Tragédias como a de Lampedusa, em outubro de 2013, continuam possíveis de ocorrer a qualquer momento. Nos últimos dias, dois navios com imigrantes foram encontrados à deriva no mar, sem tripulação.
Nesta sexta-feira, o navio Ezadeen (feito para transportar cargas vivas, como animais) foi encontrado a 65 km da costa da Itália com pelo menos 400 imigrantes a bordo. Pouco antes, no dia 30, a embarcação Blue Sky M, transportando 970 pessoas, foi deixada no piloto automático e abandonada pela tripulação – que acredita-se ser composta por traficantes de pessoas.
Os meios mudam, mas a situação é a mesma no mar Mediterrâneo. Saem os botes, entram os grandes navios, mas dentro deles continuam centenas de vidas largadas à própria sorte.
Enquanto isso, a nova prática dos traficantes de pessoas, que foi destaque em meios de comunicação da Europa, continua rendendo lucros a esses grupos, que aproveitam para isso o desespero alheio em fuga de guerras, repressão e em busca de qualidade de vida longe de casa.
Só em 2014, o total de pessoas que chegaram à Itália supera 160 mil – uma média de 450 imigrantes por dia, dos quais a metade são sírios ou eritreus. Grécia e Espanha vêm logo em seguida, com 40 mil e 3.500, respectivamente. Também em 2014, estima-se que 3.400 morreram durante as travessias, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
“Precisamos de uma ação europeia coordenada e urgente no Mar Mediterrâneo, aumentando os esforços para resgatar as pessoas no mar e intensificar os esforços para fornecer alternativas legais a essas viagens perigosas. Sem maneiras mais seguras para os refugiados em busca de segurança na Europa, não vamos ser capazes de reduzir os riscos múltiplos e perigos representados por esses movimentos no mar”, afirma Vincent Cochetel, diretor do escritório europeu do ACNUR.
Segundo especialistas, a nova prática tem relação com o fim da operação Mare Nostrum e o início da Triton. A primeira era empreendida pela Itália, mais ampla, e com a finalidade principal de resgatar os imigrantes à deriva; já a segunda, financiada pela Frontex (a agência europeia de controle de fronteiras) e com menor alcance e orçamento, tem como foco fazer essa tarefa nos mares.
O fim da Mare Nostrum, decretado pela Itália, e o início da Triton, em novembro passado, foi alvo de críticas e questionamentos por parte entidades internacionais como a ONU e a Anistia Internacional. Elas temem que a mudança de foco nas operações marítimas aumente o já elevado número de mortos no mar.
Ao que parece, tragédias como a de Lampedusa (ou ainda maiores) continuam sendo uma questão de tempo para acontecerem, já que todos os elementos que a tornam possível permanecem ativos como nunca.