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quinta-feira, março 28, 2024

Documentário da Al Jazeera retrata imigrantes no Acre

A situação dos imigrantes em Brasileia (AC), que recentemente voltou a aparecer na mídia brasileira, chegará às telas de milhões de pessoas hoje no mundo todo com o documentário Ticket to Paradise (Passagem para o Paraíso, em tradução livre), do brasileiro Rogerio Soares. A produção será veiculada pelo canal em inglês da emissora Al Jazeera, sediada no Qatar – para ver no Brasil, somente pela internet, no site do canal ou no YouTube.

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A produção é focada na relação de trabalho entre dois personagens, Damião e Ricardo: o primeiro, funcionário da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Acre, é o responsável pela recepção dos imigrantes e praticamente o único elo destes com o governo brasileiro; o segundo é haitiano e por três meses ajudou Damião, de forma voluntária, na recepção aos demais migrantes, muitos deles seus compatriotas, antes dele próprio conseguir um emprego e partir para o Sul do Brasil.

Damião, responsável pela recepção dos imigrantes e que administra o alojamento. Crédito: reprodução
Damião, responsável pela recepção dos imigrantes e que administra o alojamento.
Crédito: reprodução

Ticket to Paradise retrata uma região que ficou conhecida nos últimos anos como porta de entrada de imigrantes do mundo todo, após longas jornadas que passam por outros países latino-americanos e nas quais estão sujeitos à toda sorte de problemas e extorsões. Uma vez em Brasileia, ficam à espera de uma oportunidade de trabalho em outras regiões do Brasil, alocados em instalações improvisada e que desde muito tempo são insuficientes para atender a crescente demanda.

Nessas condições, problemas diversos são inevitáveis, de superlotação e falta de gêneros básicos a eventuais brigas entre os ocupantes do alojamento – chamado, inclusive, de campo de refugiados no próprio documentário e por outras organizações.

Vista interna do alojamento onde dormem os haitianos. Crédito: Reprodução
Vista interna do alojamento onde dormem os haitianos.
Crédito: Reprodução

Além de caro (há imigrantes chegam a pagar até US$ 7.000 a coiotes pela travessia até o Acre), esse “ticket” muitas vezes não significa uma passagem para o paraíso, sendo que a espera no Acre por uma oportunidade de trabalho pode levar semanas ou até meses. Para Ricardo, no entanto, o simples fato de estar no Brasil e não no Haiti já significa uma esperança de uma vida melhor. “Por exemplo, eu não estou trabalhando, mas já estou no Brasil. Então, vivo com esperança e não em desespero”. Tal esperança se tornou realidade quando Ricardo aceitou uma vaga de trabalho indicada pelo próprio Damião.

O haitiano Ricardo, que ajudou Damião, ao lado do diretor Rogerio Soares. Crédito: reprodução/ Al Jazeera
O haitiano Ricardo, que ajudou Damião, ao lado do diretor Rogerio Soares.
Crédito: reprodução/ Al Jazeera

A dificuldade maior é de encontrar trabalho para as mulheres, já que a maioria das empresas procura pessoas do sexo masculino. Uma das passagens do documentário mostra uma mulher de 50 anos tentando convencer um recrutador que está apta a trabalhar como camareira, sem sucesso.

No documentário, há imigrantes haitianos que elogiam o tratamento recebido por aqui e o comparam com situações vividas, por exemplo, na República Dominicana. “Éramos tratados como cachorros”, disse um deles. Já Damião diz que a população local, antes simpática devido à novidade trazida pela chegada dos imigrantes, agora está impaciente com eles. No entanto, ele próprio ressalta que aprendeu muito com os haitianos e se sente uma pessoa realizada. “Esses imigrantes me ensinaram muitas coisas boas, não tenho dúvida que eles me ensinaram a ver o mundo de uma outra maneira”.

Haitianos esperam por uma oportunidade de trabalho. Estadia no Acre pode variar de dias a meses. Crédito: reprodução
Haitianos esperam por uma oportunidade de trabalho. Estadia no Acre pode variar de dias a meses.
Crédito: reprodução

Uma comparação rápida com as notícias mais recentes sobre a região mostra como a situação retratada no documentário continua atual – e até mais grave, a ponto de já ter sido levada à Organização dos Estados Americanos (OEA) pela ONG Conectas. Enquanto isso, o poder público brasileiro bate cabeça sobre o que fazer na região, cogitando até fechar a fronteira temporariamente para coibir o ingresso de mais migrantes no Acre.

De acordo com Damião, na época do documentário, cerca de 10 mil pessoas de 15 nacionalidades diferentes já passaram por Brasileia. A grande maioria é composta por haitianos.

O projeto Viewfinder

Ticket to Paradise foi um dos documentários selecionados para o projeto Viewfinder deste ano. Ele consiste em apoiar projetos cinematográficos independentes que contem histórias que retratem o impacto de grandes questões globais em contextos locais. Ele será o primeiro da série a ir ao ar pelo canal em inglês da Al Jazeera neste ano.

Pela América Latina neste ano, além de Ticket to Paradise, também foi escolhida para o programa neste ano a produção Occupying Brazil, do chileno Daniel Rubio, que aborda a ocupação de prédios vazios da capital paulista por pessoas sem-teto.

Pelo mesmo projeto, em 2013, foi veiculado o documentário Open Arms, Closed Doors, focado no rapper angolano Badharo, que mora na favela da Maré, no Rio, e que encontrou na música uma forma de se expressar contra aas dificuldades sociais que afligem a ele e outros imigrantes no Brasil.

O Viewfinder é promovido todos os anos. De acordo com informações do site da emissora, em breve estarão abertas as inscrições para a próxima edição do projeto. Acompanhe o site do programa para maiores informações

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