Uma exposição fotográfica na Galeria Prestes Maia, em São Paulo, que visava conscientizar sobre a existência de migrantes em situação análoga à escravidão na indústria têxtil, acabou gerando um efeito contrário. E depois de gerar revolta junto à comunidade migrante, a mostra acabou alvo de um protesto que levou ao seu fechamento.
Intitulada “Oficina do Suor”, a exposição foi promovida pelo Sinait (Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho) e a Casa de Criadores, com imagens do fotógrafo e auditor fiscal do trabalho Sérgio Carvalho, com curadoria de Rosely Nakagawa. A mostra era parte ainda da programação da 55ª Casa de Criadores, considerado um dos maiores eventos de moda autoral do Brasil.
A exposição tinha como objetivo declarado o de denunciar a precariedade das condições de trabalho realizados por imigrantes andinos, além de abordar a atuação dos Auditores Fiscais do Trabalho contra essa condição degradante. No entanto, seu anúncio foi acompanahdo de críticas nas redes sociais, que questionaram se as pessoas migrantes ali retratadas tinham dado algum tipo de consentimento para terem suas imagens presentes na exposição.
Além disso, também questionaram o quanto coletivos culturais migrantes teriam sido ouvidos para o processo de elaboração da atividade. Por fim, o resultado final foi considerado desrespeitoso e desvalorizador da comunidade migrante que trabalha no setor têxtil na Grande São Paulo.
“Tantos artistes bolivianes por aí, monte de representante das comunidades andinas, repúdio direto à mesma expoisção por parte de coletivos de pessoas bolivianas e andinas de São Paulo… mas seguem com o mesmo erro. Para que isso, Casa de Criadores?”, questionou o coletivo audiovisual Visto Permanente por meio das redes sociais.
Manifsestação e fechamento
Um ato de repúdio à exposição “Oficina do Suor” foi marcado para ocorrer na cerimônia oficial de abertura, na noite de quinta-feira (5), no qual manifestantes levariam cartazes e faixas para expressar descontentamento.
De acordo com a Folha, durante o protesto alguns integrantes do coletivo Cholitas da Babilônia jogaram tinta vermelha nas imagens. Em seguida, agentes da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar intervieram e dispersaram os manifestantes.
Com o protesto, a exposição acabou desmontada.
A estilista trans Vicenta Perrota, que presenciou o ato contra a exposição, concordou com as críticas e defende que ações que envolvam imagens sejam repensadas.
“Achei péssimo. Pegar foto de polícia para fazer exposição? Isso não é arte. [O protesto] É um posicionamento que precisa ser apontado no mundo da moda, que é muito opressor”, disse, em depoimento ao Bolívia Cultural compartilhado com o MigraMundo.
Além da exposição de fotos, estava previsto para ocorrer no próximo dia 10 um workshop, com carga horária de 4 horas, sobre a promoção de trabalho decente na indústria da moda, do qual deveriam participar 60 estilistas da Casa de Criadores. Essa atividade também foi cancelada.
Em outubro de 2023, a mesma mostra já havia sido montada na Oficina Cultural Oswald de Andrade, também sendo alvo de críticas. Nesse caso, os responsáveis pelo local cederam espaço para que a comunidade migrante manifestasse descontentamento.
O que dizem os organizadores
Em nota enviada ao jornal Folha de S. Paulo, a organização do evento disse que desmontou a exposição e que “reconhece como legítimo e democrático o direito à manifestação”. “Entendemos os pontos levantados pelos manifestantes durante o ato”, diz a nota. “Salientamos que a Casa de Criadores repudia todo e qualquer ato de violência e buscou a resolução pacífica da situação.”
Por meio de seu site oficial, o Sinait-SP disse lamentar o ocorrido e reafirmar sua posição de contrariedade às condições análogas às de escravo que flagelam tantos trabalhadores na indústria da moda e em outras atividades. No entanto, defendeu a exposição. “Arte não é o problema, o problema é o problema”.
O auditor e foógrafo Sérgio Machado se disse chocado e sem conseguir compreender completamente a proposta do grupo que protestou contra a mostra. “Por que querem esconder o trabalho escravo nas oficinas de costura em São Paulo? As telas foram destruídas e é impossível retirar a tinta”, disse ele ao site do Sinait.
Com informações de Folha de S.Paulo, Bolívia Cultural, Casa de Criadores e Sinaitsp
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boa noite : sobre a exposição, fiquei sabendo que já avia anteriormente uma conversa com os organizadores do evento, dois ou três meses antes, fiquei muito triste e magoado com esses que se dizem ou chama de artistas, não darem lugar para nos ( lugar de fala ).
concordo que essas fotos são violentas, apenas provoca desinformação, humilhação, xenofobia e preconceito.
ouve disposição para conversar e trabalhar juntos, ate discutir o tema. Mas por parte deles, nada.