Que significado tem a independência hoje, em um tempo no qual as fronteiras parecem fazer cada vez menos sentido?
Por Rodrigo Borges Delfim
Em São Paulo (SP)
Sete de Setembro, feriado nacional no Brasil. Nessa data, em especial, celebra-se a independência do país em relação a Portugal, do qual foi colônia. Sem entrar no mérito se o fato realmente representou a independência do país, a data é marcada anualmente por desfiles militares, sentimentos patrióticos difusos, anseios de melhora social, política e econômica da nação.
Datas que expressam orgulho nacional como os feriados de independência podem (e deveriam, aliás) levar a uma importante reflexão: que significado tem a independência hoje, em um tempo no qual as fronteiras parecem fazer cada vez menos sentido, mas são fortificadas e enfatizadas a custo de tanto sofrimento alheio?
Em dias como esses (seja no Brasil ou em outros países) também ganham força sentimentos nacionalistas, a partir do pretexto da defesa do país como nação soberana, livre para definir seu destino e dos cidadãos que nele vivem. Pretexto esse que cada vez mais serve de combustível para perseguições, para eleição de inimigos públicos a serem combatidos.
O migrante, em suas diversas modalidades, muitas vezes é visto e tratado como esse inimigo público, embora seja a expressão prática do movimento social que transforma as sociedades no mundo todo que é a migração.
Se a independência significa liberdade, por que não celebrar a liberdade de ir e vir, de ser humano, independente de onde esteja vivendo? Por que continuar a criminalizar uma prática que é exercida pelo ser humano desde sua origem, que é o migrar? E você, deixa de ser você só porque cruzou uma fronteira?
“Para os migrantes a pátria é a terra que lhes dá o pão”, aponta uma famosa frase do beato Scalabrini. E pelo menos 244 milhões de pessoas ganham seu pão em países distintos dos quais nasceram (dados da OIM). Dentre esses migrantes há pessoas com dupla ou até mesmo tripla nacionalidade, pessoas que movimentam a economia de onde vivem e também a do país natal por meio das remessas internacionais. Isso só para citar alguns exemplos…
Nunca é demais lembrar: patriotismo é uma coisa, e não significa (e nem pode significar) nacionalismo. O sentimento nativista, de orgulho de pertencer ou de se sentir parte de uma determinada região ou nação, não pode ser associado ao caráter segregacionista e nocivo do nacionalismo, que usa esse mesmo sentimento de pertencimento como pretexto para anular e perseguir aquele que considera como diferente, uma ameaça.
A história está repleta de exemplos dos efeitos nefastos do nacionalismo e de suas consequências para a humanidade. No entanto, em tempos obscuros como os de hoje, esses sentimentos que pareciam superados resolvem reaparecer com força.
Por essas e outras, é necessário dar um outro significado para a palavra independência. Um significado que vá além dos padrões que se mostram cada vez mais ultrapassados de sociedade e de nação, que permita não apenas a independência como posição soberana de um país, mas também o livre pensar e o ir e vir de seus residentes, não importando sua origem.
O desafio está diante de todo o mundo. E se a humanidade deseja evoluir, e não regredir, é necessário espantar os fantasmas e práticas ultrapassadas e buscar esse novo modelo de independência, individual e coletiva.
Leia também: O mundo como pátria – Pe Alfredo J.Gonçalves, IMDH, nov/2015