Por Danyel André Margarido
Por mais pacatas que sejam nossas vidas, e pelo conforto que a rotina nos propicia, devemos ter sempre a certeza de que o mundo não para de girar. Acontecimentos grandes e pequenos se desenrolam a todo o momento. Um exemplo disso é estarmos próximos ao fim da pandemia de Covid19, ao mesmo tempo que o mundo testemunha a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Tomar parte na Arte que é a Mobilidade Global é entender que não se trabalha somente com processos, mas também com cenários políticos adversos. O profissional de Global Mobility trabalha em meio a pandemias e epidemias, guerras e outros conflitos, em adaptações culturais que podem ser difíceis.
Tudo isso se dá pois Global Mobility trabalha com pessoas, ainda que sejam aquelas em uma condição migratória e financeira mais estável que outros grupos migrantes. São famílias e histórias, e todas elas são afetadas por questões de segurança.
A constante mudança, muitas vezes invisível
Um desvio constante é colocar todo o trabalho de Global Mobility em um cabresto processual, onde auxiliamos na movimentação entre países, e deixamos esse expatriado na velocidade de cruzeiro.
Entretanto, quando se olha para as movimentações de pessoas pelo mundo, pode-se ver de maneira nítida que são várias as forças que as afetam. A pandemia de Covid, por exemplo, fez com que várias pessoas deixassem suas casas; as guerras, como a que ocorre na Ucrânia, fizeram e seguem fazendo o mesmo. E até o clima já faz o mesmo mundo afora.
A questão da guerra, ou melhor, das guerras, dobra uma das responsabilidade do profissional de Mobilidade Global: a Aferição do País – ou Country Scouting, no termo em inglês. Em suma, essa pessoa cuida de aferir as questões de segurança do país que vai receber o novo expatriado, verificando possíveis exposições que possam acontecer nesse processo. Pequenas mudanças que são inseridas na jornada da expatriação, que agora não pode mais ser “vendida” separadamente.
Mobility acompanhada de segurança
Diante deste novo cenário mundial, a Mobilidade Global, que sempre viu uma expatriação com as lentes da Segurança, passará a aumentar o grau dessas lentes. Sim, é verdade que toda a movimentação tem em vista a segurança das pessoas sendo expatriadas. Entretanto, agora esse tema passará a ser tão importante quanto a Saúde – que já foi frisada pela Pandemia.
Os valores dentro de Mobilidade Global passam por mudanças de foco. Claro, allowances chamados de “Hardship” ou “Destination” têm como foco diminuir situações diversas de exposição do expatriado e sua família em no novo país – que pode ser mais dificil ou mesmo perigoso comparado ao seu país de origem, e vêm sendo aplicados há muito tempo.
Entretanto, em meio a guerras e rumores de guerras, a segurança ganha um status ainda maior na jornada do expatriado e se sua família. E a partir das próximas expatriações, especialmente naquelas para países próximos aos que estão em conflito, contarão com alguns pontos específicos à segurança nas ferramentas do Global Mobility Advisor:
Preparo de Segurança: Antes da expatriação, o preparo sempre fez parte das atividades de Mobilidade Global. Explicar os pormenores da jornada, munir o profissional com o conhecimento necessário, conversar com a família, acolchoar o impacto da chegada, contar com parceiros…
Agora, além de pontos como esses, o Country Scouting, para verificar o país, a cidade e o bairro para situações de segurança. E um bom treinamento de segurança para todos os que estão sendo expatriados pode ajudar a acalmar ânimos, e preparar para eventuais situações de risco.
Comunicação: Durante a jornada da expatriação, uma ótima ferramenta é a Comunicação periódica com a pessoa expatriada, com a família, com o RH e Líderes locais. Essas conversas serão ainda mais importante, afinal países próximos ao conflito tendem a ter um aumento de tensão. Manter um ciclo de comunicação, um canal aberto para eventuais surpresas é sempre bom. Ainda contar com o PAE/EAP, para ajudar em questões de saúde mental em períodos de tensão pode ser um bom aliado.
Alinhamento: Ainda durante a expatriação, é imporante estar alinhado com os provedores locais, escutando o que eles trazem em relação ao momento do país, além de ter um protocolo de saída do país, caso isso venha a ser necessário. (Ainda, pode ser interessante rever contratos de aluguel para possíveis quebras antes do período acordado.). Além disso, criar um canal de comunicação com o consulado do país de origem no país receptor ajuda no alinhamento de todas as partes envolvidas, além de trazer a atenção consular sobre um nacional do país de origem que está vivendo no país receptor.
E o que fazer agora?
Diante desse cenário, ter a pessoa expatriada preparada e todos os stakeholders em constante comunicação, bem como o alinhamento com a situação do país, pode ajudar no pior cenário possível – que, caso aconteça, vai requerer ações rápidas para a retirada da pessoa e da sua família do país em segurança. O compromisso dos profissionais da área é fazer o máximo para garantir a segurança da população expatriada.
Mas essas ações somente olham para o expatriado, alguém que já possui privilégios por estar assumindo uma posiçao em outro país. Dessa forma, apoiar localmente as pessoas que estão sofrendo em meio à guerra é de suma importância. Afinal, se falamos de pessoas, de famílias e de histórias, não podemos esquecer que aqueles que estão sendo invadidos, aqueles que lutam, pois também possuem famílias e escrevem suas próprias histórias.
Os profissionais de Mobilidade Global, além de cuidar do público-alvo, têm um compromisso com as pessoas que deixam seus países por causa da guerra. Uma das formas mais seguras é pela ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – que, aqui no Brasil, conta com várias formas de ajudar essas pessoas que perderam tudo. (Clique neste link e saiba como pode ajudar!).
Que possamos sempre contribuir, em meio às constantes mudanças do mundo, para que pessoas possam desfrutar de experiências em outros países por vontade própria.
Sobre o autor
Danyel Andre Margarido possui mais de dez anos de experiência em Mobilidade Global e Expatriados, atuando como consultor de Global Mobility na EMDOC, e fundador da Altiore Experience. Atualmente no setor de Global Mobility do Prysmian Group, já realizou a movimentação de mais de 2.000 famílias pelo mundo. É formado em Relações Internacionais pela UniFMU, com especialização em Direito Internacional pela Escola Paulista de Direito. Tem MBA em Recursos Humanos, pela Anhembi Morumbi, e um mestrado profissional em Recursos Humanos Internacionais, pela Rome Business School.
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