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sexta-feira, julho 26, 2024

O que esperar (e o que fazer) de 2015?

Duas imagens relacionadas diretamente com a temática migratória no mundo foram apontadas como as melhores de 2014 pelo site do diário britânico The Guardian: a de um barco lotado de imigrantes no mar Mediterrâneo e outra de imigrantes em Melilla, enclave espanhol no Marrocos, em uma cerca ao lado de um campo de golfe.

A lista completa das imagens pode ser vista neste link, mas as duas fotos sobre imigração dizem muito a respeito de que foi 2014 para a temática no mundo e os desafios que ficam para 2015 – e muito provavelmente para os próximos anos.

Imigrantes em cerca ao lado de campo de golfe em Melilla, enclave espanhol no Marrocos. Crédito: Jose Palazon
Imigrantes em cerca ao lado de campo de golfe em Melilla, enclave espanhol no Marrocos.
Crédito: Jose Palazon

“Esta imagem mostra com muita clareza a razão para a imigração e a indiferença dos países do norte com os migrantes”, diz ao The Guardian o fotógrafo Jose Palazon, autor do clique em Melilla. De fato, indiferença é uma palavra que traduz bem o sentimento e a postura de muitos governos e integrantes de sociedades no mundo todo com a questão migratória.

Seja por terra ou pelo mar (e ainda tem os que chegam pelo ar), as imagens mostram que as políticas de restrição a imigrantes no contexto internacional tem falhado em seu objetivo.  O motivo, na verdade, é simples: a migração é um fenômeno humano, que ocorre desde os primórdios da humanidade e vai continuar a ocorrer, a despeito das políticas de restrição e de barreiras tanto físicas como imateriais. No entanto, em vez de procurar entender o que e quem são esses imigrantes, e como eles podem colaborar com a economia e a sociedade de um país, a reação padrão no mundo tem sido ignorar essas pessoas.

Migrantes continuam se arriscando em travessias pelo mar. Situação que deve continuar em 2015. Crédito: Massimo Sestini/eyevine
Migrantes continuam se arriscando em travessias pelo mar. Situação que deve continuar em 2015.
Crédito: Massimo Sestini/eyevine

Ora, uma pessoa perde sua humanidade e seus direitos pelo simples fato de cruzar uma fronteira? A migração não é apenas um fenômeno inerente ao ser humano, mas também um direito humano, uma dimensão global do direito de ir e vir. Enquanto a migração não for encarada sob esse prisma, imagens como as de Melilla e do Mediterrâneo continuarão a se repetir.

Respostas locais e globais e o papel da sociedade

Em uma das discussões da sexta edição do Fórum Social Mundial para as Migrações (WSFM, na sigla em inglês), que aconteceu no começo de dezembro na África do Sul, ficou claro para debatedores e demais presentes que a migração no mundo requer tanto respostas globais como locais.

A migração tem pontos que são comuns no mundo todo, mas não deixa de guardar particularidades de acordo com a região. Por essa complexidade, ações globais e locais têm de ser combinadas para lidar com os desafios que a mobilidade humana traz para governos e sociedades.

“Precisamos ter a ambição de promover processos de transformação social a partir da base. Também precisamos consolidar as estruturas de participação social para garantir equidade e justiça”, disse o professor Raúl Delgado Wise, representante da Unesco no México para migrações, desenvolvimento e direitos humanos, durante o WSFM.

Árvore na praça Kantuta, em São Paulo. Migrantes são parte da sociedade e não devem ficar à parte dela. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Árvore na praça Kantuta, em São Paulo. Migrantes são parte da sociedade e não devem ficar à parte dela.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim

Mais próximas da temática e capazes de agir mais rapidamente que os governos, entidades da sociedade civil (formadas ou não por imigrantes) têm papel fundamental para atuar e propor políticas e ações pelos imigrantes, além de ajudar a mostrar às pessoas e governos que os migrantes não são pessoas à parte, mas também parte das sociedades e alvos de políticas locais e nacionais. No entanto, sem o suporte e a sensibilidade desses dois atores, tais ações perdem força.

Para 2015 (e para os próximos anos) deve-se esperar muito trabalho para governos e sociedades (organizadas ou não). Apesar dos avanços já obtidos mundo afora, conceitos xenófobos e de restrição aos migrantes continuam fortes no imaginário e em ações práticas.

Neste novo ano e nos seguintes, deve-se tanto zelar pelo terreno conquistado e pelos estereótipos enfraquecidos e derrubados como reivindicar a expansão dessas conquistas, a partir dos bons exemplos já existentes mundo afora. E tais exemplos mostram que, sim, é possível ver e reivindicar a migração reconhecida como direito humano e o migrante como parte da sociedade.

Que venha 2015!

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