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quinta-feira, dezembro 12, 2024

O que pessoas comuns pensam de ato anti-imigração na avenida Paulista?

A maioria dos pedestres que passavam pelo ato mostrava indiferença. Poucos aderiam ao movimento e outros tantos expressavam indignação 

Por Rodrigo Borges Delfim
De São Paulo (SP)

Na última terça-feira (16) aconteceu a terceira manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, contra a Lei de Migração, aprovada no mês passado pelo Senado e que aguarda sanção presidencial. Dezenas de pessoas se concentraram em frente ao shopping Cidade de São Paulo e seguiram em caminhada até o escritório da Presidência da República, na mesma via.

Ao público que passava pela Paulista no fim de tarde eram distribuídos folhetos que pregavam que a nova Lei de Migração é “perigosa” para o país por permitir a “islamização”. O panfleto tinha ainda uma tirinha em quadrinhos de gosto bem duvidoso, no qual muçulmanos eram mostrados estuprando uma mulher cristã.

Veja 12 perguntas e respostas sobre a nova Lei de Migração

No sistema de som montado, se misturavam a música Aquarela, de Toquinho, e um rap que falava em “direitos humanos para humanos direitos”, além de gritos de “veta Temer”, “não à Lei de Migração” e “Lula ladrão”. Há ainda um esforço do grupo em mostrar que o protesto “não é contra os imigrantes que passam fome”, mas sim “contra a nova lei que viola a soberania do Brasil”.

Entre as pessoas concentradas para o protesto, a maioria era de simpatizantes ou pertencentes ao grupo Direita São Paulo, organizador da manifestação, e da Liga Cristã Mundial, identificados facilmente por camisetas e bandeiras amarelas, que se diz “contra o comunismo e contra a islamização no Brasil”.

Dias antes, em 7 de maio passado, a mesma avenida Paulista, aproveitando a abertura a pedestres aos domingos, teve uma roda de conversa com esclarecimentos sobre a Lei de Migração e em repúdio a atos de xenofobia e preconceito presentes tanto em atos públicos como em manifestações na internet.

Percepção do público

Mas qual a visão do público que transita ou trabalha na avenida diante desse tipo de manifestação? Que tipo de mensagem ela deixa? A maioria dos pedestres que passavam pelo ato mostrava indiferença – pegava o panfleto e continuava seu caminho; outros paravam para conversar com os manifestantes sobre os motivos do protesto. Poucos paravam e aderiam ao ato. Havia ainda as que passavam e comentavam não ver sentido nesse tipo de manifestação, especialmente considerando a formação miscigenada do Brasil.

Uma das pessoas que parou para tentar entender melhor o protesto foi a relações públicas Annie Ortiz, que conversou com um dos manifestantes. “O que eu notei no começo é que ele falava de uma espécie de “ficha limpa” para os imigrantes, mas depois vi que na verdade falava apenas dos muçulmanos. Achei preconceituoso, sem sentido”, opinou.

Já Alvaro Moreira Ramos, atualmente desempregado, viu o protesto quando entrou no shopping para encher a garrafa de água e ficou incomodado quando um manifestante pegou o megafone para dizer que ‘o Brasil já estava uma droga e era a escória do mundo’. “Saí do shopping e comecei a gritar que eles eram fascistas, contra a democracia e contra o direito de liberdade, disseminando ideias erradas. E eu não consegui falar, logo em seguida me cortaram e a polícia montou uma barreira em torno de mim e me tirou do protesto”. Havia dezenas de policiais dos dois lados da avenida, acompanhando o ato.

Uma das informações falsas relatadas por Ramos era de que manifestantes disseram no ato que haitianos eram extremistas islâmicos. “Começaram a misturar tudo!”.

Para a artesã Annie Siqueira, que trabalha na Paulista e já tinha presenciado as outras duas manifestações contra a Lei de Migração, falta conteúdo nas reivindicações. “São simplesmente pessoas bradando ‘não, não, não contra a Lei da Migração’ e que não te passam uma informação para saber o que está acontecendo. Se você defende uma causa, precisa ter argumentos para mostrar que ela é válida. Acho que falta conteúdo, não passa uma mensagem”.

Dados atualizados

De acordo com a Polícia Federal, em 2015 entraram 117.745 migrantes internacionais no Brasil, uma ligeira redução na comparação com os dados de 2014 (119.431). A PF estima em 1,8 milhão o número de migrantes de outros países residentes formalmente no Brasil – o que representa menos de 1% do total da população brasileira atual.

Ao mesmo tempo, dados mais recentes (2014) do Ministério de Relações Exteriores apontam que existem ao menos 3,1 milhões de brasileiros vivendo no exterior.

3 COMENTÁRIOS

  1. Tive a infelicidade de passar por lá no momento da manifestação. Bem na hora que o interlocutor criticava a imprensa por chama-los de racistas. Se eles não são racistas eu não queria ver um racista de verdade! Esse movimento é de uma insanidade total!

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