O mar Mediterrâneo, especialmente a área central, segue como a rota migratória mais letal do mundo. E com números em crescimento em relação a anos anteriores, impulsionada por naufrágios recentes de embarcações com migrantes.
Segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações), a partir do programa Missing Migrants Project, só no primeiro trimestre deste ano foram 441 migrantes mortos no Mediterrâneo Central. A área compreende Itália e Malta do lado europeu, além de Tunísia e Líbia na margem africana. O número é o mais alto para o período desde 2017.
No entanto, a OIM estima que o número real de pessoas que perderam a vida em travessias migratórias seja ainda maior. Isso porque há os chamados “naufrágios invisíveis”, casos em que barcos inteiros são perdidos no mar sem qualquer operação de busca e salvamento em andamento.
Em todo o Mediterrâneo já morreram mais de 26 mil pessoas desde que o projeto foi iniciado, em 2014. O dado representa mais da metade das mais de 53 mil vidas perdidas já contabilizadas em travessias migratórias mundo afora.
Também durante o primeiro trimestre, a Frontex, agência europeia de fronteiras, indicou um aumento de 300% nas travessias marítimas via Mediterrâneo em direção ao continente.
Operações de salvamento x governos
A OIM atribui o aumento à omissão de governos nacionais e às proibições de operações de resgate e salvamento realizadas por ONGs. Tanto a Itália quanto a Líbia e a Tunísia têm impedido ou dificultado tais atividades, sob o pretexto principal de combate ao tráfico humano
“A persistência da crise humanitária no Mediterrâneo é intolerável. Temo que essas mortes sejam normalizadas. Os Estados devem agir. Atrasos e lacunas nas operações de busca e salvamento estão custando vidas humanas”, declarou o diretor-geral da OIM, António Vitorino, em comunicado público à imprensa nesta quarta-feira (12).
Os Estados, no entanto, têm ido na contramão do apelo das organizações internacionais e de resgate de migrantes. Ao mesmo tempo, a retórica anti-migração vem ganhando espaço no cenário político europeu, se traduzindo em medidas que visam restringir cada vez mais a chegada de não-nacionais.
Em 25 de fevereiro, a Itália aprovou uma lei que dificulta o socorro a sobreviventes no mar por ONGs. Um dia depois, um novo naufrágio na costa sul do país matou mais de 60 pessoas, em sua maioria originárias do Afeganistão, Paquistão, Irã e Somália.
Só no fim de semana da Páscoa, cerca de 3.000 migrantes chegaram à Itália, elevando o total neste ano a mais de 31 mil pessoas. A Itália declarou situação de emergência e tem pressionado a União Europeia a intervir.
Enquanto governos e organizações internacionais trocam acusações, ONGs continuam a denunciar mortes no mar.
“Centenas de pessoas aguardavam resgate, mas a Europa as ignorou. Numerosas pessoas morreram afogadas em naufrágios e, novamente, os corpos tiveram que ser trazidos para terra por navios de resgate civil. A política europeia da morte continua a fazer mais vítimas”, disse a ONG Sea-Watch International por meio de postagem no Twitter.
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