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segunda-feira, dezembro 9, 2024

Hotel aproveita muro como forma de protesto e conscientização sobre a questão palestina

Local conta com museu e permite que turistas deixem seu recado em forma de grafite na barreira erguida por Israel em território palestino

Por Alethea Rodrigues
Em Belém/Bethelem (Cisjordânia)

“A maioria dos turistas vem para a Palestina para visitar as construções sagradas de Belém, e deixam de conhecer a parte triste, como o muro que destruiu o futuro de quem vive aqui”.

O palestino Wisam Salsaa é gerente geral do The Walled Off Hotel, que fica exatamente em frente ao muro a qual se referiu. A construção israelense na Cisjordânia teve início em 2004. A partir daí, várias regiões sofreram com a obra – ficaram sem regiões agrícolas e algumas cidades foram totalmente isoladas.

A muralha possui enormes dimensões: uma extensão de 721 km, 8 metros de altura, arames farpados e inúmeras torres de vigilância. A intenção de Israel foi concretizada – afastar os palestinos de Jerusalém e, consequentemente, do resto do mundo.

A construção é fruto de uma intensa disputa que remonta a meados do século 20. Desde a criação do Estado de Israel, em 1948, até os dias atuais, a região de Jerusalém vem sendo palco de intermináveis choques culturais e identitários, que desencadearam massacres, guerras e intolerâncias contra o povo palestino. Apesar de todos esses problemas, a própria Jerusalém e também Belém, cidade vizinha – que segundo a Bíblia foi exatamente o local do nascimento de Jesus Cristo – , são alguns dos lugares do mundo mais frequentados por turistas, recebem em torno de 4 milhões por ano se somarmos as duas regiões.

A questão palestina já gerou cerca de 5 milhões de refugiados, segundo dados das Nações Unidas – em sua maioria, vivem em campos espalhados por países vizinhos ou nos territórios ocupados, como o campo de Aida, também em Belém.

Para tentar mudar essa situação, e trazer turistas para conhecer a realidade palestina, o hotel abriu uma pequena loja ao lado do estabelecimento, onde é possível adquirir sprays, ideias de grafites que simbolizam a paz e liberdade na Palestina. Depois de feita a compra, o cliente escolhe um espaço no muro e faz seu próprio desenho com o auxílio de um dos funcionários.

Loja ao lado do hotel, que convida o visitante a deixar sua marca no muro. Crédito: Alethea Rodrigues/MigraMundo

“O artista de rua inglês Bansky, famoso por suas obras em várias partes do mundo, inclusive aqui nos muros da Palestina, teve a ideia de abrirmos essa loja para conectarmos as pessoas nesse mundo que vivemos através da arte. Dessa maneira, cada um que passa por aqui conhece mais sobre a verdadeira história da guerra e ainda consegue expressar o que pensa”, contou Wisam.

O palestino intitula o projeto como uma “conexão física do estrangeiro com a guerra”. E não é difícil enxergar que centenas deles experimentaram a ideia de conhecer um pouco mais de perto esse conflito. Algumas partes do muro estão completamente grafitadas, todos eles com algum apoio a causa palestina. “Já tentaram destruir alguns desenhos, principalmente os que envolvem o presidente dos Estados Unidos. Mas, vamos seguir com esse trabalho, não podemos desistir de mostrar ao mundo a realidade que vai muito além do que é mostrada na mídia”, complementou o palestino.


Wisam Salsaa, gerente geral do hotel.
Crédito: Alethea Rodrigues/MigraMundo

Artistas de todas as partes do mundo viajam à Cisjordânia para mostrar sua arte e deixar uma marca de apoio e indignação pela situação enfrentada no território. Mas, se você não é um artista e quer arriscar uma arte no muro é preciso desembolsar o equivalente a R$ 70.

Apesar do muralha ser vigiada 24 horas por dia pelos soldados israelenses, que ficam posicionados estrategicamente em torres de observação e controlam tudo através de centenas de câmeras, Wisam garante que grafitar na construção não é uma atividade tão perigosa: “Nunca aconteceu nada grave. Raramente os soldados questionam, mas não levam ninguém a prisão ou fazem qualquer mal. O foco deles não é o turista. Não é uma atividade ilegal. Para nós palestinos ilegal é a construção desse muro, eles não tem o direito de reclamar de nada”.

Dentro do próprio hotel, além de uma decoração que questiona a existência do muro que divide a Palestina de Israel – muitas delas idealizadas por Bansky -, é possível encontrar um museu. Os turistas pagam cerca de 15 reais e conseguem ter acesso a materiais utilizados no conflito, assistir vídeos reais sobre momentos da guerra, além de absorver informações relevantes sobre os acontecimentos.

“Nossa equipe está crescendo e atualmente contamos com 43 funcionários, todos eles palestinos. A ideia é recrutar somente locais para tentar absorver um pouco da população desempregada que sofre com a frágil economia palestina”.

Hotel na Palestina tem decoração e até museu que ajudam o visitante a entender melhor a questão palestina.
Crédito: Alethea Rodrigues/MigraMundo


The Walled Off Hotel
182 Caritas Street. Bethlhem, Palestina
http://walledoffhotel.com/





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