Assimilar o idioma local e obter capacitação profissional para o mercado de trabalho estão entre os principais desafios vivenciados por migrantes nos países de destino. No Brasil, tal situação não é diferente. Mas para os mais de 1700 migrantes atendidos pelo Instituto Educação Sem Fronteiras só no ano passado, essa barreira pode ser superada com mais facilidade.
Criada em março de 2020, já sob o signo da pandemia de Covid-19, a organização tem sede próxima ao metrô São Bento, no centro de São Paulo. Entre outras ações, ela ajuda na revalidação e equivalência dos estudos de ensino médio dos imigrantes, além de oferecer cursos de português como língua de acolhimento (aos recém-chegados e outros que ainda dão os primeiros passos no idioma) e outras formações de cunho profissionalizante.
“Nosso propósito é ressignificar vidas e criar um novo mundo através da educação no ensino superior e corroborando com o futuro de nossos alunos. Oferecemos um crédito educacional de cem reais por mês para cada aluno inscrito no pré-vestibular, para que ele possa ter um apoio na internet ou outra demanda urgente que pode surgir durante o mês. E nós só temos uma contrapartida: que eles frequentem as aulas e participem desse programa de forma ativa”, resume Adriano Abdo, fundador e diretor-geral do instituto.
Atendimentos
Só no primeiro ano de vida do projeto, foram 270 alunos matriculados nas atividades, com uma taxa de aproveitamento de 80%. Todas as atividades oferecidas pelo instituto são gratuitas. Já em 2022, foram 1782 pessoas impactadas, um aumento de 567%.em relação ao ano anterior.
O projeto atende atualmente pessoas de 59 nacionalidades diferentes. Entre os países de origem, 64,2% são oriundas da Venezuela, seguida por Haiti (9,1%), Afeganistão (3,7%), Angola (3,6%) e Síria (2,5%), com as demais somando 16,9% do total.
Segundo dados da instituição, a maioria dos atendidos possui escolaridade equivalente ao ensino médio completo (37,1%) e ensino superior completo (35,9%), reforçando a necessidade de atuação também em processos de revalidação e equivalência dos estudos já obtidos pelos migrantes. Uma série de mutirões com essa finalidade estão programadas para ocorrer ao longo do ano junto à entidade.
Na última semana, a Educação Sem Fronteiras concluiu uma seleção de 20 imigrantes para bolsas de estudos em cursos de nível superior junto à Estácio, fruto de uma parceria com a instituição de ensino e o Instituto Yduqs.
Atuação além das fronteiras
Inicialmente, a Educação Sem Fronteiras teria as atividades restritas à cidade de São Paulo, mas o trabalho levou a ONG por outro caminho. Além das atividades online permitirem um alcance em nível nacional e até fora do país – foram contabilizadas inscrições até do Haiti em 2021.
Em meados do ano passado, a ONG abriu uma unidade no Recife. Para 2023, os planos são de expandir ainda mais a atuação do projeto, tanto na modalidade presencial quanto remota.
Além da ampliação para outras frentes educacionais e cidades, o Instituto também busca meios financeiros para dar suporte a esses novos passos, por meio de parcerias e doações.
“Até agora, o instituto se mantém com recursos familiares, mas estamos buscando apoio de editais, empresas e pessoas físicas não só para consolidar, mas também para ampliar o nosso alcance, que já possui uma demanda nacional”, explicou Abdo.
No final de 2022, o Educação Sem Fronteiras recebeu da Prefeitura de São Paulo o Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade pelo projeto Travessias, curso preparatório para o ensino superior.
Segundo Abdo, muito mais do que o acesso ao sistema de educação no Brasil, o instituto procura oferecer ao migrante algo bem mais perene.
“Também acreditamos que a formação educacional superior tem um objetivo declaradamente mais alto. Não apenas instruir e preparar os estudantes para o mundo do trabalho, mas preparar os alunos que possam ser autônomos e críticos. E que sejam cidadãos democráticos que ajudam a construir um Brasil mais próspero e justo”.