Por Pe. Alfredo J. Gonçalves*
Em Roma (Itália)
Recorda sempre a casa que deixaste para trás,
mas não te esqueças que outras casas, mesmo se poucas,
abrem suas portas à solidariedade de quem está a caminho;
Recorda sempre a terra onde estão sepultados teus ancestrais,
mas não te esqueças que ainda há espaço livre, embora não muito,
para lançar a semente de colheitas novas e mais promissoras;
Recorda sempre a família onde nasceste e cresceste,
mas não esqueças a família mais ampla, não de sangue,
que entrelaça os espíritos dispostos a romper todas as barreiras;
Recorda sempre a pátria que te viu nascer e te viu escapar,
mas não esqueças que outros hinos e bandeiras, com notas e cores várias,
povoam a face da terra com rica diversidade de povos e nações;
Recorda sempre as raízes e os valores de tua cultura original,
mas não esqueças que valores distintos, mas com raízes semelhantes,
mergulham no solo fértil o genuíno sabor da existência.
Recorda sempre os costumes, comidas e lições de tua gente,
mas não te esqueças que outros grupos humanos, com o mesmo respeito,
cultivam nodos de vida igualmente sábios, sadios e sólidos.
Recorda sempre a fronteira que foste forçado a cruzar: lei, deserto, mar,
mas não te esqueças que a superação de cada adversidade,
pavimenta a estrada para uma cidadania sem fronteiras.
Recorda sempre a religião na qual aprendeste a buscar o sentido da vida,
mas não esqueças que outros credos e outros ritos, em igual solenidade,
constituem caminhos difetrentes para reverenciar o único Deus e Senhor.
Recorda sempre o estado de fome e pobreza, violência e guerra
que um dia te obrigou a abandonar a terra natal,
mas não esqueças que, apesar das ruínas, cinzas e escombros,
a travessia é capaz de transformar a fuga em nova busca,
onde a esperança converte o fugitivo em migrante,
profeta e protagonista de um amanhã livre e renovado.
*Poema feito especialmente para o Dia do Migrante e do Refugiado, lembrado pela Igreja Católica neste ano no último dia 14 de janeiro