Nenhum local é seguro em Gaza. Essa afirmação, repetida há meses por organizações internacionais, foi reforçada pelo mais recente ataque das forças de defesa de Israel (IDP) contra um campo de refugiados em Rafah, no sul de Gaza, na noite de domingo (26).
De acordo com dados atualizados nesta segunda-feira, 45 pessoas moreram em razão do ataque. Há a expectativa de que esses números cresçam, à medida que novas vítimas sejam identificadas sob os escombros.
A cidade de Rafah é a única em Gaza que ainda conta com algum tipo de estrutura, apesar dos seguidos ataques aéreos de Israel, e se tornou o ponto de refúgio da população de Gaza deslocada de forma forçada em razão do conflito iniciado em 7 de outubro. Cerca de 1,5 milhão de pessoas estão vivendo na região.
Mesmo assim, Israel ainda planeja uma grande ofensiva terrestre contra Rafah, sob a alegação de que o local é o último bastião do Hamas em Gaza, e dizendo para que a população abrigada no local se desloque novamente para acampamentos provisórios instalados em áreas próximas.
Em comunicado emitido nesta segunda-feira, a Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) afirmou que as cenas relatadas a partir de Rafah são “horríveis”.
“Gaza é o inferno na terra. As imagens de ontem pela noite são mais uma prova disso”.
As hostilidades contra Gaza começaram como resposta de Israel ao ataque terrorista cometido pelo Hamas, grupo extremista que administra o território palestino desde 2007, que matou 1.200 pessoas no sul de Israel e capturou 240 israelenes como reféns.
Os ataques a campos de refugiados tem ocorrido com frequência por parte de Israel, sob o pretexto de mirarem líderes do Hamas e serem descritos por Tel Aviv como “precisos”. O primeiro deles ocorreu aina no final de outubro, tendo como alvo o campo de refugiados de Jabalya. Apesar das condenações de organizações internacionais, as hostilidades contra esses assentamentos prosseguem durante o conflito.
Reações
Embora o direito de reação a Israel tenha sido defendido por parte da comunidade internacional, o modo como o governo de Benjamin Netanyahu tem condizido o conflito cada vez mais leva Israel a uma posição de isolamento e de questionamento.
Em relação ao recente ataque em Rafah, chama a atenção a manifestação do presidente da França, Emmanuel Macron. Por meio de postagem nas redes sociais, ele expressou indignação com o ataque e exigiu cessar-fogo imediato
“Indignado com os ataques israelenses que mataram muitos refugiados em Rafah. Estas operações devem parar. Não existem áreas seguras em Rafah para civis palestinos. Faço um apelo pelo pleno respeito ao direito internacional e por um cessar-fogo imediato”.
Josep Borrell, chefe de política externa da UE, disse estar “horrorizado com as notícias vindas de Rafah sobre ataques israelenses matando dezenas de pessoas deslocadas, incluindo crianças pequenas.”
“Eu condeno isso nos termos mais fortes,” disse ele, acrescentando: “Não há lugar seguro em Gaza. Esses ataques devem parar imediatamente. As ordens da CIJ (Corte Internacional de Justiça) e o DIH (Direito Internacional Humanitário) devem ser respeitados por todas as partes.
Decisão da CIJ
O ataque contra o acampamento em Rafah ocorreu apenas dois dias depois de a Corte Internacional de Justiça (CIJ), o tribunal mais alto da Organização das Nações Unidas (ONU) para julgar disputas entre Estados, ordenar que Israel interrompesse todas as operações militares em Rafah. Embora a decisão seja obrigatória, a entidade não dispõe de força policial para garantir que o país a cumpra.
A corte também determinou que o governo israelense permitisse a entrada de ajuda humanitária pela fronteira entre o sul de Gaza e o Egito, além de garantir o acesso de observadores externos para monitorar a situação.
O governo de Israel, por sua vez, disse que alegações apresentadas são “falsas, ultrajantes e nojentas” e que a campanha militar “não levou e não vai levar à destruição da população civil palestina em Rafah”.