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sexta-feira, novembro 22, 2024

Congresso na Espanha reuniu gerações de pesquisadores, ativistas e acadêmicos das migrações

O VIII Congreso de Migraciones Internacionales en España, ocorrido entre os dias 16 e 18 de setembro passado, reuniu centenas de acadêmicos, pesquisadores e ativistas de todos os continentes na cidade de Granada, sul da Espanha.

Por Carla Alexsandra Ribeiro*

O tema das migrações internacionais tem ocupado cada vez mais espaço na mídia nacional e internacional. O meio acadêmico tem aberto mais campos de pesquisa e estudos para se dedicar ao tema multidisciplinar das migrações internacionais. Prova disso são os diversos eventos, congressos e seminários que vêm ocorrendo com frequência nos últimos dois anos.

Um desses eventos aconteceu neste mês de setembro na cidade de Granada, sul da Espanha, cidade de clara inspiração árabe. A Universidade de Granada e o Instituto de Migraciones promoveram um importante encontro entre gerações de acadêmicos e pesquisadores de diferentes campos de pesquisa e diversos países, o que contribuiu muito para a excelente troca de informações, experiências e metodologias.

Congresso reuniu pesquisadores, ativistas e acadêmicos do mundo todo em Granada (Espanha). Crédito: Carla Alexsandra Ribeiro
Congresso reuniu pesquisadores, ativistas e acadêmicos do mundo todo em Granada (Espanha).
Crédito: Carla Alexsandra Ribeiro

O cuidado de um ano de trabalho na preparação do evento era evidente. Nos dias que antecederam o início do Congresso recebemos diversos informes e a possibilidade de agendar o almoço na Cafeteria da Universidade com pagamento online. Isso facilitou as filas nos refeitórios e o serviço do restaurante. Recebemos também mapas com o acesso à Universidade e informes sobre os atrativos da cidade de Granada, que são muitos.

No primeiro dia do Congresso, os comunicantes foram recepcionados com um livro que continha todos os resumos de todas as comunicações escolhidas pelos simpósios (quase 600 resumos), uma publicação editada e disponível no sítio do Instituto de Migraciones (http://migraciones.ugr.es/congresomigraciones2015/index.php/historico/simposios). Recebemos, também, um pen drive com o mesmo conteúdo. Também foi oferecido um coquetel de boas vindas chamado de “copa” com pratos típicos da região.

Com 39 simpósios diferentes a serem apresentados em apenas três dias de encontro, o tempo para cada apresentação ficou muito curto. No simpósio 18, por exemplo, no qual participei com meu artigo sobre a política de imigração para jovens e crianças nos Estados Unidos da América, uma análise do Projeto Dream Act, o tempo de comunicação foi de apenas dois minutos. Isso provocou um desconforto, tanto da parte dos coordenadores quanto da parte dos comunicantes que frequentemente passavam desse tempo.  Para minimizar a pouca visibilidade dos trabalhos, cada um dos comunicantes preparou um resumo em inglês ou espanhol, que foi trocado entre os participantes, contendo seu contato.

Os simpósios aconteceram simultaneamente. Ocupou-se, praticamente, todo o prédio da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Granada. Em cada uma das salas podia assistir ao simpósio que mais lhe interessasse. Temas relevantes e interessantes foram apresentados em cada um dos simpósios: a condição de crianças, jovens e adolescentes no processo migratório; cinema; literatura; comunidades religiosas e solidariedade; Direitos Humanos; diversidade; gênero; trabalho; integração de coletivos vulneráveis; campos de refugiados; realidade sociofronteiriça; impactos da migração na sociedade receptora e original; saúde, educação e processos de exclusão; estigma e vitimização de imigrantes irregulares; estereótipos; racismo e a condição dos muçulmanos na Europa.

A apresentação de variáveis do tema demonstrou tanto a importância da discussão das migrações na sociedade europeia, destino atual de um grande fluxo de imigrantes e refugiados, quanto à preocupação com os resultados desse impacto na sociedade, visto que a maioria dos comunicantes do Congresso era oriunda do continente europeu. Essa constatação pôde ser percebida também nos meios de comunicação europeus, na mídia escrita e na televisiva, que não deixam de abordar o assunto diariamente. Em vários programas televisivos há debates entre os que defendem e os que repudiam a recente onda migratória e, ainda, aqueles que se propõem a explicar o fenômeno e a proporem soluções.

Outra parte importante do Congresso foram as aulas magnas que ocorreram em sessões especiais. Além da aula inaugural, a aula sobre ativismo e investigação foi muito interessante. Contando com ativistas e acadêmicos falando em videoconferência diretamente dos campos de refugiados na Jordânia e no norte da África, pode-se ter uma ideia da difícil realidade e dos desafios enfrentados pelos migrantes. Marta Bellingreri, ativista italiana que trabalha em campos de refugiados sírios, como em Zaatari e Azraq na Jordânia, nos deu informações importantes que proporcionaram uma reflexão sobre as condições de vida nesses campos e uma preocupação quanto ao destino de milhares de crianças que lá vivem. Seu trabalho pode ser pesquisado na rede mundial de computadores.

No último dia do Congresso, outra importante aula magna foi ministrada pelo Professor Ramón Grosfoguel da Universidade da California-Berkeley. Com o tema das teorias das migrações, o Professor Grosfoguel apresentou-nos argumentos interessantes que poderiam desconstruir, por exemplo, a teoria de Alejandro Portés sobre capital social. Apontando eventos que demonstram o colonialismo ocidental através do genocídio e do epistemicídio ocorridos em um lapso temporal de 200 anos (1450 e 1650), o renomado acadêmico fez com que a última aula do Congresso fosse extremamente concorrida e muito interessante. Suas aulas também podem ser assistidas pela internet.

Como não poderia ser diferente, um evento como esse nos aproxima de outros acadêmicos e proporciona uma interação e uma troca de experiência muito importante e amistosa. Despedimo-nos com a promessa de nos vermos daqui a dois anos em Barcelona. Portanto, aos que se interessam ou estudam sobre o tema, as submissões para o próximo Congresso ainda não estão abertas, porém fiquem na expectativa, pois, como eu ouvi de outros participantes, esse próximo Congresso promete ser ainda melhor!

*Carla Alexsandra do Carmo Ribeiro é Mestranda em Política Social – Bolsista CAPES pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

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