Sim, já são cinco anos na estrada! E para começar a celebração dessa data, colaboradores do site contam sobre o que desejariam noticiar no futuro
Por MigraMundo
É dia de festa no MigraMundo! Exatamente neste 3 de outubro o site completa cinco anos no ar
Nesse período, noticiamos as histórias, as conquistas e as lutas dos migrantes ao redor do Brasil do mundo. Mostramos ao nosso leitor também como tem sido o recebimento destas pessoas que migram nos países onde elas chegam – as crises em acolher, a falta de vagas em escolas para crianças, os campos de refugiados nas bordas da Europa, os botes e, infelizmente, os muros. Hoje alguns de nossos colaboradores falam sobre o que eles gostariam de relatar a você, caro leitor, nos próximos 5 anos.
Sabemos que migrar não é fácil, mas se tornaria um pouco mais fácil se do outro lado da migração existissem casas – e não fronteiras. É isso o que nós da equipe do MigraMundo desejamos para os próximos cinco anos!
PS: vem mais por aí. Aguardem….
(Leia abaixo os desejos específicos de alguns colaboradores de nossa equipe)
Amanda Rossa, formada em Direito e mestranda em Ciências Humanas e Sociais na UFABC, é pesquisadora de migrações e refúgio e colabora com o MigraMundo de São Paulo
São tantos desejos! Um mundo sem fronteiras, mas quem sabe isso levará mais tempo… Para agora, gostaria de noticiar um grande número de diplomas revalidados no Brasil de migrantes de todos os lugares. Um maior diálogo entre a sociedade civil, as universidades e grupos de migrantes encontrando soluções para que os talentos e habilidades sejam reconhecidas, e as pessoas possam viver uma vida digna, fazendo aquilo que as faz feliz. Acho um objetivo bastante tangível, que começa por uma maior sensibilidade das pessoas e do poder público sobre os desafios em iniciar uma vida nova num país desconhecido.
Debora Draghi, assistente de projetos no Linyon Global Workers em Curitiba, escreve para o MigraMundo desde maio de 2017
Nos próximos cinco anos, gostaria de relatar como a estrutura de recepção cresceu e melhorou em diversos Estados do Brasil e como a população nacional se dispôs, cada vez mais, a integrar e acolher, livre de estereótipos e preconceitos. Acredito também, que ao longo dos anos veremos uma maior participação no setor privado nas contratações, pois isso está mudando aos poucos, sendo o setor privado um ator importante para as mudanças sociais. Além disso, gostaria de noticiar como o potencial de imigrantes e refugiados tem sido bem recebido e como suas qualificações são bem vindas e necessárias para o Brasil.
Seria extremamente agradável poder relatar que nações com melhores condições financeiras se dispuseram a acolher mais refugiados, aliviando a pressão de países como Líbano e Jordânia. Por fim, gostaria de escrever o quanto os discursos racistas e xenófobos diminuíram consideravelmente ao longo dos anos, dando espaço a tolerância e compreensão.
Eva Bella, fotógrafa em São Paulo, colaboradora há 3 anos do MigraMundo
Embora o cenário não seja dos melhores, espero que a política migratória tente ser mais generosa nos próximos anos, e para isso gostaria de continuar colaborando com imagens que demonstram que todos somos iguais, que cada povo tem sua beleza, alegria, que temos direito a viver em paz no local onde escolhermos, por isso sou a favor de mais pontes e menos fronteiras.
Géssica Brandino, jornalista colaboradora em São Paulo
Meu primeiro grande desejo é que refugiados e imigrantes sejam tratados como protagonistas de suas histórias, realizações e reivindicações no Brasil. Gostaria que nenhum debate sobre a temática migratória deixasse fora da mesa quem mais pode contar sobre o que é ser imigrante e viver no refúgio.
Gostaria de noticiar que a construção de muros fracassou, que os estereótipos em torno dos refugiados e imigrantes fossem superados e governos dos estados e municípios do país estão empenhados para garantir que todo aquele que migra, seja de forma voluntária ou forçada, receba tratamento digno nos serviços públicos, que há políticas de estado para ensino do português e inserção no mercado de trabalho em todas as cidades onde há imigrantes.
Gostaria de noticiar que todas as solicitações de refúgio no Brasil são respondidas num período inferior a um ano e que a revalidação de diplomas já não é um problema. Que as crianças imigrantes e filhas de imigrantes não são discriminadas na escola e que há diretrizes do Ministério, Secretarias estaduais e municipais da Educação para a garantia desse direito.
María Villarreal, professora e pesquisadora, colabora com o MigraMundo no Rio de Janeiro.
Em um contexto de crescimento da mobilidade humana, seria ótimo que o MigraMundo pudesse noticiar que finalmente entendemos que as migrações são um fenômeno natural, humano e indissociável da nossa vida no planeta. Gostaria que pudéssemos noticiar também que fugir, não aceitar ou se render perante condições difíceis, procurar uma vida melhor, escolher um lugar diferente de onde nascemos ou simplesmente buscar novos rumos não é crime, mas apenas uma escolha humana, válida e legítima para qualquer pessoa, independentemente dos seus documentos de identidade ou do seu lugar de nascimento.
Gostaria que pudéssemos contar também que o Brasil e, de forma geral, a sociedade brasileira entendeu que a migração é uma oportunidade para todos e que decidiu melhorar seus programas e políticas de acolhimento e integração, reconhecendo as capacidades e formação das pessoas e lhes oferecendo possibilidades reais de viver bem e de contribuir ao melhoramento do país. Seria ótimo poder divulgar também que os migrantes e refugiados, como novos cidadãos podem, de fato, exercer seus direitos e participar ativamente da construção de um novo Brasil, mais humano, mais aberto, tolerante, rico, diverso e, portanto, com menos xenofobia e discriminação. Por fim, seria ótimo poder descrever este processo, conjuntamente com o reconhecimento do Brasil como país de emigração e com a criação de políticas e programas para ampliar os direitos dos brasileiros e brasileiras no exterior.
Rodrigo Borges Delfim, 32, editor do MigraMundo, é jornalista e iniciou o site em 3 de outubro de 2012
O que eu gostaria de noticiar no MigraMundo? Olha, tem muita coisa… Algumas o site até já teve o prazer de publicar, como a aprovação da Lei de Migração no Senado – apesar das dezenas de vetos no texto sancionado.
Além dos desejos já feitos pelo time em seus depoimentos, um ato concreto que eu gostaria muito de ver se tornando realidade no Brasil é a aprovação do direito do migrante de votar e de ser votado. Afinal, se o migrante contribui social, econômica e culturalmente para um país, por que não permitir o exercício da cidadania por meio do voto – e um voto facultativo, que seja de fato um direito e não uma obrigação simplesmente. Vale lembrar que o Brasil é o único país da América do Sul que não permite qualquer tipo de participação do migrante em seu processo eleitoral.
Também sonho com o dia que migrar passe a ser visto como realmente é, um fenômeno social, uma extensão global do direito de ir e vir, e com o dia em que vamos conseguir superar os muros da xenofobia e da intolerância que nos impedem de ver o que há do outro lado
Victória Brotto, jornalista colaboradora em Estrasburgo (França)
Eu gostaria de noticiar melhoras no sistema de acolhimento de refugiados da União Europeia. Gostaria de escrever sobre os vistos de trabalho que estariam sendo dados aos refugiados, assim como um sistema de sorteio que redirecione o refugiado recém-chegado para um país onde seu perfil e suas habilidades sejam melhor utilizadas e onde ele também se sinta melhor. O compartilhamento de know-how entre locais e refugiados, assim como criação de vistos humanitários para a população que foge dos países em crise humanitária – algo que o Brasil já faz – eu também gostaria de colocar na minha lista de ‘sugestões de pauta’ para os próximos anos de trabalho jornalístico.
Gostaria de noticiar também uma migração de retorno, com ex-refugiados voltando para seus países a fim de ajudar a reconstruí-los – mas talvez seja muito cedo para desejar isso – quem sabe no aniversário de 15 anos do Migra. Gostaria também não só de noticiar, mas de ler notícias onde o refugiado tenha espaço e onde ele não seja tratado como apenas mais um miserável às margens de sociedades lerdas em ter compaixão pelo próximo que sofre.
E você, que colabora com o MigraMundo ou acompanha o site, gostaria de deixar seu desejo? Basta enviar para [email protected] que atualizamos este mural