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quinta-feira, abril 18, 2024

Livro traz olhares do imigrante sobre o Rio de Janeiro por meio da imprensa

Por Rodrigo Borges Delfim

O Rio de Janeiro, antiga capital do Brasil e uma das cidades mais conhecidas do país no exterior, também deve aos imigrantes parte de sua formação. E um pouco da diversidade de povos que ajudaram a formar a cidade pode ser conhecida por meio dos veículos de imprensa criados ou voltados para esses imigrantes ao longo da história.

No livro “O Rio de Janeiro dos Imigrantes – Páginas de uma Cidade de Muitos Povos”, da pesquisadora e jornalista Camila Escudero, é possível fazer um breve sobrevoo sobre centenas de jornais, revistas e até sites voltados para italianos, alemães, franceses, judeus, poloneses, espanhóis, portugueses, peruanos, entre outras nacionalidades. A publicação contou com apoio da Faperj, por meio de um programa de incentivo de obras para a celebração dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro.

Sem a necessidade de se aprofundar em cada um desses veículos, o livro de Camila ajuda a contar um pouco da história da migração no Rio de Janeiro, a partir do olhar dessas próprias comunidades imigrantes. E para quem quiser saber mais sobre cada veículo, o livro é um belo convite a buscar essa imersão a partir das referências e nomes que apresenta.

“Acredito que os meios de comunicação voltados para imigrantes, ao publicarem sistematicamente uma realidade (ainda que a partir de algum recorte ideológico), são fundamentais para o conhecimento mais intimo da vida urbana de determinado grupo, seja no passado, seja na contemporaneidade”, opina a autora.

Em breve entrevista ao MigraMundo, Camila fala um pouco mais sobre o livro e o que o estudo da imprensa imigrante agrega à pesquisa sobre migrações, ontem e hoje, independente do meio utilizado.

MigraMundo: Quais eram os temas principais nos jornais dessas comunidades? Havia algum ponto em comum entre eles, apesar das diferentes nacionalidades?
Camila Escudero: A variedade é imensa e o conteúdo, obviamente, está relacionado não só ao grupo envolvido, mas a que segmento tal jornal se destina. uma vez que não é raro encontrarmos, por exemplo, jornais destinados a católicos italianos, a luteranos ou maçons alemães, a empresários chineses e portugueses, a jovens japoneses, a professores alemães; ou ainda publicações que focam determinada editoria: política, econômica, cultural etc. No geral, podemos dizer que a pauta da imprensa de língua estrangeira é fornecida por vários fatores. Entre eles, destacamos: o estímulo à manutenção da identidade e dos laços culturais e afetivos que remetem à terra de origem; o assistencialismo e prestação de serviços; o fórum de debates e idéias (de caráter político, religioso etc.); a facilitação da socialização no novo território ao mesmo tempo (contraditoriamente), baseada na defesa das tradições, valores e moral da colônia em si ou de seus membros; a divulgação cultural; e a denúncia de problemas, desigualdades e/ou irregularidades que atinge diretamente a colônia ou a região física (cidade, fazenda etc.) na qual ela se insere.

Que tipo de ensinamento traz uma pesquisa como essa, focada na imprensa criada por esses imigrantes?
Acredito que os meios de comunicação voltados para imigrantes, ao publicarem sistematicamente uma realidade (ainda que a partir de algum recorte ideológico), são fundamentais para o conhecimento mais intimo da vida urbana de determinado grupo, seja no passado, seja na contemporaneidade. No caso específico do material jornalístico, seus autores têm a capacidade de ir além de suas necessidades e percepções individuais e colocam sobre o real seus sentimentos e percepções, resultando num conhecimento coletivo e impessoal que pode definir, resumir ou, simplesmente, exibir, características de seus similares.

Além da imprensa imigrante até meados do século XX, você tem acompanhado também algum veículo criado por comunidades migrantes que vivem hoje no Rio?
Sim. Hoje em dia, os jornais impressos deram lugar ao que chamamos de Webdiáspora, que compreende sites, fóruns virtuais, blogs, páginas de Facebook, Twitter e outras redes sociais feitas de e para imigrantes, nos quais custos de publicações e alcance de leitores destacam-se como facilidades das chamadas TIC’s (Tecnologia de Informação e Comunicação). Podemos dizer que a webdiáspora se configura, dentro dos processos migratórios, não só como um espaço transnacional e intercultural midiático, mas como um recurso para interação e compartilhamento dos vínculos sociais (reais ou imaginários, com o país de origem ou de destino), no qual fluxos de informação acabam por construir não só uma identidade diaspórica, mas por participar da negociação de direitos cidadãos e garantir a existência de um cidadão do mundo.

O Rio de Janeiro dos Imigrantes – Páginas de uma cidade de muitos povos
Autora: Camila Escudero
88 páginas
Ed. E-papers (disponível em formato impresso e em E-book)
Preço: R$ 11,50 (e-book) ou R$ 23,50 (impresso)

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