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domingo, dezembro 22, 2024

No 1º de maio, imigrantes respondem: para cada um deles, o que significa o trabalho?

Por Rodrigo Borges Delfim

Ele é integração, mas também pode ser transformado em uma forma de exploração. Pode reforçar estereótipos, mas também pode gerar consciência social e política que ajuda justamente a derrubar conceitos que na verdade são falsas verdades.

Sim, o trabalho vai além da geração de renda e do sustento. E para os imigrantes e refugiados, em especial, é um meio fundamental para a inserção na sociedade – tanto na brasileira como em qualquer outra. Por outro lado, esse instrumento também pode ser distorcido quando as condições de trabalho não são dignas, como nas situações análogas à escravidão – especialmente quando a pessoa não tem conhecimento dos próprios direitos.

Mas para os imigrantes, o que significa ter um trabalho e como ele tem ajudado na trajetória de cada um que tem construído uma nova vida no Brasil? Alguns deles toparam responder a essa pergunta para o MigraMundo, e o resultado pode ser visto nos depoimentos abaixo:

 

Trabalho é tudo. Se você não trabalha, não tem nada. Trabalhei como professor de design gráfico e administrador no Paquistão. Mas aqui é diferente, trabalho como professor de inglês porque gosto de falar inglês e aprender com os outros. Também trabalho como artesão, que é uma coisa que gosto de fazer. Conheci muita coisa no Brasil através deste trabalho.

Raheel Shahbaz, Paquistão
No Brasil, é um dos professores do projeto Abraço Cultural e também atua como artesão, hobby que tem ajudado a gerar renda. Mas se tiver oportunidade, quer voltar a trabalhar nas áreas em que atuava na terra natal

“Para mim, trabalho é uma forma de integração do imigrante. Mas trabalho não significa garantia de vida. Os imigrantes deveriam fazer tudo para saber dos direitos trabalhistas deles, porque imigrante não significa trabalho escravo”

Omana Ngandu, Congo
No Brasil, professor de francês e de cultura africana

 

Foi à procura de trabalho que cruzei a Ponte da Amizade, e foi dentro das oficinas de costura que comecei a questionar a história dos nossos países, a estudá-lo e criar laços de amizade, seja através do futebol, na fila da Policia federal, na universidade, no ônibus, com pessoas que lutam diariamente pela dignidade como ser humano, por trabalho (digno), por justiça (RNE), por liberdade (ir e vir sem medo) que ajudaria a cumprir muitos sonhos. Aprendi a sonhar mesmo sabendo das dificuldades com as diversas nacionalidades que conheci, e a enterrar qualquer preconceito que tinha anteriormente. Estas pessoas me ajudaram a enxergar que outro mundo e uma outra globalização é possível.

Leo Ramirez, Paraguai
Chegou ao Brasil para trabalhar com oficinas de costura e atualmente é funcionário do Consulado da Venezuela em São Paulo

“Quando você não possui RNE [o Registro Nacional de Estrangeiro, o principal documento para imigrantes no Brasil], algumas companhias aqui te colocam em toda e qualquer função, e no final pagam um valor muito baixo, enquanto para viver no Brasil é preciso dinheiro, porque o custo é alto. Então, como posso receber cerca de R$ 600 aqui e ainda por cima cuidar dos familiares que estão na nossa terra natal? Este tem sido um grande desafio para nós. Queremos que o governo brasileiro venha e ajude a combater essa situação de problemas de discriminação no trabalho”

Edwin Eason, Gana
Trabalha no Brasil como operador de máquinas e é engajado na luta por melhorias para outros ganeses no Brasil. Sua reflexão vem do acompanhamento das lutas e dramas que conhece dentro da comunidade

Trabalho significa reintegração, praticar e conhecer a língua. No meu caso, que trabalho com gastronomia, aprendi muito com os nomes dos ingredientes das receitas. Também me ajuda a conhecer mais o Brasil, porque trabalho com os brasileiros.

Bouteina Sakhi, Marrocos
Trabalha com gastronomia e traz para o Brasil um pouco dos sabores da terra natal. Trabalhava em um restaurante de culinária libanesa e recentemente começou a empreender e buscar o próprio negócio de culinária marroquina.

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