O mundo lembra neste domingo (9) os 25 anos da queda do Muro de Berlim. Barreira esta que foi criada na tentativa de estancar o fluxo de pessoas que saíam de Berlim Oriental para o lado ocidental da cidade.
Sim, o Muro de Berlim caiu, virou atração turística da agora capital alemã unificada, e tem supostos pedaços vendidos como souvenir. Mas a ruína dessa barreira foi seguida pela construção de outras, físicas e psicológicas pelo mundo afora. Muros que separam comunidades, sonhos e atentam contra o direito básico de ir e vir, que ajudam a consolidar estereótipos e segregações de todo o tipo.
A ONG francesa Migreoup elaborou um mapa com as principais barreiras (físicas e políticas) existentes no mundo atual – entre México e EUA, nos enclaves espanhóis no Marrocos (Ceuta e Melilla), entre Turquia e Grécia, que dividem os territórios palestinos de Israel e a zona de fronteira entre as Coreias do Norte e do Sul (apenas para citar algumas delas).
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Outro projeto revelador da realidade murada do mundo contemporâneo é o projeto do jornal britânico The Guardian visitou alguns dos muros contemporâneos mais controversos da atualidade (são cerca de 6.000 milhas de barreiras, de acordo com a publicação). Até o Brasil entrou na lista, por conta da barreira que separa o bairro de Alphaville, em Barueri (SP), das localidades vizinhas.
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Ao mesmo tempo, não se pode esquecer das pessoas que já perderam a vida tentando chegar à Europa atravessando o Mediterrâneo. Só neste ano, em torno de 3.000 pessoas tiveram o fundo do mar como destino final – em vez da chegada ao local que, pensavam, deveria representar a tentativa de começar uma nova vida.
Mas e esses muros, de fato funcionam? A Muralha da China, mais famosa barreira feita pelo homem e ponto turístico do país, fracassou em seu intuito de barrar as invasões vindas do norte; mexicanos conseguem entrar nos EUA, mesmo com topo o aparato policial armado; e mesmo o Muro de Berlim, que contava ainda com obstáculos adicionais em cada um dos lados e era fortemente vigiado, também foi burlado em diversos momentos de sua existência.
Para quem esperava um mundo “sem barreiras” após o fim do símbolo máximo da divisão global nos tempos de Guerra Fria, esses números e fatos traduzidos em concreto, arame farpado e estereótipos representam, no mínimo, uma grande frustração e prova do retrocesso experimentado pelo mundo nas últimas décadas.
Infelizmente os governos e a própria sociedade em geral, em vez de procurar desenvolver iniciativas globais e abrangentes para resolver questões ligadas a imigrantes e refugiados, preferem se esconder atrás de muros – e fechar os olhos para os elevados custos humanos que representam. As migrações e os elementos que elas trazem (intercâmbios culturais, políticos e econômicos) são fatores que nenhum muro, físico ou imaterial, é capaz de deter.
Não importa se como indivíduo, sociedade ou como governo: é preciso olhar para além dos muros, enxergar a dimensão humana da globalização (que não compreende apenas finanças e transações comerciais, mas também trocas culturais, sociais, uma mobilidade humana como nunca se viu). Somente com esse olhar humanizado será possível desenvolver iniciativas que de fato impeçam novas mortes e ajudem a derrubar não apenas as fronteiras físicas, mas também as barreiras psicológicas representadas pelo preconceito, pela segregação e pela xenofobia.
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