Por Danyel Andre Margarido
O ser humano é um dos poucos seres vivos que não se acostumam. As plantas, os animais possuem habitações preferidas sobre a Terra. Já o ser humano está em constante movimento.
A razão pela qual o ser humano se movimenta pelo mundo não pode ser resumida a uma só; pessoas levantam-se e saem de suas casas por uma miríade de motivos. Uns mudam por gostos pessoais, por saúde, alguns por trabalho e outros por amor, e um número crescente pela natureza e pelo impacto da ação humana.
As movimentações humanas sempre acontecerão, a mobilidade global, agora um pouco mais democrática, se manterá viva enquanto houver vida na terra – se essa vida será saudável ou necessitará de suporte constante dependerá das escolhas sustentáveis feitas no presente.
Escolhas sustentáveis
Um discurso que está bem presente, seja nas rodas de investimentos, seja nas escolas e universidades, é sobre fazer boas escolhas, escolhas que cuidem do planeta, tendo em vista a perenidade da raça humana. Ou melhor, da vida.
A preocupação com a vida, com o planeta, com os recursos finitos da Terra não é recente. E, com os acontecimentos alarmantes no mundo, o aquecimento global, continentes de plástico flutuando no Oceano Pacífico… Com tudo isso e mais um pouco, pessoas, cidadãos do mundo, estão começando a notar que algo precisa ser feito. E rápido.
Mas o que pode ser feito? Além de ações quase mundanas de separar o lixo, reciclar, propagar ações sustentáveis, e levar uma vida que procure criar menos lixo e gastos, o que mais?
Fazendo escolhas sustentáveis, como qual marca consumir, para qual empresa trabalhar, com quais empresas se associar, e onde investir.
O que foi pauta de um grupo de trabalho dentro da ONU, chamado Principles for Responsible Investment (PRI), liderado, na época, por James Gifford, que cunhou a sigla ESG em 2004, quando discorria sobre como o mercado, neste caso, financeiro, poderia medir o impacto de ações sustentáveis nas empresas.
Um termo do mercado financeiro que impacta empresas no mundo todo. Afinal, que empresa não busca ter uma comprida existência? Justamente por isso, itens como Aquecimento Global, por exemplo, devem ser fatores a serem levados em conta pela empresa em si, bem como por seus investidores e funcionários.
A ideia do criador da sigla ESG era formular princípios embasadores que pudessem ser seguidos por, na época, fundos de pensão poderosos. Tais princípios, Ambientais, Sociais e de Governança (a tradução de Environmental, Social and Governance: ESG), estão sendo traduzidos para as empresas e fazendo parte do dia a dia de vários colaboradores.
ESG e Global Mobility
Pode ser que a associação entre a Mobilidade Global e o ESG seja simples. Pode-se dizer frases como “Escolha parceiros que sejam ambientalmente responsáveis” e “Tenha políticas e processos que viabilizem a diversidade de expatriados”, por exemplo. O que é muito necessário.
A Mobilidade Global é parte da experiência humana, seja por um processo de expatriação, dentro de uma empresa, seja por um deslocamento forçado; tem seu impacto no mundo.
E por isso, pode e deve passar pelo escrutínio do ESG em seu dia a dia.
Dentro do mundo da Mobilidade Global, o advisor tem a possibilidade de proceder com escolhas sustentáveis, tomando, assim, parte dos princípios do ESG, e, no mínimo, auxiliando sua empresa nas estratégias relacionadas a esses princípios.
Portanto, além da escolha de parceiros que invistam nos princípios do ESG, ações que são mais ligadas ao dia a dia da Mobilidade Global precisam ser revistas.
Pense Global, aja no Ambiental
A questão ambiental na Mobilidade Global ainda precisa ser mais aprofundada. Em uma abordagem mais antiquada de GM, onde trata-se somente da movimentação de um profissional entre folhas de pagamento, poucas são as possibilidades de ter uma abordagem mais ambientalmente sustentável.
Por outro lado, em uma abordagem mais moderna da expatriação de profissionais, o Advisor tem a possibilidade de aconselhar o expatriado e sua família na mudança de país, usando de parceiros que, por exemplo, trabalhem com materiais reciclados no envio dos móveis de um país a outro. Ou mesmo, verificar com o expatriado se realmente há a necessidade de enviar móveis de um país a outro, dependendo do período de expatriação. Além disso, pode escolher companhias aéreas que tenham um compromisso com redução de emissão de carbono. Além de alterar, dentro dos perímetros da tecnologia e da LGPD, documentos físicos para digitais.
Ainda é um tema que carece de desenvolvimento dentro da Mobilidade Global, sendo assim, várias possibilidades podem ser exploradas, testadas e aplicadas, de modo que haja o impacto positivo na questão ambiental.
Impacto positivo nas comunidades
Pouco se fala do impacto de uma expatriação para além dos muros das empresas, mas, quando se pensa em uma expatriação, fala-se muito sobre a adaptação do expatriado e da sua família em seu país de destino, em sua nova cidade, em seu novo bairro. Mas pouco se fala nas reações dos seus vizinhos, dos relacionamentos que são construídos fora do escritório.
O impacto social de uma expatriação, ou seja, o impacto na comunidade local onde o expatriado e sua família se permanecem, pode ainda não ser totalmente visível, mas através de um programa de voluntariado, por exemplo, a comunidade mais carente pode ser exposta a visões e experiências de mundo que normalmente não teriam acesso.
Trazer o expatriado e sua família para eventos sociais pode dar oportunidades de desenvolvimento linguístico (ou mesmo artístico!) para uma comunidade que pode ter tido poucas oportunidades de conhecer alguém de outro país, além da criação de vínculos de amizade que podem abrir portas no futuro. Não se pode duvidar do que o network pode fazer, bem como não podemos limitar experiências e possibilidades. O Advisor de mobilidade global tem um desafio de conectar culturas, mas elas não necessariamente precisam ser somente as das filiais de uma empresa multinacional.
Uma governança de respeito
A Mobilidade Global dentro das empresas está acostumada com regras, processos e prazos. Está acostumada com uma governança rígida por trabalhar com legislações migratórias, normas de trabalho, impostos e previdências, e tudo mais que permeia o dia a dia dos expatriados.
Entretanto, ainda é uma área que conta com um baixo nível de diversidade, poucos são os expatriados do sexo feminino, por exemplo! Outro exemplo, é a falta de expatriados que sejam pessoas com deficiências!
Ainda há muito o que ser feito nas políticas dentro das empresas para que pessoas que não sejam parte do “padrão” atual sejam parte de processos de mobilidade global, que possam ter experiências como expatriados. A criação de regras e processos que fomentem a participação de pessoas diversas é mais do que necessário.
É verdade que alguns passos foram dados na inclusão de refugiados no mercado de trabalho latino-americano. E essa mudança de cultura faz parte do dia a dia do advisor de mobilidade global. Ainda se precisa fazer mais. Existem pautas que precisam ser melhor discutidas, trazidas à tona, e o ESG pode ajudar com cada uma delas.
À luz de tudo isso, pode-se concluir que as mudanças propostas pelo ESG devem fazer parte do dia a dia de todos. Com as recentes catástrofes e acontecimentos no mundo, ter princípios como esses podem ajudar em decisões que não sejam somente boas para investidores de grandes empresas, mas, também que diminuam o sofrimento humano, que possibilitem o cuidado com o mundo, e que possam fomentar a vida.
Sobre o autor
Danyel Andre Margarido possui mais de dez anos de experiência em Mobilidade Global e Expatriados, atuando como consultor de Global Mobility na EMDOC, e fundador da Altiore Experience. Atualmente no setor de Global Mobility do Prysmian Group, já realizou a movimentação de mais de 2.000 famílias pelo mundo. É formado em Relações Internacionais pela UniFMU, com especialização em Direito Internacional pela Escola Paulista de Direito. Tem MBA em Recursos Humanos, pela Anhembi Morumbi, e um mestrado profissional em Recursos Humanos Internacionais, pela Rome Business School.