teve bebida nem carne de porco”, lembra Talal, que é muçulmano. “Temos amizade entre as duas famílias agora”, completa.
O sentimento é o mesmo por parte de García e dos demais da casa que receberam a família síria. “Foi realmente um experiência enriquecedora. O “jeitinho” brasileiro de
ser, a comida… é tudo questão de adaptação para um povo tão miscigenado como nós.
O que realmente conta é o espírito de união de todos em uma cerimônia
tão importante para nós brasileiros”, explica Guillermo. “Hoje Talal Al-tinawi é mais que um amigo, é um irmão. Eu sou o maior ganhador, por ter a oportunidade de conhecer pessoas tão amáveis.”
Descendente de imigrantes espanhóis que chegaram ao Brasil fugindo da Primeira Guerra Mundial, o estudante lembra que acolher outros migrantes em festas era uma tradição de seus antepassados. E espera que iniciativas como as promovidas pela campanha de final de ano do Adus possam inspirar e gerar outros bons exemplos.
“Mais e mais famílias chegarão e como todos nós podemos ser agentes transformadores do mundo. Cabe a nós mudarmos o mundo com pequenas, mas significativas atitudes”, resume Guillermo.
Expansão para 2015
A campanha foi promovida pelo segundo ano consecutivo pelo Adus. E de acordo com Marcelo Haydu, diretor do instituto, já é possível notar a evolução em relação à edição anterior. “No primeiro ano convocamos apenas os voluntários do Adus. O ano passado foi o primeiro que abrimos para o público externo. Só teremos uma referência melhor no fim deste ano, mas tivemos mais pessoas participando em 2014”.
A iniciativa ganhou destaque até mesmo em grandes veículos de imprensa, como as matérias publicadas nos jornais Folha de S.Paulo e Agora na véspera do Natal. O SBT também noticiou a campanha.
Haydu conta que outras famílias se interessaram em receber refugiados após a repercussão da campanha, e também que ela vai continuar em 2015. “Queremos que essa ação se torne uma referência, uma tradição na cidade”, resume.
Números e desafios em ascensão
O Brasil conta atualmente com 7.289 refugiados, de acordo com dados do Ministério da Justiça. Desde meados de 2014, os sírios superaram os colombianos e passaram a ser a maior população refugiada no Brasil (cerca de 21% do total). No entanto, o total de nacionalidades presentes dentre os refugiados no país já chega a 79.
Esse número deve continuar aumentando e vai requerer um esforço adicional das três esferas de governo (federal, estadual e municipal) e da sociedade não só para garantir a regularização dessa população, mas sobretudo para permitir que os novos habitantes do Brasil tenham uma vida digna e possam contribuir com o país.