Este texto foi publicado originalmente no Global Voices em Português, com o qual o MigraMundo tem parceria de conteúdo
Texto e tradução para o Português por Rami Alhames
Um total de 18.000 refugiados palestinos que vivem em “condições desumanas” no Campo de Refugiados Yarmouk, em Damasco, capital da Síria, estão presos entre o martelo da fome e a bigorna do extremismo.
Bombardeados pelo regime sírio e desde 1 de abril sob o ataque de ISIS (sigla em inglês para Estado Islâmico), os refugiados palestinos estão há quase dois anos sem água e com pouca comida. O campo está localizado a cerca de 10 quilômetros de distância do palácio presidencial, mas isso não impediu que o regime do presidente sírio Bashar Al Assad atirasse bombas sobre a população, que voltou para casa, onde não tem alimento, com medo de aventurar-se nas ruas cheias de extremistas armados. De acordo com notícias que circulam na mídia social, ISIS está prendendo, executando e decapitando pessoas do campo enquanto combatem com outros grupos armados da oposição.
Muitos ativistas culpam a invasão de ISIS ao exército do regime Assad, que lhes deu a oportunidade de invasão. Eles observam que num momento em que era impossível entrar alimentos e assistência médica ao campo de refugiados palestinos, as milícias do ISIS apareceram de repente dentro do campo.
O martelo: morrer de fome
“Para saber como é em Yarmouk, corte eletricidade, água, aquecimento, coma uma vez por dia, viva no escuro e viva queimando madeira.” – Anas, residente do Yarmouk.
De acordo com a Organização das Nações Unidas de Socorro e Agência de Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), esta é a situação de 18.000 refugiados palestinos entre os 160.000 que viviam no Campo de Yarmouk. Eles permanecem no campo sem uma distribuição bem sucedida de alimentos e outras ajudas emergenciais desde o dia 6 de dezembro de 2014. Ainda que as pessoas tenham ido às ruas em 18 de janeiro de 2015 para protestar contra o cerco imposto pelo regime de Assad iniciado em julho de 2013, a crise deixou pelo menos 200 pessoas mortas de fome.
Depois de um ano da publicação de um vídeo mostrando o desespero que é adistribuição de alimentos em Yarmouk, outro documentário intitulado “Cerco” surgiu do coração do campo em 3 de abril registrando o dia a dia em quatro peças que refletem como as pessoas sofrem com a falta de alimentos e de luz.
Outro vídeo postado no dia 6 de fevereiro de 2015 por Sami Al Silwadi mostra um refugiado palestino culpando seu governo por deixar o campo morrer de fome sem tomar medidas contra o regime do Assad. Em seguida, o vídeo mostra o que parece ser um caminhão distribuído pão às pessoas, jogando os pacotes no ar para um sortudo. O refugiado acusa o presidente palestino Mahmoud Abbas:
“Tudo isso é fome, Abbas. Você está em Ramallah e não sabe o que o seu povo palestino está sofrendo aqui. Milhares de pessoas estão com fome aqui. Onde você está com isso? Que vergonha”.
A bigorna: extremismo até morte
A partir de 1º de abril, informações das redes sociais confirmaram que as forças do ISIS entraram no Campo de Yarmouk e agora controlam 90% da sua área. Os internautas estão seguindo de perto as notícias estas notícias dramáticas. Os usuários do Twitter relataram que ISIS entrou no campo depois que a frente Al Nusra, uma afiliada da Al Qaeda no Levante, facilitou seu acesso a partir de Hajar Aswad, uma cidade vizinha.
https://twitter.com/Terror_Monitor/status/583237861735948290/photo/1
“Síria – ISIS controla a maioria do campo dos refugiados palestinos – #Yarmouk em Damasco: PLO (Organização para a Libertação da Palestina) confirmou”.
https://twitter.com/TheSyriaCmpgn/status/583336558499094529/photo/1
“Um ano após a reação do mundo para esses milhares de famintos sitiados em Yarmouk, ISIS entrou no campo”.
Tom Finn e Linah Alsaafin explicaram a entrada de ISIS e como eles se aproximaram de um campo de refugiados de uma cidade vizinha:
https://twitter.com/tomfinn2/status/583383488293945344/photo/1
“Linah Alsaafin e eu perguntamos a um jornalista dentro do campo de Yarmouk: como ISIS entrou em Damasco?”
Enquanto Talal Alyan compartilhou uma foto de dentro do campo:
https://twitter.com/talalalyan/status/583301546617774080/photo/1
“Uma foto de combatentes de Akhnaf do um amigo em Yarmouk, que foram repelindo o ataque do ISIS durante o dia todo”
Um mapa dos partidos que controlam o campo foi compartilhado por Rami Al Lolah para seus 16K seguidores no Twitter, mostrando a área fragmentada controlada entre ISIS, os grupos armados palestinos, FSA (Exército Sírio Livre), o exército de Assad e Al Nusra.
https://twitter.com/RamiAlLolah/status/584037471035457536/photo/1
“Mapa da situação militar no campo de Yarmouk ao sul de Damasco”
Os ativistas não esperaram muito tempo para relatar assassinatos horríveis cometidos pelo ISIS, como confirmou Raqqa_SI conformou aos seus 21K + seguidores:
#ISIS beheaded alot of young people in #YarmoukCamp and Coordinating of #Yarmouk city didn't publish the photos because they are so terrible
— الرقة تذبح بصمت (@Raqqa_SL) April 4, 2015
“ISIS decapitando um monte de jovens no campo de Yarmouk e a coordenação da cidade de Yarmouk não publica as fotos por serem tão terríveis”.
Leia Também: The Situation in Yarmouk Refugee Camp has Reached Catastrophic Levels
Link original do texto no Global Voices em Português: http://pt.globalvoicesonline.org/2015/05/20/refugiados-yarmouk-siria-fome-morte/
Favor alterar: Texto de Rami Alhames, Traduzido para o Português por Rami Alhames