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sexta-feira, março 29, 2024

“Imigração haitiana foi protagonista para o Brasil se enxergar como um país que não oferece direitos”, aponta pesquisadora

Livro e pesquisadores de diversas áreas mostram protagonismo e transformações geradas pela imigração haitiana no Brasil

Por Rodrigo Borges Delfim

Nos últimos cinco anos, a presença haitiana mudou o padrão do imigrante no território brasileiro e trouxe novos desafios ao país – tendência já mostrada pelo relatório 2016 do OBMigra (Observatório das Migrações Internacionais). Fazer um retrato analítico dessa movimentação tão recente, mas ao mesmo tempo marcante, foi o objetivo do livro Imigração Haitiana no Brasil, uma coletânea de 29 textos escritos por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento.

O livro, já disponível para compra, já pode ser considerado uma referência no assunto devido à sua abrangência, tanto quanto à origem das pesquisas que geraram os artigos como pelos temas abordados: de acolhida a questões de gênero, passando por condições de trabalho e envio de remessas, cobertura da imprensa, entre outros assuntos.

Eventos de lançamento da obra têm sido feitos em todo o país e a parada mais recente foi em São Paulo, na última sexta (09), durante a última edição deste ano dos Diálogos CEM, no auditório da Missão Paz, reunindo alguns dos autores e organizadores da publicação.

O local, aliás, é simbólico para o breve e agitado histórico da imigração haitiana para o Brasil. Nele já chegaram a dormir centenas de haitianos por noite entre os anos de 2014 e 2015, além de outras atividades envolvendo a comunidade, como a festa da bandeira do Haiti, celebrada em 18 de maio. De acordo com a Missão Paz, cerca de 12 mil haitianos já passaram pelos serviços da entidade nos últimos cinco anos.

Migrantes atendidos pela Missão Paz durante evento sobre os atendimentos feitos entre abril e maio de 2014  Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo - maio/2014
Migrantes atendidos pela Missão Paz durante evento sobre os atendimentos feitos entre abril e maio de 2014
Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo – maio/2014

“Resolvemos privilegiar a imigração haitiana nesse livro porque ela foi protagonista para o Brasil se enxergar como um país que não oferece direitos”, ressaltou a professora Rosana Baeninger, do Nepo (Núcleo de Estudos da População) da Unicamp (Universidade de Campinas). “Nesses últimos cinco anos a imigração haitiana mostrou um Brasil despreparado, improvisado e pouco comprometido com os direitos sociais. Esses últimos cinco anos são uma lição para todos nós”.

Mais destaques

Outros dois assuntos ocuparam espaço durante o evento. Um deles foi o projeto da nova Lei de Migração (PL 2516/2015), que havia sido aprovada pela Câmara no último dia 6 de dezembro. A advogada Letícia Carvalho, que tem acompanhado pela Missão Paz a tramitação do projeto pelo Congresso Nacional, fez um breve histórico até a aprovação por parte dos deputados, e destacou alguns dos desafios que virão pela frente.

“A regulamentação da lei será um grande desafio. São 23 pontos que necessitam de regulamentação, assuntos delicados e a sociedade civil precisa estar em cima e participar de todo esse processo”, sintetiza Letícia. O texto ainda precisa passar por uma nova votação no Senado antes de ir para sanção presidencial.

O evento também marcou o lançamento da mais nova edição da revista Travessia, que tem o lado feminino das migrações como tema principal.

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