Montar um acervo digital sobre refugiados a partir da produção deles próprios em aulas de português e outras atividades culturais. Esse é o objetivo – e também o desafio – do MemoRef (Memorial Digital do Refugiado), projeto idealizado e integrado por estudantes de Letras da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Composto por Marina Reinoldes, Ingrid Albuquerque, Ana Flávia Ercolini, Andreza Figueiredo, Beatriz Rocha, Mariana Guedes e Thomas Chequetto, o MemoRef nasceu do trabalho voluntário feito por Marina e Ingrid professoras de português no Oasis Solidário – entidade que dá apoio a refugiados em São Paulo. O crescimento da demanda pelos cursos levou as duas jovens a pensarem em novas soluções para a questão.
“Como precisávamos de mais voluntários para o projeto, escrevi um post no grupo da faculdade no Facebook e apareceu muita gente interessada. E aí pensamos: por que não levar esse projeto para a Unifesp para poder ajudar mais gente?”, lembra Marina. Foi assim que os demais integrantes se juntaram ao MemoRef e começaram a trabalhar em conjunto.
O MemoRef será composto por três eixos principais: as aulas de português, a partir das experiências e vivências dos próprios alunos; atividades culturais promovidas por alunos e professores da Unifesp e também pelos refugiados, com o intuito de integrar uns aos outros e a comunidade acadêmica; e o acervo digital, a ser formado com as contribuições e relatos voluntários de cada um.
“Uma das ideias é trazer os refugiados para a universidade, não como simples objeto de estudo, mas de forma colaborativa para os dois lados. O refugiado adquire o português e vai contribuir para a comunidade acadêmica na medida em que traz seus relatos e alimenta esse banco de dados, que se tornará uma fonte de consulta”, explica Chequetto.
As aulas estão previstas para ocorrer entre os meses de setembro e novembro, no campus de Guarulhos da Unifesp. A primeira turma deverá contar com 15 alunos, a serem encaminhados pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo – que também dará apoio ao grupo em questões sobre como preservar a imagem e a segurança do que publicar ou não sobre os refugiados.
“Temos de fazer um recorte que dê a visibilidade para o refugiado, que o torne sujeito na sociedade, inserido no Brasil e que conte a sua situação na sua perspectiva, mas sem expô-lo”, resume Ingrid sobre o desafio de jogar luz sobre os problemas que o refugiado enfrenta, mas preservando sua imagem.
O grupo inscreveu o projeto no edital ProCultura Estudantil 2015 da Unifesp, que libera verba para ações promovidas por estudantes. O resultado deve sair em agosto. “Mas o projeto sai mesmo sem a ajuda do edital, embora seja preciso fazer alguns ajustes nesse caso”, reforça Marina, mostrando o compromisso do grupo com a causa.
Quebra de estereótipos
Além de ajudar com o português e de promover a aproximação da comunidade acadêmica com os refugiados, o MemoRef também tem como objetivo lutar contra os preconceitos que persistem sobre a temática do refúgio e das migrações na sociedade brasileira.
“É muito fácil julgar o outro quando não passamos pela mesma coisa que ele”, destaca Marina, lembrando uma série de rótulos impostos aos refugiados e migrantes de acordo com sua origem ou mesmo aparência – “árabe terrorista”, “negro pobre”, “europeu branco”, entre outros.
Ingrid lembra ainda que jogar luz sobre os relatos e experiências vividas pelos refugiados tem o poder de ajudar a mudar a percepção da sociedade sobre o tema. “O registro é muito importante, porque a gente individualiza a experiência, a humaniza. E que outras pessoas, quando verem esses registros, percebam que os refugiados fazem parte da sociedade tanto quanto nós”.
Além da Caritas, o MemoRef conta com o apoio de: Life (Laboratório Interdisciplinar de Formação do Educador), Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH) e Cátedra Sérgio Vieira de Mello, todos da Unifesp; Colégio São Bento; Rosane de Sá Amado (coordenadora do curso de português no Oasis Solidário); estúdio WF21, editora Essencial e da agência de design Forma Mídias.
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