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domingo, dezembro 22, 2024

Helping Hand, uma mão amiga para imigrantes e refugiados

Buscar informações sobre entidades que lidam com migrações e refúgio não é fácil para os imigrantes e refugiados no Brasil, incluindo barreiras como o idioma e a falta de um local que concentre pelo menos parte desses dados. Percebendo essa realidade, um grupo de cinco estudantes do Rio Grande do Sul resolveu desenvolver uma ferramenta que pudessem ajudar a orientar os imigrantes nessa tarefa. Assim nasceu o Helping Hand, que já pode ser considerada uma ação pioneira no sentido de informar o migrante.

Em nada menos que cinco idiomas (inglês, espanhol, francês, árabe e português), o Helping Hand reúne nomes, endereços e contatos de uma série de entidades e instituições que estão de alguma forma ligados às migrações: agências internacionais, assistência jurídica, centros de apoio, comunidades e sociedades, templos religiosos, órgãos governamentais, consulados e embaixadas, instituições de ensino, aulas de português, oportunidades de emprego e serviços de saúde. As informações estão disponíveis em um site e um aplicativo para smartphones Android.

Clique aqui para acessar o site

Clique aqui para baixar o aplicativo (apenas smpartphones Android)

Da sala de aula para a realidade

O Helping Hand foi desenvolvido por cinco “gurias” (Aline Weber, Ingird Baggio, Laís Belinski, Luana Lazzarotto e Monique Machado), todas entre 17 e 18 anos, do curso técnico em informática para internet, integrado ao ensino médio do campus de Bento Gonçalves do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS).

A ideia surgiu em janeiro deste ano, quando uma das professoras do curso divulgou uma competição chamada Technovation, que tem como intuito inserir garotas no mercado tecnológico por meio do desenvolvimento de um aplicativo de impacto social. E dentro do próprio grupo já havia uma sensibilização em relação à temática migratória, o que levou o quinteto a colocar a ideia em prática.

Logo do Helping Hand, site e app para imigrantes e refugiados.  Crédito: Helping Hand
Logo do Helping Hand, site e app para imigrantes e refugiados.
Crédito: Helping Hand

“Pensamos em uma forma de realmente ajudar pessoas que estão passando por necessidades, e como é um tema que não é frequentemente abordado na nossa região – mas não por isso um problema menos presente – decidimos trabalhar neste ramo”, contra a estudante Ingrid Baggio, 17, uma das cinco integrantes do time. Ela trabalha como tradutora e pretende cursar História ou Relações Internacionais no ensino superior. “Particularmente sempre me interessei por essas questões envolvendo deslocamentos populacionais. Entretanto, neste último ano, com o crescente número de imigrantes haitianos fixando residência em nossa cidade, foi difícil simplesmente virar a cara”, completa.

Por conta do Technovation, o desenvolvimento do Helping Hand foi uma verdadeira corrida contra o tempo. Entre a ideia e a finalização do projeto – que incluiu ainda elaboração de um plano de negócios – foram apenas dois meses, nos quais as estudantes precisaram conciliar a tarefa com trabalho, estudos e outras atividades cotidianas. “Parece até meio absurdo fazer tudo isso em dois meses, e por isso contamos com a ajuda de diversas instituições que nos passaram informações para a listagem de endereços (que basicamente é a alma do nosso projeto)”, reflete Ingrid.

Entidades e apoios

Inicialmente as instituições listadas foram aquelas que lidavam de forma mais direta com refugiados no Rio Grande do Sul. No entanto, o escopo foi ampliado logo que a equipe notou a necessidade que imigrantes de outras nacionalidades, que não se encaixam na classificação de refugiado, também tinham de obter informações úteis.

A maior parte das entidades listadas são do Rio Grande do Sul, mas também é possível encontrar dados de instituições de todo o Brasil. Qualquer instituição ligada à temática migratória, independente da região no país, pode ter seus contatos disponíveis no Helping Hand preenchendo o formulário disponível no site ou no aplicativo. As informações vão para o ar depois de revisadas e aprovadas pela equipe.

Clique aqui para acessar o formulário

Durante o mapeamento, Ingrid conta que a equipe experimentou tanto a receptividade como a desconfiança de algumas instituições em relação ao Helping Hand. “Conversei com algumas pessoas que foram extremamente pessimistas sobre o projeto e algumas não queriam passar informações nem dados. Mas também tivemos experiências muito positivas, com pessoas bem prestativas”.

A equipe do Helping Hand ainda mantém contato com algumas das instituições e pessoas que ajudaram na coleta dos dados presentes na plataforma e em tarefas como traduções e revisão das informações nos cinco idiomas disponíveis. Ao mesmo tempo, as estudantes se dividem como podem na divulgação e busca por apoio para o projeto junto a outras entidades e portais ligados à temática migratória.

Reconhecimento

O trabalho já dá frutos significativos para o Helping Hand. O projeto foi um dos semifinalistas do Technovation e foi o vencedor do prêmio Girls Make App, em parceria com o Technovation, Microsoft e Global Summit of Women (que ocorreu recentemente em São Paulo), levando como prêmio um ano de mentoria da Microsoft.

Além disso, o Helping Hand vem sendo divulgado por várias entidades e sites ligados à temática migratória, como o GAIRE (Grupo de Assessoria a Imigrantes e Refugiados), do Rio Grande do Sul, e o Rostos da Migração.

Manutenção e desafios

O projeto não conta com suporte financeiro, mas tem uma conta bancária para receber doações que serão repassadas a instituições ligadas à temática migratória. Ingrid conta que apenas 5% do montante arrecadado ficará com a equipe, para custear o domínio do site e a manutenção do aplicativo na PlayStore.

Outro desafio que o Helping Hand tem pela frente é ajudar a combater o preconceito existente contra os novos imigrantes em várias cidades gaúchas – realidade que também se repete em outras regiões do Brasil. Ingrid lembra uma reportagem de 2014 no Fantástico (programa das noites de domingo da TV Globo), na qual habitantes de Caxias do Sul (também vizinha a Bento Gonçalves) afirmaram que os imigrantes haitianos e senegaleses na cidade traziam doenças, ou que não tinham o direito de conviver naquele espaço. “Muitas pessoas espalham bobagens sobre esses imigrantes, e a população local prefere isolar estas pessoas do que acolhê-las”.

Quando perguntada sobre o futuro do Helping Hand, Ingrid acredita que a ideia da equipe é continuar envolvida com o projeto mesmo depois da conclusão dos estudos no ensino técnico. Mas como cidadã ela já comemora o fato de ter conhecido um pouco melhor a realidade dos novos imigrantes que estão no Rio Grande do Sul. “Este projeto foi maravilhoso pois pudemos entrar em contato não apenas com os números,  mas também com as pessoas, os imigrantes, os refugiados, ouvir suas histórias, entender suas dificuldades, necessidades e acho que isso é mais valioso do que qualquer dado colhido na internet, qualquer número superficial. Acho que ainda podemos explorar muito esta temática e creio que é possível realmente afetar nossa comunidade com nosso trabalho”.

Em novembro de 2014, um post publicado no MigraMundo sobre aplicativos com notícias e serviços sobre migrações no mundo apontou para a falta desse tipo de iniciativa no Brasil. Felizmente, com o surgimento de ações como a do Helping Hand, essa lacuna pouco a pouco começa a ser preenchida.

Como ajudar?

A conta aberta para receber doações para o Helping Hand é 24.144-x, do Banco do Brasil, agência 2969-6. O contato pode ser feito pelo e-mail [email protected].

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