Os migrantes são em geral apontados como bodes expiatórios e considerados culpados por “roubar empregos e vagas nos serviços públicos”. Mas eis que ao menos duas localidades estão recorrendo ou já recorreram aos “forasteiros” recentemente para sobreviver e repor perdas populacionais sofridas nos últimos anos.
O exemplo mais recente é o de Detroit, uma das cidades mais conhecidas dos EUA, berço da indústria automobilística nacional e que ainda recebe o tradicional Salão do Automóvel de Detroit. O governo do Estado de Michigan deve solicitar a Washington a criação de 50 mil vistos especiais nos próximos cinco anos para povoar uma cidade que já chegou a ter 1,8 milhão de habitantes na década de 1950 e hoje tem apenas 700 mil – sendo que, destes, 38% vivem abaixo da linha de pobreza. A vista do lago Eire ainda pode ser imponente, mas não esconde os problemas sócio-econômicos de Detroit.
A intenção do governo local é atrair estrangeiros com alta qualificação profissional, empreendedores ou com habilidades especiais em tecnologia, ciência, arte e setor automotivo que se comprometam a viver e trabalhar em Detroit. Mesmo ainda sem resposta oficial da Casa Branca, a expectativa é que o pedido do Estado de Michigan seja atendido.
Além do setor automotivo, Detroit é um importante centro da cultura negra, da gravadora de soul music Motown, que lançou artistas e grupos como Diana Ross e Jackson Five. Atualmente, no entanto, tem o maior índice de criminalidade dos EUA e quarteirões inteiros abandonados ou destruídos. Nem a recuperação recente das montadoras foi suficiente para impedir que uma das cidades mais importantes do país decretasse falência, com dívidas na casa dos US$ 20 bilhões.
A aldeia italiana que sobreviveu graças aos “homens do mar”
Localizada na costa sul da Itália, região da Calábria, a aldeia de Riace quase teve a extinção como destino devido à emigração de jovens em busca de oportunidades. A salvação veio no começo dos anos 2000 graças a uma iniciativa do prefeito Domenico Lucano, que apostou no acolhimento a imigrantes para repovoar o local – que tinha caído de 3.000 para menos de 800 habitantes.
Atualmente, são cerca de 1.700, sendo 300 deles chamados de “homens do mar”. A expressão, antigamente usada para se referir aos piratas, hoje designa os imigrantes e refugiados – a maioria originários da África e Ásia – que chegam diariamente à Itália de barco em locais como a ilha de Lampedusa.
Empregados em pequenas fábricas e estabelecimento de Riace, os novos “homens do mar” ajudam a mover a economia local. O portal Deutsche Welle conta um pouco da história de Riace e dos refugiados que hoje vivem e trabalham na aldeia.
Apesar de serem dois casos bem distintos, os exemplos de Riace e Detroit ajudam a derrubar a teoria – defendida por diversos estudiosos e nacionalistas xenófobos de plantão – de que os imigrantes exercem impacto negativo sobre a economia de um país, região ou cidade.
Com informações dos portais Opera Mundi e Deutsche Welle