Organizado em conjunto por brasileiros e migrantes, evento reuniu atrações culturais migrantes e teve momentos de formação e reflexão
Por Rodrigo Borges Delfim
Em São Paulo (SP)
Rodas de conversa, projeções de filmes, apresentações musicais e outras expressões culturais de migrantes. Assim foi durante o final de semana no Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, com a programação do “Migrantes nas Periferias”.
A atividade foi organizada por jovens do Programa Bolsa Trabalho: Juventude, Trabalho e Fabricação Digital (que reúne tanto brasileiros como migrantes), desenvolvido em parceria entre três secretarias municipais de São Paulo – Direitos Humanos e Cidadania, Trabalho e Empreendedorismo, e Inovação e Tecnologia. O evento teve como preocupação dialogar com os migrantes residentes no bairro e aproximá-los da sociedade. Ao mesmo tempo, procurou dar maior visibilidade ao centro cultural, que fica numa área afastada do centro comercial de Cidade Tiradentes.
“O grupo passa a dar visibilidade para uma pauta que ainda não estava sendo vista dentro desse território”, apontou Joyce Ribeiro da Silva, coordenadora do programa Bolsa-Trabalho, sobre o resultado da atividade.
A programação ao longo dos dois dias foi bem diversa: a Equipe de Base Warmis levou um pouco dos Andes e do princípio da não violência que norteiam o grupo por meio de oficinas culturais, venda de artesanato e com a apresentação das Lakitas Sinchi Warmis – grupo musical formado por mulheres migrantes ou descendentes de primeira geração; uma roda de conversa com migrantes, representantes da sociedade civil e de projetos voltados para migrações (CRAI, Educar para o Mundo, Warmis e Promigrar) falou sobre a questão dos migrantes nas periferias; o coletivo Visto Permanente projetou as filmagens que tem realizado com artistas migrantes; e um show da cantora colombiana Victoria Saavedra fechou a programação.
“Esses eventos são importantes para a população ter consciência da diversidade que existe em um país com o Brasil, e que pode ser um potencialidade para o país nos próximos anos”, opina o estudante de engenharia da produção Hector Chabi. Natural de Benin, país do oeste da África, está no Brasil há três anos e meio e trabalha com encadernações personalizadas com tecido importado – material que expôs durante o evento.
Dados recentes da Polícia Federal em 385 mil o número de migrantes internacionais vivendo na cidade de São Paulo – tanto em bairros próximos ao centro como nos extremos da metrópole.
Além da cultura
Joyce lembra que o Migrantes nas Periferias não se resumiu às atividades do final de semana. Ao longo da preparação para o evento, o grupo visitou tanto equipamentos público do bairro (como escolas e unidades de saúde) como o Centro de Referência e Atendimento do Imigrante (CRAI), na região central de São Paulo. Nessa pesquisa de campo, conheceu tanto as queixas dos migrantes como as falhas ainda existentes no atendimento à população, deixando um importante legado.
“Os jovens conseguiram fazer aqui toda uma mobilização, inicialmente sem recursos (só entrando em redes sociais, falando diretamente com as pessoas e visitando equipamentos públicos). E mesmo com essas limitações, chegaram até aqui”.
Para a estudante de administração angolana Lucileide Afonso, 21, o evento por si só já foi importante pelas temáticas que levantou. “Ao fazerem esse projeto, eles [o grupo] foram incríveis. Falar sobre migrantes é algo extremamente relevante no mundo inteiro. E cada um de nós em algum momento da vida será migrante”.