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sábado, novembro 23, 2024

O racismo contra Vinicius Júnior e outros jogadores: o futebol brasileiro não existiria sem a diáspora africana

Título faz uma reflexão necessária e urgente após seguidos casos de racismo contra o brasileiro Vinícius Júnior na Espanha. E ele não está sozinho

Por Ednilson Valia

Recentemente, todos puderam acompanhar o caso de racismo contra Vinícius Júnior na Espanha. Vini que ouviu de um estádio inteiro em Valência a palavra “Mono”, que significa “macaco” em espanhol. Qual foi a primeira atitude do homem branco em relação ao racismo contra o brasileiro? Culpar a vítima.

O episódio no estádio Mestalla, aliás, não foi o primeiro. Desde outubro de 2021 foram dez manifestações racistas contra Vinícius Júnior. E ele, infelizmente, não está sozinho: outros atletas, brasileiros ou não, têm sido alvos constantes de discriminação pela cor da pele, mundo afora.

Vinícius é representante desta nobre linhagem do futebol brasileiro, pentacampeão do mundo, com cinco ou seis jogadores entre os melhores de todos os tempos, e que não existiria sem os negros. Portanto, o nosso principal esporte foi forjado na dor e no sofrimento do povo africano.

Obviamente, o caro leitor ou a cara leitora podem discordar, mas alguém conseguirá imaginar o que seria o futebol brasileiro sem os negros e seus descendentes diretos?

O futebol brasileiro teria conquistado cinco Copas do Mundo, caso em 1958, não tivéssemos Pelé, Garrincha, Didi e Nilton Santos? Em 1962, sem Amarildo, Garrincha, e Djalma Santos? Haveria possibilidades de título, em 70, com as ausências de Pelé e Jairzinho? 1994, sem o Romário? Imaginem 2002, com Ronaldo Fenômeno e o Gaúcho fora, teríamos chance?

A diáspora africana, que traduzindo para o popular, foi o sequestro e a escravidão de negros e negras do seu continente de origem, e forçados a adotarem o modo de vida, cultura, religião, idiomas e estruturação política de seus sequestradores. Cinco milhões de africanos tiveram suas vidas roubadas para serem escravizados no Brasil.

Vítimas da dor, da violência, dos assassinatos e mesmo assim, aqueles que sobreviveram criaram raízes no Brasil e de suas descendências e etnias surgiram os craques brasileiros que povoaram os gramados mundiais. Respondendo o seu sofrimento aos seus colonizadores e escravagistas com a “magia” do talento. O homem branco levou a dor e o negro replicou com a competência, destreza e a alegria.

O exemplo de Pelé

Apesar de todos os resultados nos gramados, colocando o Brasil no “mapa” do mundo, tornando um país relevante, ainda mentecaptos idealizados pelo pensamento do colonizador, arrumou outro propósito para atingir o negro no futebol brasileiro. E a vítima não poderia ser outra, simplesmente o maior símbolo de competência não só em seu metiê, mas em todos os esportes, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

Quantas vezes, você não ouviu que o Rei Pelé era um alienado político, que nunca lutou contra o racismo e que era apenas um mercenário? Provavelmente, algumas vezes. Esta é uma das maiores falácias, difamação para descaracterizar a excelência de um homem negro proeminente, acima de qualquer branco, indiferente a época.

Pelé foi, é e será o maior símbolo contra o racismo. Ninguém fez tantos brancos baixarem a cabeça e reconhecerem a superioridade do homem negro em uma disputa justa. Qual seria a forma mais nociva que o branco faz crer e querer apresentar a sua pseuda superioridade? Na minha visão, é estabelecer reinos, com reis e rainhas como soberanos. Tentando incutir na mentalidade do público que existem monarcas, que são superiores e supremos.

Em 1968, a Rainha britânica Elizabeth II, ao lado do seu marido, o príncipe Phillipe, veio ao estádio do Maracanã assistir o Rei Pelé. Enquanto, a imprensa não cansa de divulgar a rainha distribuindo “títulos” de lordes, cavalheiros em cerimônias totalmente tradicionais, cujas vestimentas são vestidos longos e fraques, a “alteza” foi recebida por Pelé de shorts e uma camisa da Seleção Paulista. E a “Betinha” parecia uma garotinha perto do seu ídolo ao apresentar, o seu raro sorriso em quase 100 anos de vida.

O nosso Rei, este, sim, um verdadeiro soberano que conquistou a coroa pelo talento foi recebido pelo presidente da nação com o maior poderio financeiro e militar com uma reverência e humildade inexistente até aquele momento. Em 1982, o presidente canastrão dos Estados Unidos, o ex-ator Ronald Reagan se apresentou da seguinte forma a Pelé: “Eu sou Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos. Mas você não precisa se apresentar, porque Pelé todo mundo sabe quem é.”

A inferiorização de um agente contra o racismo como o Pelé, o negro que fez os mais poderosos brancos se renderem a sua magnitude é somente o preconceito. O mesmo que a maioria dos pretos e pretas do Brasil que se destacam em seus ofícios sofrem é a caracterização da diáspora africana em termos “modernos”, já que o branco não pode sequestrar e escravizar, é necessário que ele rebaixe aquele ou aquela que não coaduna com a sua homogenia. O preconceito racial no Brasil, apesar de campanhas publicitárias, de leis mais reativas, continua o mesmo de duzentos anos, apenas se manifesta de outras formas.

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