Com trajetória dedicada a divulgar a cultura peruana no Brasil, Oscar Vasquez-Solis aproveita o aniversário da independência do Peru para inaugurar o Pisco na capital paulista
Por Eva Bella
Colaboração de Rodrigo Borges Delfim
Em São Paulo (SP)
Os anos 70 foram especiais para Oscar Vasquez-Solis, nascido em Lima e importante promotor da cultura peruana no Brasil. Ele aguardava ansioso pelos fins de semana quando ia com sua família para Pisco, terra de seu pai (localizada no litoral sul do Peru, a cidade foi o refúgio escolhido pelos avós espanhóis, que tinham fugindo do horror da Segunda Guerra Mundial). Com o pai e seus companheiros, saía ainda no amanhecer para o alto-mar em barcos, podendo praticar a pesca submarina, ficando até a hora do almoço. Então, limpavam os peixes e frutos do mar obtidos na jornada e preparavam o delicioso ceviche, temperando somente com sal e limão.
“Mas não terminava aí, a tarde ia caindo com seu tom alaranjado sobre as praias desertas e nessa hora meu pai puxava o violão e eu pegava o cajón [instrumento de percussão típico do Peru] e aí cantávamos para agradecer as coisas boas que a terra e o mar nos davam”. Enquanto Oscar fala, parece que o cheiro do mar, dos peixes, o vento e o barulho dos pássaros se tornam reais, pairando sobre a conversa, aqui mesmo em São Paulo.
Morou com os pais até os 22 anos e depois foi para Espanha, onde tinha família e cursou gastronomia por dois anos, tempo no qual aproveitou para conhecer a culinária mediterrânea, francesa e italiana. Passou por locais como Madri, Barcelona e as Ilhas Canárias antes de retornar ao Peru, com vontade de iniciar algo. O pai tinha uma revista de transporte, onde trabalhou como gerente aproximadamente 12 anos, sempre com reuniões com comida. Foi nela onde começou a escrever sobre gastronomia.
Depois foi para os EUA, onde ficou por nove anos e atuava como chef em diversos restaurantes. Mas o destino o trouxe até o Brasil em 2010, quando foi convidado a ser administrador da empresa de transporte Ormeño, que foi a primeira empresa a ligar São Paulo a Lima – viagem que já foi considerada a mais longa de ônibus do mundo. Também realiza trabalho social junto ao Consulado peruano, que ajuda alguns conterrâneos a retornar à sua terra natal.
Do ônibus ao ceviche
Quando chegou ao Brasil, percebeu que haviam poucas opções de gastronomia peruana. Então decidiu empreender.
Começou convidando os poucos restaurantes que tinha aqui, chamou também cozinheiros, food trucks e assim promoveu a primeira Expo Ceviche em São Paulo (2012), no Instituto Cervantes, com intuito de divulgar o prato mais peruano, que une elementos da costa, da serra e da selva. Atualmente a Expo Ceviche já faz parte do calendário de eventos da capital paulista.
Os primeiros restaurantes peruanos em São Paulo foram criados para atender à comunidade, ajudando os conterrâneos a matar a saudade da sua comida. Isso aconteceu de forma simples, com pratos quentes, e quando o ceviche já tomava conta do mundo, aqui se iniciou esse movimento. Com a Expo Ceviche, os cozinheiros ganharam maior projeção, começando assim os investimentos e o atendimento ao público brasileiro. A nova geração de cozinheiros peruanos que chega ao Brasil é mais experiente e pronta para atender o público sem perder sua originalidade. Hoje, bairros paulistanos como Jardins, Pinheiros, Vila Madalena, Morumbi, Tatuapé já possuem restaurantes peruanos.
Oscar apoia novos restaurantes, inclusive com a Revista Paila, que completa 2 anos e ajuda a divulgar a cultura peruana em todas suas vertentes. A revista compilou todos os restaurantes peruanos no Brasil, tendo seus maiores representantes em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Por esse trabalho em solo brasileiro, Oscar ganhou o título Homem do Ano 2012, reconhecimento dado pelo governo peruano por ser o cidadão do país que mais divulgou a cultura do Peru no exterior.
Oscar é também ligado à musica e atualmente canta e toca cajon na Banda R. D. Rumberos, que conta ainda com músicos cubanos e brasileiros e traz músicas afro-peruanas – o conjunto foi uma das atrações da Semana de Arte e Gastronomia Peru – Brasil, que aconteceu em São Paulo no mês de junho.
Nos Jardins, mais um pedaço do Peru
E para finalmente realizar um sonho, Oscar e seu sócio, Alfredo Kon, inauguram em São Paulo neste dia 28 de julho o Restaurante Pisco, no bairro dos Jardins.
A data e o nome não são por acaso: a primeira aproveita o dia em que se comemora a Independência do Peru; já o segundo homenageia ao mesmo o local de refúgio na juventude e a famosa bebida peruana – que também é reivindicada pelo Chile.
O pisco e o ceviche, aliás, serão os carros-chefes do restaurante, que tem sua decoração inspirada no sul do Peru e assinada pelo artista plástico peruano Adrián Ilave. Atrações culturais pontuais também devem acontecer no espaço do restaurante, procurando fazer do local um novo pedaço do Peru na capital paulista.
Restaurante Pisco
Horário: segunda a sexta-feira, das 12h às 22h; sábados e domingos, das 12h às 23h.
Endereço: Alameda Campinas, 656 – Jardins, São Paulo (SP).
Telefones: (11) 3251-2334 e 3171-3090
Observações: o restaurante possui acesso para cadeirantes, wi-fi, ar-condicionado e música ambiente. Não possui área de fumantes.