A comunidade congolesa residente no Rio de Janeiro aproveitou o último Dia da Consciência Negra, lembrado sempre em 20 de novembro, para mostrar sua voz e protestar contra a guerra que há duas décadas afeta a terra natal e causa deslocamentos forçados e derramamento de sangue sobre seu povo.
Cerca de 100 pessoas se reuniram na Avenida Atlântica, no bairro de Copacabana, com cartazes pedindo paz e democracia, e cantaram músicas e o hino do país africano. Alguns integrantes do movimento explicavam às pessoas que passavam pelo local a situação do Congo. Depois, o grupo saiu em passeata cantando e dançando até o Forte de Copacabana, onde foi realizado um ato ecumênico.
Segundo maior país da África e um dos mais ricos em minérios e biodiversidade no mundo, a República Democrática do Congo (ex-Zaire e antiga colônia belga) sofre desde 1996 com uma guerra civil, especialmente na região de North Kivu, próximo à fronteira com Uganda e Ruanda. Um conflito que já matou mais de 6 milhões de pessoas e que já é considerado o mais sangrento no mundo desde a Segunda Guerra Mundial.
No entanto, a situação no Congo continua praticamente desconhecida de grande parte da comunidade internacional. E outro objetivo do ato no último dia 20 foi justamente de sensibilizar o povo brasileiro para a realidade vivida pelos congoleses que continuam no país natal.
“A gente resolveu fazer esse ato porque o dia tem um significado para o povo negro e para mostrar o desejo do povo congolês pela paz e na procura pela liberdade e a democracia. Nós fugimos da guerra e estamos só pedindo paz e democracia. A falta de democracia e a guerra é que fazem a gente fugir para o Brasil ou outros países”, explica o refugiado congolês Charly Kongo, que vive há oito anos no Brasil, em entrevista à Agência Brasil.
De acordo com a Cáritas RJ, os congoleses são a maior comunidade refugiada no Estado do Rio, com 868 refugiados reconhecidos pelo governo brasileiro e outros 600 solicitantes de refúgio. No plano nacional, os congoleses são a quarta maior comunidade refugiada no Brasil – quase mil pessoas – atrás dos sírios, angolanos e colombianos.
Também em entrevista à Agência Brasil, a agente de proteção legal no programa de refugiados da Cáritas RJ Aryadne Bittencourt explicou que o ato, o primeiro organizado pelos refugiados, teve o objetivo de aproximar o brasileiro da realidade da República Democrática do Congo.
“O objetivo de trazer esse movimento para a praia é tentar aproximar uma realidade que parece distante, que está no meio da África, com décadas de violência e morte, por uma realidade aqui no Brasil. A diáspora congolesa está espalhada para o mundo inteiro”.
Embora a situação dos congoleses continue desconhecida para o grande público, a comunidade congolesa disperda pelo Brasil tem se esforçado para quebrar essa barreira. Em junho passado, aproveitando o aniversário da independência do país (30/06), congoleses residentes em São Paulo organizaram um debate sobre a história e a atualidade no Congo, citando inclusive o interesse de grandes corporações na guerra que assola o país para se apropriarem com maior facilidade de recursos minerais. Os congoleses também aproveitam atos culturais e políticos relacionados à temática migratória para pautarem o tema.
Com informações da Agência Brasil, Por Dentro da África e Opinião e Notícia