Por Carla Alexsandra do Carmo Ribeiro
De Firenze, Itália
Na manha do último dia 6 de janeiro, o Cardeal de Gênova, Angelo Bagnasco, fez uma análise dos recentes acontecimentos na Europa, relativos à migração em massa que vem ocorrendo nos últimos tempos.
À mesa de celebração da Epifania, rito religioso que consagra o surgimento de Jesus Cristo para o mundo e o encontro com os reis magos (aqui no Brasil conhecido como Dia de Reis), o Cardeal refletiu sobre a grande massa de imigrantes e os impactos na sociedade europeia. Para ele: “Não há muro que possa frear essa marcha” – leia mais aqui, em italiano.
A Europa está dividida. A presença do elemento estrangeiro se faz forte e a impressão é que, de fato, não se possa conter a chegada de milhares de pessoas.
Mas em Firenze (Florença), pode-se dizer que há um lugar de contraponto na xenofobia enraizada do velho continente: o Ostello Europa Villa Camerata. Esse antigo edifício que antes recebia jovens mochileiros que queriam gastar pouco, agora recebem também dezenas de novos imigrantes em um trabalho social de acolhimento e integração.
Não vou mentir. À primeira vista o incauto hóspede pode levar um susto. Eles estão por toda a parte do edifício, mas parecem bem entrosados entre eles, o que demonstra que a rede social está funcionando bem. Os primeiros a chegarem encontraram emprego lá mesmo no Hostel. Os demais aguardam por uma oportunidade na cidade ou se aventuram por ela.
Segundo os funcionários do Hostel, os imigrantes falam francês e inglês. São muito educados e ordeiros e, como me foi dito, muitos chegam com histórico de violência e sofrimento. Alguns chegaram pela Ilha de Lampedusa, na perigosa travessia do Mediterrâneo. Vindos da África e da Síria, os imigrantes se congregam na dolorosa aventura de alcançar a Europa com a esperança de uma vida melhor.
Como pesquisadora, eu procuro saber como a sociedade receptora vê a questão, como administra seus impactos e se adapta a realidade que, até o momento, não vê solução para conter esse fluxo imigratório de complexidade e magnitude que se aproxima ou já supera o movimento da Segunda Guerra Mundial.
Segundo os funcionários do Hostel, Firenze recebe bem os imigrantes e, de maneira geral, os fiorentinos estão bem receptivos. Contudo, nao se pode dizer o mesmo para o restante da Itália.
Mesclada à questão imigratória, a Europa vive hoje a era da insegurança. As fronteiras entre os países que compunham o Espaço Schengen não são mais as mesmas. Há alguns meses atrás ainda se podia passar de um país a outro sem ser parado ou vigiado pelo Exército. Hoje, eles estão por todos os lugares, principalmente em locais de grande concentração pública, como Igrejas e Santuários, parques e até nos Mercados de Natal.
Acredito que não demorará até que os imigrantes sejam culpados por atos ou infrações que eles não tenham cometido. Essa é uma forma de responsabilizar o Estado e as Organizações por terem aberto a possibilidade de permanência. A esse respeito já se diz aqui na Europa que o recente episódio das mulheres atacadas na Colônia (Alemanha) seja um exemplo disso. Esperaremos as próximas notícias.