Sejam nativas os imigrantes, as mulheres em todo o mundo ainda são alvo de visões estereotipadas e obsoletas que motivam casos de violência, exploração e de restrição de liberdade. Os abusos podem ter diferentes formatos de acordo com o país ou região, mas a visão machista da sociedade está na origem de cada um – de comentários jocosos a atos de violência física ou até mais graves.
No entanto, há iniciativas mundo afora que têm atuado para mudar essa situação e mostrar às mulheres que elas também possuem direitos – e precisam lutar por eles. Uma dessas iniciativas é o projeto The Freedom Traveler (TFT), iniciado em julho de 2013 e lançado oficialmente em outubro do mesmo ano, com o objetivo de trabalhar pelo direito da mulher à mobilidade no mundo.
Por meio do portal, o TFT busca conectar e capacitar mulheres em todo o mundo – em especial em locais onde a liberdade de movimento para as mulheres é restrito. Mulheres de qualquer nacionalidade podem participar ativamente da rede, compartilhando conhecimentos e experiências.
A idealizadora do TFT é a paquistanesa Momal Mushtaq, que teve a ideia para o projeto depois de um período vivendo na Alemanha. “Durante minha vivência na Alemanha ninguém fazia comentários desagradáveis enquanto eu andava sozinha. Eu podia ir a qualquer lugar e quando quisesse ir. Senti que tinha ganho asas nos meus pés e não havia nada nem ninguém que poderia me parar. Então, quando voltei ao Paquistão, sabia que teria de trabalhar pela direito da mulher à mobilidade,” conta Momal, que atualmente vive em Islamabad, capital paquistanesa.
A campanha #IamFree e o Brasil
Uma das ferramentas para sensibilizar e mobilizar as mulheres em torno do direito à liberdade de ir e vir é a campanha I Am Free. Ela convida mulheres do mundo todo a postar fotos nas redes sociais com a hashtag #IamFree, nas quais elas mostram como podem (e devem ser) livres. Pode ser tanto uma imagem ao lado de uma bicicleta como uma tradicional foto de férias em uma praia ou montanha: o importante é expressar a liberdade e o direito e ir e vir para onde e quando quiser.
A ideia inicial é ultrapassar a marca de 1.000 fotos no catálogo online, cujo link será enviado para governos e organizações – até o momento já são quase 300 imagens de mais de 60 países diferentes. E embora o foco da campanha seja a liberdade de movimento da mulher, é possível encontrar também homens prestando seu apoio à iniciativa.
O site da campanha traz todas as instruções para ingresso e apoio a ela – basta acessar por meio deste link. Ela já conta com quase 600 seguidores no Twitter e Instagram, além de quase 14 mil “likes” na fanpage no Facebook. O TFT conta ainda com uma revista online, chamada Speak Free, que reforça as campanhas e pautas do The Freedom Traveler.
Quando perguntada sobre a participação do Brasil na campanha e no TFT, Momal conta que a adesão ainda é pequena, mas espera ver esse leque aumentar no futuro. “Ainda não recebemos muitas contribuições do Brasil. Seria fantástico poder divulgar mais o The Freedom Traveler e a campanha #IamFree no país. Já temos parceria com um ótimo grupo de jovens mulheres brasileiras chamado Girl for It Movement (em português o nome do grupo é Garota Para Isso)”.
Obstáculos, incentivos e reconhecimentos
Por conta de sua atuação com o TFT, há quem acuse Momal e apoiadores de “terem se vendido para o Ocidente” ou de “irem contra os valores islâmicos”. Embora ela ignore essas e outras mensagens de ódio que recebe, ela lembra de uma que foi particularmente dolorosa. “Um caso particular que realmente me machucou foi que minha melhor amiga na universidade, que era abertamente ressentida com a ideia do The Freedom Traveler. Para ela, eu tinha me “ocidentalizado” e estava pregando valores não-muçulmanos”.
Esses eventos, no entanto, não são suficientes para fazer Momal desanimar. Pelo contrário, ela tem buscado (e conseguido) novos apoios mundo afora e planeja novos passos – incluindo um aplicativo do TFT para celulares e a organização de uma conferência no Paquistão para reunir todas as apoiadoras e apoiadores do projeto.
Prêmios, indicações, menções honrosas e participações em conferências internacionais dão um impulso ainda maior ao TFT e seus valores. A mais recente delas é a indicação da campanha #Iamfree como uma das finalistas deste ano do Nelson Mandela Innovation Awards, na África do Sul.
Dentre os atos e palavras de incentivo que já recebeu, Momal lembra em especial de um depoimento (destacado abaixo) que recebeu de uma jovem turca que a ouviu durante uma palestra no Global Media Forum (GMF), na Alemanha, em julho deste ano. “Ele mostra para mim o quão importante é esse trabalho de dar poder à mulher”.
“Olá Momal, eu ouvi você falando no Global Media Forum e me senti muito próxima de você como mulher. Vivo na Turquia e preferia ser ignorada em vez de ser assediada durante toda minha vida e me fazer invisível. Invisível e a salvo, mas eu não era livre, não vivia. Então quando fui ao exterior por um semestre para poder estudar eu entendi o tipo de inferno que eu estava vivendo! Te parabenizo por sua coragem, porque eu odeio falar em público. Uma vez eu fiz uma apresentação de uma hora e meia e tive que ficar por três dias no meu quarto lidando com pós-estresse. Você também disse que trabalhou muito seu discurso e deixe-me dizer que você está muito bem agora! Estou muito feliz de conhecer você, e espero que um dia eu possa ser inspirada como você. Abraços!
Iniciativas como o TFT têm grande potencial para despertar consciências, disseminar informação e inspirar outros projetos mundo afora que ajudem a quebrar estereótipos que insistem em continuar de pé em pleno século XXI. Divulgar e incentivar tais realizações é o mínimo que pode ser feito em apoio a elas e por um mundo mais justo, independente de onde ou quem seja.
Links de interesse:
The Freedom Traveler (TFT) – http://thefreedomtraveller.com/
Como se juntar ao TFT – http://thefreedomtraveller.com/join/
Campanha IamFree – https://iamfree.thefreedomtraveller.com
Revista digital Speak Free – http://thefreedomtraveller.com/speak-free/