Por Bruna Kadletz
A transformação digital é um passo decisivo na sobrevivência de negócios,
particularmente em tempos de pandemia e distanciamento social. Com as medidas de prevenção do coronavírus e sem muitas opções de lojas físicas, as compras online crescem exponencialmente. O estudo “Novos hábitos digitais em tempos de Covid-19”, realizado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) em parceria com a Toluna, aponta que 61% dos consumidores aumentaram o volume de compras online. A compra de alimentos e bebidas para consumo imediato por meio de delivery, por exemplo, aumentou para 79% dos participantes do estudo.
Se o momento presente pede por digitalização de negócios, como que
organizações que atuam com populações refugiadas e imigrantes podem se adaptar a fim de promover mais oportunidades de geração de renda e aprendizado no universo digital? Para responder a essa pergunta é preciso ter em mente que navegar o mundo online torna-se um desafio quando não há letramento digital, acesso à internet de qualidade, celulares e computadores. A realidade é que muitos migrantes não têm celulares de última geração, com espaço suficiente para baixar aplicativos e câmeras que tirem fotos com aspecto profissional.
Há, portanto, oportunidades em crises. Entretanto, é preciso mais
investimento no letramento digital de pessoas refugiadas e imigrantes, assim como na compra ou doação de aparelhos celulares e computadores que possam servir de instrumentos de trabalho.
Diante da crise econômica e de todos os desafios que surgem a partir da
pandemia do coronavírus, a organização Círculos de Hospitalidade desenvolveu iniciativas digitais para gerar oportunidades, promover a economia criativa em tempos de crise e aumentar a visibilidade dos empreendimentos de refugiados e imigrantes em Santa Catarina.
A Círculos acredita que a economia criativa e a digitalização de negócios
possam ser um mecanismo de adaptação e resiliência frente ao crescente
desemprego e insegurança econômica, principalmente para populações refugiadas e imigrantes que possuem poucos recursos, mas muitos talentos e rica bagagem cultural.
Uma dessas iniciativas é a criação do perfil Empório Migrante
(@emporio.migrante) no Instagram. A proposta do Empório Migrante é ser uma vitrine digital que conta histórias de refugiados e imigrantes empreendedores no Brasil, dos seus negócios, produtos e serviços. A intenção é dar mais visibilidade para os empreendimentos, gerar renda e conscientizar o público sobre a temática de refúgio e fluxos migratórios. Por ser uma vitrine, o perfil não media as compras e/ou contratação de serviços, que podem ser efetuadas diretamente com os imigrantes e refugiados.
A inauguração do @emporio.migrante acontece nesta quarta-feira, dia 19 de agosto, inicialmente com perfis de Santa Catarina, mas com a intenção de ter alcance nacional.
A venezuelana Anaurelys Gómez e seu marido, Ruben, estão a frente de um
dos negócios promovidos pelo @emporio.migrante, a panificação @da.vene. O casal começou a empreender quando ainda vivia na Venezuela. Ela deixou o trabalho como contadora e ele, como técnico em mineração, para trabalhar junto com os pais dela no açougue e delicatessen da família. Por causa da crise no país, o negócio não prosperou. “Chegamos no limite financeiro e emocional. Nossa segurança social já estava comprometida quando tomamos a decisão mais difícil: deixar o nosso país”, lembra.
Ao chegarem em Florianópolis, em fevereiro de 2020, iniciaram seu novo
empreendimento: a produção de pães, doces e salgados, e de doces tradicionais venezuelanos. O casal participou do Impulso! Programa de Empreendedorismo, oferecido pela Círculos de Hospitalidade, por meio do Projeto Integra, que é implementado em parceria com a OIM e financiado pela USAID.
A partir da participação do Impulso! e das mentorias com Fafá Flores, chef referência em Florianópolis, nasceu a @da.vene, que vende pães sob encomenda e atende o norte da ilha. Os planos para o futuro incluem um lugar onde possam, além de produzir, receber os clientes de forma que se sintam em casa. Ainda que o amor pela comida já fizesse parte do cotidiano da família, fazer disso um trabalho foi desafiador – mas nada que a força de uma família que já venceu tantas barreiras não seja capaz de superar.
Para apoiar a iniciativa e fortalecer a economia criativa de imigrantes e
refugiados no país, siga o perfil, compartilhe seus posts e, mais importante,
experimente os produtos e serviços dos empreendedores retratados nele. O
Empório Migrante é apoiado pelo Involves Zero (iniciativa da empresa Involves Tecnologia, baseada em Florianópolis), Associação Alumni USBEA (United States-Brazil Exchange Alumni) e da Embaixada e Consulados dos EUA. Parte dos migrantes retratados fazem parte do Impulso! Programa de Empreendedorismo do Projeto Integra, implementado em parceria com a OIM e financiado pela USAID.