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terça-feira, outubro 15, 2024

Novo site mostra os “Rostos da Migração” em São Paulo e suas histórias

Eles fazem parte da sociedade, embora muitos insistam em ignorá-los. Os imigrantes ajudaram e continuam a contribuir para São Paulo, em grupo e individualmente. Mas qual a história por trás dessas pessoas? Para experiências tão diversas não “passarem batido” e lutar contra a discriminação que ronda os imigrante é que o missionário católico Greg Fischer deu início à página Rostos da Migração, que retrata os recém-chegados à capital paulista.

No ar desde 2 de abril, a iniciativa consiste em um fotoblog (no formato Tumblr) e na fanpage no Facebook, onde são compartilhados os textos (em português, inglês, espanhol e francês) e imagens sobre cada personagem. Apenas na primeira semana de atividades foram cerca de 1.300 visitas – número que deve crescer ainda mais, conforme a página se torna conhecida.

Mulher síria é uma das personagens que já compartilharam histórias pelo Rostos da Migração. Crédito: Rostos da Migração
Mulher síria é uma das personagens que já compartilharam histórias pelo Rostos da Migração.
Crédito: Rostos da Migração

“Eu quero começar uma coleção de imagens e histórias para capturar esses rostos da migração – a única de cada indivíduo, seus pensamentos, tesouros, memórias duradouras, etc. para ilustrar o aspecto humano por trás da imigração. Rostos da Migração pode mostrar o aspecto humano e a diversidade da população migratória, que é várias vezes perdido em discursos sobre políticas públicas”, explica Fischer.

Nascido em Chicago (EUA) e integrante da associação Missionários Leigos de Maryknoll, Fischer é professor de literatura e voluntário na Missão Paz, entidade referência para imigrantes em São Paulo. Ele ainda é um dos imigrantes eleitos para os Conselhos Participativos municipais da cidade – integra o Conselho da Subprefeitura da Freguesia do Ó-Brasilândia.

Inspirações e meios

A ideia para a Rostos da Migração nasceu em dezembro, depois que leu o livro sobre o site Humans of New York (HONY), no qual o fotógrafo Brandon Stanton procurou retratar a diversidade cultural e social da “Big Apple” por meio dos moradores da cidade (saiba mais aqui).

“É difícil aprender português?”, pergunta haitiano entrevistado pelo Rostos da Migração. Crédito: Rostos da Migração
“É difícil aprender português?”, pergunta haitiano entrevistado pelo Rostos da Migração.
Crédito: Rostos da Migração

“Para mim o que faz o HONY distintivo não são as fotos, mas as questões específicas que o Sr. Stanton pede aos seus entrevistados; ele consegue, através das perguntas, ir além do mundano para chegar ao núcleo da pessoa. O que separa essa pessoa? Por que essa pessoa é única? Que coisa, pessoa ou memória que ele preza a sua identidade pessoal? HONY, acima de tudo, humaniza e provoca compaixão para as pessoas que nós vemos todos os dias, mas não damos qualquer atenção.”, explica Fischer.

Quando questionado sobre como escolhe os personagens para a Rostos da Migração, Fischer é direto. “Eu tenho só um requisito para fazer a entrevista: “Você quer falar comigo?” Só isso. Acho que todas as pessoas têm alguma coisa compartilhar; nós todos temos uma história que vale a pena compartilhar. É muito importante eu explicar minha intenção logo no inicio da entrevista para eliminar dúvidas”.

Nem todos os imigrantes topam mostrar o rosto ou citar o nome, por diferentes motivos. Mas Fischer mostra que outros meios podem ser usados para retratar a história deste ou daquele imigrante, sem violar o espaço do retratado. “Eu entendo que não são todas as pessoas que querem tirar um foto de seu rostos (pode ser uma coisa de segurança pessoal, como no caso de um refugiado), tudo bem. Mas há outros jeitos para captar esse migrante sem seu rosto. A historia ainda vale a pena compartilhar”.

Expansão

Embora a maioria das entrevistas tenham sido feitas nas dependências da entidade, a ideia é expandir a cobertura para outros locais.

“Essa é a área que eu quero melhorar. A maioria das entrevistas até hoje aconteceram na Missão Paz. Isso não é minha intenção a longo prazo. A filosofia de “Rostos” é de ir atrás de migrantes moram em todos lugares da cidade (e do Brasil). São Paulo sozinho tem mais de 300.000 imigrantes. Com mais exposição, eu espero que mais imigrantes estejam abertos a falar comigo. Estou disposto a viajar qualquer lugar para se reunir com os indivíduos”.

Fischer conduz pessoalmente as entrevistas e atualmente conta com a ajuda de outros voluntários da Missão – seja com francês (que não fala), seja com o próprio português que vem elaborando com a vivência em São Paulo. O trabalho ficou um pouco prejudicado na última semana porque Fischer “virou estatística”: contraiu dengue e passou dez dias de cama.

Já recuperado, Fischer e os demais voluntários devem coletar e divulgar novos rostos e histórias que compõem o extenso e complexo mosaico das migrações em São Paulo e no Brasil. Uma iniciativa que tem tudo para fazer coro com as já existentes e inspirar outras a lutar contra a discriminação e a xenofobia que, infelizmente, costumam pautar as migrações no contexto global.

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