Por Priscilla Pachi
Com o lema “No one is free, until everyone is free!” (Ninguém é livre, até que todos sejam livres!), a pequena cidade alemã de Glückstadt, com cerca de menos de 15.000 habitantes, foi palco de uma manifestação pacífica apoiada por uma aliança de solidariedade a refugiados e grupos com iniciativas antirracistas da sociedade civil que se opõem à existência da prisão. O ato ocorreu no último dia 13 de maio.
Localizada no norte da Alemanha, no estado de Schleswig-Holstein, a prisão de Glückstadt entrou em operação em agosto de 2021 e, em 2022, mais de 200 pessoas já haviam sido detidas sendo que, para a maioria dentre essas, a detenção terminou em deportação.
Compartilhada entre os estados de Schleswig-Holstein, Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental e Hamburgo, esta prisão tem o estado de Schleswig-Holstein como responsável por toda a sua estrutura e funcionamento.
Protestos desde o início
Em 2019, tão logo apareceram os relatos oficiais sobre a instalação da prisão em Glückstadt, também se iniciou a campanha “Nenhuma prisão de deportação em Glückstadt e em outros lugares!” – contra a prisão e suas instalações. Desde então, são realizadas anualmente manifestações pela cidade e em frente ao próprio presídio com a demanda pelo fim desta e de qualquer prisão por deportação.
Para que a prisão se efetive, basta que imigrantes e refugiados sejam considerados suspeitos da possibilidade de escaparem de uma deportação. Privados de liberdade, sem terem cometido crime, a permanência no sistema prisional pode chegar até 18 meses enquanto aguardam o fim do processo. Destaca-se que, o fato de já estarem presos, facilita a deportação do país por parte das autoridades alemãs.
A deportação também pode ocorrer para áreas de desastres ambientais como os países que foram recentemente vitimados pelo terremoto de fevereiro deste ano (Curdistão, norte da Síria e Turquia no início de fevereiro de 2023).
“No one is free, until everyone is free!”
De um lado, lutando contra este cenário hostil e desumano, os detentos realizam greve de fome e tentativas de fuga, sofrem de estresse psicológico pela perda da liberdade e pelo tratamento recebido no sistema prisional e, por outro, cerca de 200 manifestantes se reuniram no dia 13 de maio em Glückstadt para pedir o fim da prisão. Cantos entoaram o protesto contra o sistema, a polícia fronteiriça europeia (Frontex) e o tratamento dado aos imigrantes e refugiados.
A marcha pela cidade fez paradas em pontos estratégios para dar visibilidade à toda população sobre a importância do movimento e, nesses momentos, ativistas liam textos que relatavam o tratamento dentro da prisão e cantores se apresentavam com músicas de protesto. Na praça central e ao som do acordeão, “Bella Ciao” foi tocada como símbolo da resistência antifascista, durante a Segunda Guerra Mundial.
A última parada, em frente à prisão de Glückstadt, cercada por um muro de seis metros de altura, que separava os manifestantes dos detentos que aguardam por uma decisão de suas vidas. Cartazes foram anexados nas grades em frente à prisão e um ex-detento proferiu um discurso para apoiar o movimento e lutar pela libertação dos presos, o fim da prisão e pelo direito de migrar pois, como foi mencionado em diversas falas, nenhum ser humano é ilegal, e as manifestações continuarão até que a prisão seja fechada. Afinal, “No one is free, until everyone is free!”.
Sobre a autora
Priscilla Pachi é doutoranda PPGH-USP, Visiting PHD student at Kiel University (Germany) e bolsista CNPq