Por Rodrigo Borges Delfim
Crédito da foto: ACNUR
Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro tiveram como uma de suas grandes marcas a participação pioneira de uma delegação formada apenas por refugiados. Muito mais do que a competição, o fato de estarem presentes no maior evento esportivo do mundo era uma oportunidade de mostrarem ao planeta suas habilidades, histórias de superação e de como buscam viver com dignidade para trilharem seus próprios caminhos. E não apenas em relação a si próprios, mas também em relação aos refugiados no mundo.
Eles foram aplaudidos, homenageados, ficaram gravados em um grafite no muro do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. Mas, passada a Olimpíada e com a volta para “casa” desses atletas, o que será desses refugiados? Não apenas dos dez competidores, mas das cerca de 21 milhões de pessoas que foram obrigadas a se deslocar para outros países? Total esse que salta para 65 milhões quando a conta inclui os deslocados internos, que não conseguem cruzar uma fronteira.
Dos dez refugiados que competiram nos Jogos, cinco – todos do Sudão do Sul – ainda moram em campos de refugiados no Quênia, que abriga dois dos maiores do mundo, Daddab e Kakuma. No entanto, o governo queniano vai fechar os dois locais até o final do ano, o que vai deixar cerca de 600 mil pessoas sem ter para onde ir. É em Kakuma, por exemplo, que mora a sul-sudanesa Rose Lokonyen, porta-bandeira da delegação de refugiados. Isso só para dar um exemplo das dificuldades que os atletas terão de enfrentar depois dos Jogos.
Mesmo os atletas que vivem em locais que em princípio possuem melhor estrutura estão a salvo de estereótipos – três vivem na Europa e dois estão refugiados no Brasil. Uma rápida passada pelas áreas de comentários de posts nas redes sociais mostra como a sensibilização quanto aos dramas vividos, superados e a superar por essas pessoas ainda custa a chegar aos ouvidos e consciências de outras.
Mundo afora, as políticas públicas e externas de governos continuam a cercear os refugiados e ignorar os dramas aos quais estão submetidos. No caso da Turquia, por exemplo, os refugiados foram usados como moeda de troca para as pretensões externas de Ancara junto à União Europeia – esta, aliás, prefere fazer vista grossa aos abusos que acontecem dentro e fora da Europa.
Milhares de pessoas continuam a morrer nos mares, desertos, montanhas e planícies, a serem violadas e exploradas, a fugirem de bombas, de tiros e da pobreza.
Com o pagar dos holofotes da Olimpíada, sim, há o risco iminente dessas histórias voltarem para o obscuro, para a invisibilidade. E uma das grandes tarefas pós-Olimpíada é não deixar que a conscientização sobre os refugiados caia no esquecimento. Também é preciso pressionar e agir, em diferentes níveis, para permitir que essas pessoas tenham direitos e dignidade preservadas, não importa onde estejam ou o motivo que as levaram a migrar.
A preocupação com a temática do refúgio – e da migração em geral – não pode vir a cada quatro anos ou estar dependente de ações isoladas em prol das pessoas que se deslocam. Estar #ComOsRefugiados e disseminar valores de tolerância e humanidade devem ir além dos Jogos Olímpicos.
Conheça os atletas
Os atletas refugiados, suas respectivas nacionalidades e países de refúgio e modalidades esportivas são:
- Ramis Anis, da Síria (Natação, 100 metros borboleta – masculino); vive na Bélgica;
- Yiech Pur Biel, do Sudão do Sul (Atletismo, 800 metros – masculino); vive no Quênia;
- James Nyang Chiengjiek, do Sudão do Sul (Atletismo, 400 metros – masculino); vive no Quênia;
- Yonas Kinde, da Etiópica (Atletismo, maratona – masculino); vive em Luxemburgo;
- Anjelina Nada Lohalith, do Sudão do Sul (Atletismo, 1.500 metros – feminino); vive no Quênia;
- Rose Nathike Lokonyen, do Sudão do Sul (Atletismo, 800 metros – feminino); vive no Quênia;
- Paulo Amotun Lokoro, do Sudão do Sul (Atletismo, 1.500 metros – masculino); vive no Quênia;
- Yolande Mabika, da República Democrática do Congo (Judô, peso médio – feminino); vive no Brasil;
- Yusra Mardini, da Síria (Natação, 200 metros livres e borboleta – feminino); vive na Alemanha;
- Popole Misenga, da República Democrática do Congo (Judô, peso médio – masculino); vive no Brasil.