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sexta-feira, novembro 22, 2024

Concurso “Lar é onde o Coração está” coloca crianças refugiadas como protagonistas

O processo de migrar por si só já implica uma série de questionamentos e choques culturais para uma pessoa adulta. Agora, tente imaginar a mesma situação para uma criança, ainda em formação cultural e social, mas que já pode ter enfrentado situações que causariam traumas em muitos adultos – especialmente se essa migração é na verdade um refúgio, quanto o ato de migrar vira uma questão de vida ou morte.

Dar visibilidade à criança e a como ela vê esse complexo processo de deixar a terra natal rumo a outro país é o objetivo do concurso cultural “Lar é Onde o Coração Está”, promovida pela ONG IKMR – Eu Conheço Meus Direitos, em parceria com o Museu da Imigração de São Paulo – que também tem promovido atividades específicas para crianças em sua programação – e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).

Concurso "Lar é onde o Coração está" coloca a criança refugiada em perspectiva. Crédito: IKMR
Concurso “Lar é onde o Coração está” coloca a criança refugiada em perspectiva.
Crédito: IKMR

A partir do tema “Lar é onde o Coração está”, com ênfase na acolhida realizada pelo país, através de desenhos ou textos, a criança deve retratar como se sentiu quando chegou ao Brasil, qual foi a sua percepção e como ela assimilou essa nova realidade. O concurso é destinado especialmente a crianças entre 3 e 11 anos, solicitantes de refúgio e refugiadas em todo território nacional, mas possui ainda duas categorias especiais para adultos: pais ou acompanhantes e profissionais e voluntários que atuam na área.

O lançamento ocorreu no último dia 7 de setembro, durante a atividade promovida no Colégio Santa Cruz, zona oeste de São Paulo, pelo Instituto Adus e pela ONG Atados. As inscrições vão até 12 de outubro e os vencedores serão anunciados no dia 20 de novembro, em um evento promovido no Museu da Imigração em comemoração pelo Dia Mundial da Criança e divulgados na página:  https://www.facebook.com/lareondeocoracaoesta. O regulamento e a ficha de inscrição podem ser acessados por meio deste link.

“Não há uma definição que se aplique melhor que o próprio tema: ‘Lar é onde o coração está’” Essa tem que ser a perspectiva de quem chega, e de quem acolhe. Temos que partir deste princípio. O processo de acolhida pode ser decisivo na relação que será desenvolvida posteriormente entre os refugiados e o nosso país e ter uma das leis mais avançadas sobre o refúgio do mundo, não é o suficiente. Mais importante que ter uma nova casa, é se sentir em casa”, explica Vivanne Reis, fundadora e diretora da IKMR.

Na entrevista abaixo, Vivanne dá mais detalhes sobre a motivação e a mensagem que o concurso quer passar à sociedade brasileira.

Crianças participam de atividade promovida no último dia 7 pelo Instituto Adus, no qual a ONG IKMR também marcou presença. Crédito: Sofia Ferruzzi Tahan/IKMR
Por meio dos desenhos, concurso vai destacar os desafios que as crianças refugiadas enfrentam, a partir da visão delas próprias.
Crédito: Sofia Ferruzzi Tahan/IKMR

De onde veio a ideia para criação da campanha? Ela é inspirada em alguma outra iniciativa semelhante?
São raras as iniciativas que colocam a criança refugiada em perspectiva, por isso escolhemos falar sobre o refúgio a partir do seu olhar, das suas experiências e dos seus desafios, através de uma forma lúdica para que ela se sinta a vontade para se expressar.  A criança que busca refúgio no Brasil é quase um imigrante invisível. Dificilmente ela é foco nas discussões. Existe uma grande lacuna sobre esse grupo específico quando se trata de dados, estatísticas e informações relevantes.

Como se deu o envolvimento do Museu da Imigração na iniciativa?
O novo projeto museológico do Museu da Imigração contempla desde os deslocamentos mais antigos, notadamente os que ocorrem no final do século XIX e princípio do século XX, mas tem um olhar especial às migrações como um fenômeno contemporâneo. A partir desse entendimento, passou a se aproximar de iniciativas atuais e instituições que trabalham com quem hoje são migrantes, refugiados e solicitantes de refúgio.
Nesse sentido, a aproximação e parceria com a IKMR  se deu em razão de uma exposição sobre a criança migrante e o brinquedo e seu desenvolvimento tem como primeiro resultado a participação do Museu no Concurso: Lar é onde você está.

As inscrições foram abertas no dia 7. Como foi a adesão e a resposta dos refugiados e solicitantes até agora em relação à campanha?
Tanto as crianças quanto os adultos estão reagindo de forma muito positiva. Refugiados de vários lugares do país estão se preparando para participar. E a premiação não é a maior atração, eles estão empolgados com a oportunidade de poder compartilhar suas percepções e histórias sobre este país que os acolheu.

Na sua opinião, que mensagem a campanha deixa tanto para os refugiados como para a sociedade brasileira?
Não há uma definição que se aplique melhor que o próprio tema: “Lar é onde o coração está.” Essa tem que ser a perspectiva de quem chega, e de quem acolhe. Temos que partir deste princípio. O processo de acolhida pode ser decisivo na relação que será desenvolvida posteriormente entre os refugiados e o nosso país e ter uma das leis mais avançadas sobre o refúgio do mundo, não é o suficiente. Mais importante que ter uma nova casa, é se sentir em casa.

Para relembrar

A questão do refúgio ganha cada vez mais importância no debate migratório brasileiro. Com os novos pedidos deferidos pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) no fim de julho (e comemorados durante a Copa do Mundo dos refugiados que ocorreu no começo de agosto), o país passou a contar oficialmente com 6.588 refugiados em seu território – número que deve subir muito em breve.

Na ocasião, o Conare decidiu conceder refúgio no Brasil a 680 estrangeiros, sendo 532 sírios. Com as novas autorizações, eles passaram a compor a maior população estrangeira nesta condição no Brasil, com 1.245 pessoas. Depois deles, estão colombianos (1.169), angolanos (1.066), congoleses (681) e libaneses (391), segundo dados do Ministério da Justiça.

Além dos 532 sírios, obtiveram o benefício 57 pessoas do Mali, 22 da República Democrática do Congo, 19 da Nigéria, 15 de Guiné-Conacri, 5 de Camarões, 4 de Angola, 3 de Togo, 3 do Paquistão, 2 da Colômbia, 2 da Costa do Marfim, 1 do Líbano, 1 da Palestina, 1 da Sérvia e 1 do Sudão. Outros 14 pedidos foram negados.

Atualmente o Brasil tem refugiados reconhecidos de mais de 80 nacionalidades diferentes.

Links de interesse:

IKMR: http://www.ikmr.org.br/inicio/
Página do concurso no Facebook: https://www.facebook.com/lareondeocoracaoesta
Regulamento: http://www.ikmr.org.br/2014/09/regulamento/

 

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